Carlos Cruz: 'Nunca entrei na casa desse senhor'

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Temos em nosso poder um relatório de um inquérito feito na Casa Pia em 1982 que menciona o seu nome. O que é que pode dizer sobre isto?

Tenho a dizer que estou perfeitamente inocente, nunca fui a casa desse senhor. De facto em 1984 fui ouvido, diziam que o meu nome aparecia num documento, não me lembro qual era a entidade, se era Tribunal se Judiciária. Inclusivamente pedi para ser acareado com o autor dessas declarações. Mandaram-me embora, nunca me acarearam e eu insisti bastante. Gostava de ser ouvido por essas pessoas. Entretanto, até hoje nunca aconteceu nada e agora aparece esta história que me incomoda, naturalmente. E terei que tomar as atitudes necessárias, nomeadamente irei ao procurador-geral da República para ser ouvido urgentemente.

Preocupa-o ver o seu nome associado a este caso?

Não se brinca assim com a vida das pessoas. E se os miúdos hoje são adultos acho que está na altura de dizerem a verdade, quem é que lhes disse que era eu e porque disseram que era eu. É perfeitamente ridículo, se não fosse dramático nomeadamente para a minha família.Já nem estou preocupado comigo...

Mas é amigo do dr. Jorge Ritto?

Não, espere, mais que isso, uma coisa faz-me muita confusão.Isso é de 1982 e eu nessa altura, desde 1975, tirando a noite das eleições de Sá Carneiro, nunca mais apareci na televisão.Fui para Nova Iorque, depois quando voltei fui director de programas e depois meti licença sem vencimento. Portanto, nessa altura eu não apareci na televisão como locutor. É muito estranho.

A sua cara só aparece mais tarde?

Exacto, volto em 1984 para fazer o «1 2 3». Até lá, estive com licença sem vencimento. Nunca apareci na televisão. Isto é surrealista.

Que confusão pode ter acontecido?

Não sei. Há sete anos que não aparecia na televisão. Não sei que idade teriam esses alunos da Casa Pia ... se eram menores teriam menos de 18 anos. Mas para serem procurados por desaparecimento, penso que seriam mais novos...

Teriam 14, 15 anos. Eram adolescentes.

Tire sete anos e veja como é que uma pessoa que desde os seus 8 anos não me vê na televisão fala no locutor, ainda por cima esta expressão, «locutor de televisão». É muito estranho. Na altura manifestei a minha estranheza e pedi, e continuo a pedir, que seja confrontado com tudo o que a ciência permite para descobrir a verdade. Estou perfeitamente inocente.

E Jorge Ritto, era seu amigo?

Não, é mentira isso. Não sei onde é que vive, onde viveu esse senhor diplomata. Eventualmente teria cruzado com ele em Nova Iorque. Do género «Bom dia! Boa Tarde!» Nunca convivi com ele.Não era amigo. Não me lembro da cara dele. Mesmo quando fui ouvido em 84 não me lembrava. Admito que tenha passado por Nova Iorque, passavam por lá muitos diplomatas. Eu estava lá colocado. Nem um pequeno-almoço, ou jantar.

Quando foi chamado a depor em 1984, fizeram-lhe essa pergunta.Se frequentava a casa de Jorge Ritto?

Sim, sim, exactamente.

Deu a resposta que me deu agora?

Exactamente. O que disse na altura.

Pediu para ser acareado e nunca lhe foi dito nada durante estes 20 anos?

Nunca. Pedi até para me informarem do que se passava. E nada.

Vai pedir actuação das autoridades?

Vou pedir ao Ministério Público para me ouvir. Sou eu que quero prestar declarações. Sei que o processo foi destruído, mas não interessa. Quero ser ouvido outra vez. Acho que o objectivo é apurar-se a verdade e eu quero esclarecer tudo. Que se usem todos os meios disponíveis. Até gostava que quem falou no meu nome fosse ouvido.

Tentou compreender esse engano?

Não sei. Gostava de conhecer as pessoas que fizeram essas afirmações.Que me dissessem olhos nos olhos. Nunca entrei na casa desse senhor. Nunca convivi com esse senhor. Nem sei se é homossexual.Nem nunca tive quaisquer ideias de pedofilia, pelo contrário, sou frontalmente contra. Enoja-me. Até em conversas de amigos tenho algumas penas a recomendar para essas pessoas. E mais, eu estava tão à vontade que ao longo deste tempo todo, ao falar da importância do boato em Portugal, eu dava este exemplo. «Imagina um cidadão como eu metido nesta história». E contava com o desprendimento de quem está inocente.

Sobre si sempre existiram muitos boatos, não é?

Já tive um filho sem braços, já matei a minha mulher, já me suicidei, já me mataram...
 

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