"É absolutamente necessário desapertar o torno entre Marine Le Pen e Emmanuel Macron." Esta ideia tem sido repetida por Valérie Pécresse, presidente da região Île-de-France (que inclui Paris), e ontem concretizou a sua contribuição para o alargamento do espaço político entre o centro e a extrema-direita ao anunciar a sua candidatura à presidência. Em entrevista ao Le Figaro, Pécresse declarou-se candidata ao Eliseu para "restaurar o orgulho francês"enquanto mulher: "As mulheres não existem para serem o número dois. Estou pronta para ser a primeira mulher presidente da república", afirmou..Pécresse segue os passos do presidente da região Hauts-de-France Xavier Bertrand. Com uma diferença substancial: Bertrand declarou-se candidato em setembro, antes das eleições regionais, e disse então que a candidatura à presidência dependia do sucesso da reeleição regional. Já Pécresse alimentou a ideia da candidatura sem admiti-la. Até esta quinta-feira..DestaquedestaquePara o investigador Bruno Cautrès, "se Xavier Bertrand e Os Republicanos não chegarem a acordo [candidatura única] o descalabro à direita está assegurado"..O quadro político do centro-direita francês mudou na quarta-feira. Sob a égide do presidente de Os Republicanos (LR) Christian Jacob, do presidente do Senado Gérard Larcher e do presidente da Câmara de Antibes Jean Leonetti, cinco potenciais candidatos do campo do centro-direita reuniram-se e concordaram em participar em eleições primárias..Além de Pécresse, ex-LR e líder do movimento Vamos Ser Livres, estiveram presentes Michel Barnier (ex-comissário europeu e negociador do Brexit), Laurent Wauquiez (presidente da região Auvérnia-Ródano-Alpes), Philippe Juvin (autarca de La Garenne-Colombes e diretor das urgências do hospital Georges Pompidou) e Bruno Retailleau, líder da bancada do LR no Senado, todos estes de Os Republicanos, o partido nascido da UMP. "Cada um dos seus participantes comprometeu-se a respeitar um princípio comum numa abordagem coletiva que permita a união em torno de um único candidato", leu-se num comunicado emitido no final da reunião..A iniciativa acabou por se revelar coxa porque Xavier Bertrand não participou. Também nesse dia, Larcher, Jacob e Leonetti reuniram-se no Senado com Bertrand para tentar convencê-lo a juntar-se ao grupo, mas este, que já havia recusado a ideia de participar em primárias, não mudou de ideias. "Os participantes concordaram que a união é a única forma de ganhar as eleições presidenciais.".No entanto, se houver duas candidaturas, não se vê como. Para o investigador Bruno Cautrès, "se Xavier Bertrand e Os Republicanos não chegarem a um acordo, o descalabro à direita está assegurado". Em entrevista ao Figaro, explica que Bertrand está em posição vantajosa e, como tal, não quer sujeitar-se às regras do partido que também abandonou. "Apesar de tudo o que se pode dizer sobre as sondagens, ele alargou significativamente a sua liderança. Xavier Bertrand tem regularmente uma vantagem de três ou quatro pontos sobre Valérie Pécresse, ou mesmo mais do que os outros candidatos. O seu segundo ponto forte é ter anunciado a sua candidatura antes das eleições regionais (...) e é coerente na sua abordagem às primárias: reiterou várias vezes a sua recusa em participar nelas, o que é aliás coerente com o facto de ter deixado Os Republicanos", comentou..Segundo uma sondagem da Ifop publicada pela LCI publicada no início de julho, Bertrand tem 18% das intenções de voto na primeira volta das presidenciais, contra 14% de Pécresse e 13% de Wauquiez..Nascida no dia de França há 54 anos, Valérie Roux cresceu em Versalhes, numa "família de intelectuais um tanto originais", na qual o seu avô, psiquiatra, teve como paciente Laurence Chirac, filha de Jacques Chirac que padecia de anorexia mental. A sua relação com Chirac foi também fomentada através do marido Jérôme Pécresse, cuja família era próxima do ex-presidente francês. Fã de Dostoiévski e Tolstói, decidiu aos 15 anos aprender russo e foi para Ialta, para um acampamento juvenil comunista. Não satisfeita, começou a aprender japonês, que aperfeiçoou em Tóquio."Sempre segui um caminho diferente dos outros", diz..Descrita como "muito trabalhadora" e "estruturada", Valérie Pécresse foi sempre uma aluna de topo, tendo feito a formação superior na Escola Nacional de Administração, uma porta de entrada para a elite dirigente. Recrutada por Jacques Chirac em 1997 como especialista em novas tecnologias, Valérie Pécresse tornou-se deputada por Yvelines em 2002. Rendeu-se depois a Nicolas Sarkozy, tendo sido ministra do Ensino Superior em 2007 e Orçamento em 2011 nos governos de François Fillon. Na primeira pasta conseguiu levar a cabo a reforma do setor, após longas negociações, dando autonomia às universidades, e na segunda foi a primeira mulher a reger o orçamento. Em 2015 foi eleita presidente da região Île-de-France..cesar.avo@dn.pt