Desde o primeiro estudo, pouco ou nada parece ter mudado. De acordo com a última investigação da Deco Proteste, em 20 amostras de carne picada recolhida em talhos na Grande Lisboa e no Grande Porto, 15 delas chumbaram nos testes de laboratório. A conservação a temperaturas elevadas continua a ser um problema e em muitas destas amostras a Deco diz ter encontrado sulfitos proibidos e um grande número de bactérias prejudiciais à saúde..Apenas quatro das 20 amostras analisadas "são razoáveis e uma boa", pode ler-se num comunicado enviado às redações.E só cinco não continham sulfitos, não permitidos na carne. Aliás, esta só deve conter sal "e em quantidades inferiores a 1%", alerta a entidade de defesa do consumidor..Deve ainda ser conservada a uma temperatura baixa, de preferência a 2ºC, segundo a lei, o que também não está a ser cumprido, afirmam. "O problema é que, com frequência, o equipamento de frio está aberto e é o mesmo para conservar carne comum, definida para um máximo de 7ºC", explica a Deco. Dos 20 talhos analisados, 17 não respeitam as temperaturas limites de conservação. Em alguns destes locais, os termómetros acusaram temperaturas acima dos 9ºC..O responsável pelo estudo frisa que não há desculpa para não seguir a lei. "Em 2013, quando nos confrontámos com os resultados do primeiro teste a carne picada, o problema era desconhecido. E agora? Como se explica o desrespeito pela lei?", aponta Nuno Lima Dias..Além de sulfitos, o resultado das análises mostrou adições de ingredientes de origem vegetal nas amostras dos talhos, o que prova que "o consumidor está a ser enganado ao comprar um produto que já não é só carne picada", lê-se no estudo..Os resultados deste ano mostram-se positivos relativamente a 2017, ano do último estudo, mas ainda assim piores em comparação a 2013. Apesar de a percentagem de pontos de venda com carne conservada a temperaturas acima do estipulado por lei ter diminuído de 100% (2015 e 2017) para 85% (2019), em 2013 situou-se nos 76%. Neste mesmo ano, 6% das amostras recolhidas continham ingredientes de origem vegetal, uma percentagem que sobe para 20% em 2019. Entre um ano e outro, também a presença de sulfitos aumentou de 59% para 75%.."Apesar de todos os alertas e avisos, os resultados, seis anos desde o primeiro teste, continuam a ser maus", sublinha a Deco..Em janeiro de 2017, os mesmo dados da Deco até levaram o PSD a chamar a Deco ao Parlamento, no seguimento de um estudo que apontava a carne picada como perigosa para a saúde pública. Dois meses depois, o diretor-geral de Alimentação e Veterinária rejeitou as conclusões da investigação e disse que "não se pode fazer da alimentação uma psicose ou o apocalipse". Fernando Bernardo acrescentou que os riscos só se dão em situações individuais..No entanto, a Deco recusa-se a desvalorizar o tema. No comunicado enviado esta semana, conclui que "os talhos e os organismos de controlo ainda têm muito trabalho a desenvolver"..E aconselha ainda: numa próxima, "escolha uma peça de carne e mande picar".