Cannes: O charme da Sintra de Isabelle Huppert a fazer das suas em Cannes
Em Frankie, competição oficial, está Isabelle a fazer de Isabelle Huppert (na verdade, a personagem que interpreta chama-se Frankie, mas em Cannes, a verdadeira, confessou que não sabe se esta atriz de ficção tem talento e que se sentiu aliviada por Ira Sachs não a ter batizado de Isabelle). Não é repetição, nem por sombras. Nesta co-produção franco-portuguesa vemos Isabelle como nunca a vimos, bem como a vila de Sintra e os seus bosques e praias.
O americano Ira Sachs, o cineasta de Homenzinhos, convoca Sintra como personagem principal para nos contar uma história de uma atriz em férias familiares. Férias que são um pretexto para reunir a família em jeito de despedida, há um cancro que a está a matar. Pelo meio, vão ser resolvidos conflitos internos: um filho orgulhoso, um divórcio da enteada e questões práticas de herança.
Trata-se de um filme apaziguado com a vida e morte, uma meditação sobre o que nos no mistério da família. Sachs filma esta ordem coral com uma suavidade que se confunde com simplicidade. Mas Frankie é tudo menos simplicista. Os seus diálogos são escritos com uma sensatez sentimental casta e há uma sensação de "masterclasse" de "souplesse". As personagens estão filmadas com justeza e resta ao espetador segui-las pelos atalhos da serra.
No caso de Marisa Tomei e Isabelle Huppert, chegam inclusive a perderem-se pelo bosque encantado. E aí o argumento brinca claramente com as lendas de Sintra mas também com o caos turístico. Nesse sentido, é uma delícia a personagem do guia turístico, interpretado com decoro e classe por Carloto Cotta, um dos mais internacionais atores portugueses do momento. E, como sempre, no cinema de Ira Sachs, há uma sinceridade delicada nos gestos e cruzamentos da pessoas, aqui mais expressados no romance de final de manhã entre dois adolescentes na Praia das Maçãs, praia que evoca i
Frankie passa-se todo no decorrer de um dia. Quando o sol se põe no topo da Peninha é natural aparecer uma sensação de amargura única. Sinal de que Ira Sachs encontrou em Sintra uma atmosfera nova para o seu cinema. Com ela chega também uma elevação às portas de algo místico. Sintra e a luz do diretor de fotografia Rui Poças têm esse efeito. Em Cannes, para já, as reações estão divididas, mas Frankie é filme para ficar no tempo.