Uma mala pendurada numa cadeira de um hotel, ao pequeno-almoço, era uma tentação. Tal como uma mochila no chão no aeroporto. E para um trio de carteiristas peruanos era impossível resistir a estas "ofertas"..O grupo chegou a Lisboa em setembro do ano passado, vindo de Madrid (Espanha), e em seis meses terá sido responsável por 20 furtos, que renderam 37 983 euros em valores e dinheiro, segundo a acusação do Ministério Público (MP)..A atuação deste grupo é um exemplo do que se tem passado em Lisboa nos últimos anos: a subida constante do número de turistas - em 2018 visitaram a capital cerca de seis milhões de pessoas - tem levado a um aumento dos carteiristas estrangeiros que atuam na cidade..Segundo os dados mais recentes, há cerca de duas centenas de carteiristas identificados pela PSP, que nos primeiros quatro meses do ano deteve 85 pessoas por este crime. Praticamente todos eram estrangeiros, do Leste da Europa, mas não só. Geralmente ficam em Portugal por períodos de tempo não muito longos..Não será o caso de Jesus Huayta, Carlos Molocho e Haydee Huallpar, três peruanos acusados pelo MP dos crimes de furto qualificado e burla informática. Os dois primeiros estão em prisão preventiva a aguardar julgamento por ter sido considerado que poderiam continuar a atividade ou fugir do país. Já a Haydee, que disse ser empregada de limpeza, foi-lhe aplicada a medida de coação de termo de identidade e residência..Os três terão vindo de Espanha para Portugal com o intuito, frisa o MP na acusação entregue recentemente, de "dedicar-se, em conjunto e com regularidade, à subtração de objetos e valores a clientes de bares, hotéis, restaurantes ou a passageiros do aeroporto internacional de Lisboa que posteriormente tencionavam vender para prover ao seu sustento". Ou seja, segundo a investigação, roubavam para poder comprar comida..De acordo com o Ministério Público, o grupo era liderado por Jesus Huayta, o "elemento mais ativo" e que mantinha "várias parcerias" pela cidade, enquanto percorria "apeado as zonas turísticas de Lisboa e o aeroporto de Lisboa, efetuando furtos nos hotéis, bares e restaurantes". Havia ainda situações em que atuava sozinho. Esta liderança e forma de agir valeu-lhe o maior número de acusações de furto qualificado - 21, nove por furtos em que atuou sozinho, cinco com Haydee Huallpar e sete com Carlos Molocho. Será julgado ainda por dois crimes de burla informática..A forma de atuar deste grupo não era muito diferente do que acontece com os carteiristas que furtam nos transportes públicos ou nas ruas, principalmente da Baixa lisboeta. Neste caso tinham uma particularidade: na maior parte dos casos aproveitavam uma distração dos turistas - entre as vítimas há pessoas de nacionalidade chinesa, escocesa, brasileira, inglesa, norte-americana, espanhola, holandesa e italiana - quando estavam a tomar o pequeno-almoço nos hotéis onde estavam instalados..Segundo as descrições que fazem parte da acusação, os peruanos, sempre em dupla, entrariam nos restaurantes ou cafetarias dos hotéis, analisavam o espaço e um deles criava uma distração e saía do local com a mala ou mochila. Num dos casos, a opção foi deixar "cair um bolo para cima do marido da ofendida e, enquanto este a ajudava, distraindo-se com isso, o arguido Jesus, aproveitando essa distração, agarrou a mala da ofendida", diz a acusação. A mulher ficou sem um iPhone 10, um telemóvel, um par de óculos, uma caneta Mont Blanc, uma carteira com documentos e cartões bancários e 500 euros em dinheiro. Ou seja, no total este furto rendeu 3200 euros..O grupo também atuava no aeroporto de Lisboa aproveitando momentos de distração dos turistas que chegavam a Lisboa ou que se preparavam para deixar Portugal e novamente nos momentos em que estavam nas cafetarias..No total dos 20 furtos - entre 22 de setembro de 2018 e 10 de fevereiro deste ano -, em que as vítimas e imagens dos sistemas de videovigilância identificaram o trio, estes furtaram um total de 37 983 euros - não só dinheiro mas também telemóveis, computadores portáteis, óculos etc..A atividade criminosa do trio acabou a 10 de fevereiro, depois de terem retirado de um saco pertencente a uma turista chinesa uma mala, em que esta tinha valores e dinheiro no total de 530 euros. O furto aconteceu num café na Avenida Almirante Reis e acabaram por ser detidos por elementos da PSP no aeroporto de Lisboa ainda com a bolsa e o dinheiro..Desde esse dia, Jesus Huayta e Carlos Molocho estão em prisão preventiva - e assim vão continuar por as autoridades consideraram que podem prolongar a atividade criminosa ou então deixar o país. Já Haydee Huallpar ficou em liberdade, mas sem ter indicado um local de residência.