Carros de função

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Quantos carros de função existem em Portugal? Quanto custaram? Quantos cargos têm direito a carros e a motoristas?

Passei horas a ver as recentes tomadas de posse. Na Ajuda, em Belém e em São Bento. Vi dezenas de carros de função. E motoristas. É uma das pragas do Estado português. Quantas pessoas, quantos cargos, de Presidente da República a director ou vogal de qualquer coisa, usufruem deste privilégio de rendimento, de estatuto e de importância?

Com o novo governo, quando ainda não há hábitos, seria recomendável aproveitar o momento e atirar certeiro. Com um rápido inquérito e um critério mais apertado, poder-se-ia poupar milhões e dar o exemplo.

Já se tentou tudo, comprar mais barato ou reparar carros avariados. Até recuperar carros apreendidos a bandidos. Sem resultados. Pouco depois de uma "medida exemplar", logo o número de carros aumenta alegremente. Nunca se pôs realmente em causa o princípio do carro de função para grande parte do pessoal dirigente da política e da administração pública.

O catálogo é enorme: ministros, secretários de Estado, adjuntos e assessores, chefes e secretários de gabinete, consultores e conselheiros, directores-gerais e de serviços, presidentes e vogais de empresas públicas, magistrados, inspectores, presidentes de câmara, vereadores, etc. E há ainda hospitais, universidades, entidades reguladoras, conselhos, comissões, grupos de trabalho e de acompanhamento, grupos de missão e observatórios. O número é quase infinito.

Vivi na Suíça e vi ministros a andar a pé, a guiar os seus carros usados ou a viajar em transportes públicos. Vi, na Suécia, ministros a tomar um táxi. Para não falar da Dinamarca, onde é frequente ver membros do governo a andar de bicicleta.

O governo que, após avaliação séria e rigorosa, elimine alguns milhares de carros de função e respectivos custos de manutenção, garagem, condução e seguro, prestará insigne serviço ao país.

(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)

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