Viúva do Nobel chinês Liu Xiaobo escreve carta perturbadora
Os familiares e amigos do Nobel da Paz Liu Xiaobo, que morreu em julho, expressaram esta quinta-feira preocupação com o estado de saúde de Liu Xia, a viúva do dissidente chinês, após a divulgação de uma carta cujo conteúdo foi considerado perturbador, noticiou a Lusa.
Numa carta escrita em forma de poema e endereçada à Nobel da Literatura de 2009, a escritora alemã de ascendência romena Herta Müller, a viúva de Liu Xiaobo disse estar "a ficar louca".
"Estou muito sozinha / Não tenho o direito de falar / De falar alto / A minha vida é como uma planta / Estou deitada como um cadáver", escreveu a poetisa chinesa, segundo excertos citados pelas agências internacionais.
A poetisa, de 56 anos, tem estado sob detenção domiciliária desde que o seu marido recebeu o Nobel da Paz em 2010, uma distinção que provocou a irritação das autoridades chinesas. Liu Xia nunca foi acusada formalmente de qualquer crime.
O intelectual e dissidente chinês exilado na Alemanha Liao Yiwu, amigo do casal, publicou uma imagem da carta na rede social Facebook no passado dia 9 de dezembro.
"Ela está a tomar muitos medicamentos para controlar a depressão", afirmou Liao Yiwu, a partir de Berlim, em declarações via telefone à agência noticiosa francesa France-Presse.
Liao Yiwu assegurou que a viúva de Liu Xiaobo enviou o poema "recentemente", mas sem explicar como a poetisa conseguiu ultrapassar as restrições de segurança. Outro amigo do casal, que recusou identificar-se, mas que vive em Pequim, afirmou que não consegue falar com a poetisa desde agosto.
Os Estados Unidos e a União Europeia apelaram ao governo chinês para que libertasse a viúva do dissidente e que autorizasse Liu Xia a deslocar-se ao estrangeiro.
Liu Xiaobo foi o primeiro chinês a ser distinguido com o Nobel da Paz. Morreu a 13 de julho deste, vítima de cancro do fígado. O dissidente tinha 61 anos e cumpria há mais de oito uma pena de 11 anos por "subversão", Foi libertado condicionalmente no final de maio da prisão, dias depois de lhe ter sido diagnosticado o cancro em fase terminal, e transferido para o hospital.