"Esta é uma candidatura feita pelos próprios detentores da tradição", sublinhou Rui Júnior, realçando que a candidatura resulta de um trabalho iniciado em finais de 2015, que ficou "recentemente pronto", e só não foi inscrita na MatrizPCI por "problemas informáticos"..A MatrizPCI é a plataforma de informação e suporte ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, da DGPC, primeira etapa do processo de inscrição das manifestações imateriais, como medida para a sua salvaguarda e valorização..Um passo seguinte será a candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade, que envolve outras entidades, nomeadamente a Comissão Nacional da UNESCO -- Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, na tutela do Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas, destacou Rui Júnior, "nem a inscrição na MatrizPCI, nem a candidatura à UNESCO são objetivos em si".."Não estamos a trabalhar para a UNESCO, nem propositadamente para qualquer plataforma, todavia [tem a sua importância] ao nível da consideração que as entidades oficiais possam ter sobre este processo, que é coletivo e vem dos próprios detentores da tradição, e que o possam validar e valorizar, mas não é um objetivo em si", disse Rui Júnior que coordena a candidatura com Jorge Castro Ribeiro, da Universidade de Aveiro..Em declarações à agência Lusa, Rui Júnior afirmou que este é "um trabalho que tem vindo a ser feito ao longo de quatro anos", que começou a ser pensado em dezembro de 2014 e foi apresentado no I Congresso do Bombo, realizado na Aula Magna da Universidade de Lisboa, em 2015, organizado para se "congregar todas as forças", tendo o desafio da candidatura sido lançado pelo musicólogo Rui Vieira Nery, que esteve também ligado à candidatura do Fado a Património Cultural Imaterial da Humanidade.."Metemos mão à obra, estivemos no terreno, aprofundámos a inventariação", disse Rui Júnior, que referiu o trabalho já feito pela Associação Tocá Rufar, que fundou em 1998..Aliás, no tocante à atividade do bombo, Rui Júnior declarou que "há uma antes da Tocá Rufar e uma depois", caracterizando o período atual, pós criação da associação, como de "democratização" do bombo, que passou a ser "transversal" ao território nacional.."Atividade fundamentalmente de adultos masculinos, o bombo é hoje tocado por homens e mulheres, de todas as idades. Temos na escola da Tocá Rufar cerca de 200 alunos e há orquestras de percussão em todo o país", referiu..Antes de 1998, a atividade do bombo circunscrevia-se, fundamentalmente, às regiões do Douro, Minho, Trás-os-Montes e Beira Baixa, sobretudo a denominada Cova da Beira. .O mais antigo grupo de percussão do país, "Os Mareantes do Rio Douro", tem sede em Vila Nova de Gaia, e data de "finais do século XVIII"..Segundo Rui Júnior, o bombo define-se pela utilização da pele de um animal, a ressonância em madeira, e a corda de sisal, que, entretanto, tem passado para a corda de algodão, como o pinho tem sido substituído pelo contraplacado..A inventariação da atividade do bombo teve em conta as regiões onde ela "é mais ancestral e mais viva", estando "toda a documentação pronta a ser inserida na MatrizPCI", o que não aconteceu no passado fim de semana, conforme o previsto, por impossibilidades técnicas..No passado fim de semana reuniu no Seixal, no distrito de Setúbal, o IV Congresso do Bombo, no âmbito do qual se projetava introduzir oficialmente a candidatura do bombo a Património Cultural Imaterial.."Seria uma forma simbólica, na presença de 25 grupos de bombos, e não foi possível", contou à Lusa..Rui Júnior adiantou que na plataforma MatrizPCI encontram-se projetos com mais de dois anos, que não foram ainda avaliados, para fazerem parte da lista nacional do Património Cultural Imaterial..A DGPC reconheceu que a plataforma tem tido problemas e adiantou que "está já em fase de validação um novo 'site' que estará disponível antes do final do ano, em que serão repostas todas as suas funcionalidades". .A comissão científica da candidatura é presidida pela musicóloga Salwa Castelo-Branco, da Universidade Nova, e constituída também por Jorge Castro Ribeiro e Maria do Rosário Alves Pereira, da Universidade de Aveiro, e ainda, como consultores, Graça Boal Palheiro, da Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto, e o musicólogo Domingos Morais.