Carta com ameaças para juiz que acusou Sarkozy
A receção da carta na procuradoria de Bordéus (sudoeste) foi denunciada pelo Sindicato da Magistratura. Vários membros do sindicato foram visados na carta.
"Depois das declarações indignadas, e mesmo injuriosas, de alguns políticos, na sequência da acusação de Nicolas Sarkozy, depois de ter sido questionada a imparcialidade de um dos magistrados [Jean-Michel Gentil], responsável pelo dossier, por Thierry Herzog, advogado de Sarkozy, este magistrado é hoje destinatário de uma carta, na qual foram colocados cartuchos em branco, que faz claras ameaças de morte contra ele, familiares e membros do Sindicato da Magistratura, ao qual pertence", indicou a organização em comunicado.
"O clima tem sido muito violento. Tem que acabar. Os políticos devem entender que há discursos que têm consequências muito fortes sobre os cidadãos. Basta", declarou a presidente do sindicato, Françoise Martre, à rádio France Info.
De acordo com a agência noticiosa francesa AFP, fonte próxima de Gentil precisou que a carta continha "ameaças caracterizadas", que visavam "Gentil e outros magistrados", e foi entregue na procuradoria de Bordéus.
A procuradoria abriu um "inquérito preliminar" e denunciou o caso à polícia, indicou uma outra fonte, segundo a AFP, que não identificou nenhuma das pessoas referidas.
Na carta encontravam-se também "munições de arma de guerra", acrescentaram.
Uma outra fonte explicou à AFP que a carta se dirigia a "Gentil do Sindicato da Magistratura", do qual não faz parte, e acusava-o de ter "ultrapassado o irreparável".
Na missiva, o sindicato é qualificado como um "grupúsculo de juízes vermelhos revolucionários, totalitários, enfurecidos e politicamente comprometidos".
"Está fisicamente bem protegido, mas um dos seus vai desaparecer", afirmou o autor da carta, dirigindo-se ao juiz Gentil.
"Os cartuchos estão vazios, mas aguardam o desenvolvimento das nossas ações", acrescentou, sublinhando que os testes de perícia não vão conseguir encontrar qualquer vestígio que leve ao autor das cartas.
No comunicado, o Sindicato da Magistratura sublinhou que "a violência das reações da 'guarda próxima' do antigo Presidente e a obra de descredibilização da justiça desenvolvida só podem suscitar a incompreensão dos cidadãos, a perda de confiança na instituição judiciária e, finalmente, o insuportável desencadear do ódio contra os magistrados encarregados de fazer justiça".
Na quinta-feira passada, Gentil acusou Sarkozy de abuso de confiança e da debilidade em relação à herdeira do império de cosméticos L'Oreal, Liliane Bettencourt.
Esta decisão levou a reações particularmente violentas da parte de uma grande parte da oposição e, nomeadamente, do antigo conselheiro especial do antigo presidente Henri Guaino.
Gentil decidiu processar Guaino pelas declarações proferidas.