Outubro é o mês internacional da prevenção do cancro da mama e hoje é Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama. Não é de estranhar tantos dias nacionais e mundiais dedicados a chamar a atenção para esta doença e a sua prevenção..Em Portugal, uma em cada onze mulheres terá cancro da mama em algum momento da vida, surgem seis mil novos casos por ano e é a principal causa de morte precoce nas mulheres..Neste ano de pandemia, o número de diagnósticos, e sobretudo de diagnósticos precoces, tão importantes para um melhor prognóstico, é muito inferior ao que seria de esperar, se comparado com o de anos anteriores..Catarina Santos, cirurgiã mamária do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, estima que ronde os 50% a menos desde março, abril, embora sublinhe o carácter empírico e não oficial desta estimativa..É claro para a médica que o atraso no diagnóstico terá impacto no prognóstico, mas no caso do cancro da mama, pelo menos em cerca de 80% dos casos, este é menor do que noutro tipo de cancros, cuja evolução é mais rápida.."A biologia do cancro da mama, pelo menos da maioria, que são cerca de 80%, joga a nosso favor. Três ou quatro meses podem não ter um impacto significativo no avanço de estádio, mas mais do que isso terá. Isto já não é verdade para o cancro de mama triplo negativo, mais agressivo, que representa cerca de 20% dos cancros de mama e para o qual um diagnóstico precoce é absolutamente fundamental", explica a cirurgiã, que tem constatado que nos últimos meses as doentes chegam ao tratamento em estádios mais avançados da doença..Para isto contribui de forma determinante a diminuição do número de rastreios e referenciações por parte dos cuidados de saúde primários, cuja atividade foi reorganizada e reformulada em função da resposta à pandemia de covid-19, com diminuição de consultas e realização de consultas à distância, assim como o medo de contágio, que faz muitas mulheres protelarem as mamografias e ecografias mamárias de rotina.."Idealmente, tínhamos 60% dos diagnósticos feitos por rastreio, que detetavam lesões impercetíveis ao toque e clinicamente. Agora, poucas são as pessoas que fazem os exames de rotina e quem chega são as que veem ou sentem alterações na mama, o que significa que já estão num estádio mais avançado. Estamos a ter muitos casos destes", diz a médica, que sublinha a importância dos rastreios.."O rastreio é fundamental porque deteta precocemente lesões de outra forma impercetíveis. As pessoas não devem deixar de o fazer por medo, porque a mamografia não é um exame invasivo e não implica um risco maior do que qualquer atividade do dia-a-dia, uma vez que tanto o paciente como o técnico estão de máscara, que é a melhor proteção", alerta Catarina Santos..Não deixar de fazer os exames que estão programados e consultar de imediato o médico se tiver algum sintoma - nódulo ou espessamento da mama ou na zona da axila, detetável ao toque; alterações no tamanho ou formato da mama; dor na mama; alterações na mama ou mamilo, visíveis ou ao toque; sensibilidade no mamilo; secreção ou perda de liquido do mamilo; retração do mamilo; pele da mama, mamilo ou aréola gretada ou descamativa, vermelhidão ou inchaço - são os conselhos da médica do IPO no Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama.."Estamos todos muito alerta, nós, médicos, para a importância de não deixar estas doenças por diagnosticar, mesmo nos cuidados de saúde primários. Se nos chegar um alerta ou queixa que possa ser sugestivo de qualquer tipo de cancro, acionamos a resposta. Há uma cada vez maior consciência (em março e abril não havia tanto esta noção) de que um dos efeitos deletérios desta pandemia tem sido as doenças graves não covid que ficam por diagnosticar e tratar. A pandemia não vai desaparecer tão depressa e o resto não pode ficar para trás.".Mama: Manual de Instruções [ed. Lua de Papel] é o título de um livro da cirurgiã norte-americana Kristi Funk (que operou Angelina Jolie e Sheryl Crow) que pretende ser um guia para ajudar mulheres de todas as idades a protegerem-se e a lutarem contra a doença: reduzir o risco, compreender o diagnóstico, fazer as escolhas certas..Contribuir para diminuir a alarmante incidência de cancro da mama foi uma das razões que levaram Kristi Funk a fundar a Pink Lotus Breast Cancer, em Los Angeles, um centro pioneiro para o tratamento e prevenção da doença, "focado em salvar vidas de uma forma que elimina o medo, incute confiança e fornece esperança num momento de pânico"..O livro Mama: Manual de Instruções é essa missão passada a escrito e a sua autora, que já acompanhou dezenas de milhares de mulheres que se debatiam com problemas de saúde mamária, afirma que "temos o poder de reduzir o nosso risco de cancro da mama de formas exequíveis e profundas".."Uns sólidos 50% de todos os cancros da mama podiam ser eliminados do planeta Terra", segundo a cirurgiã, se as mulheres percebessem que as escolhas diárias, como a comida, a bebida, o exercício, o peso, a exposição a toxinas e o estado de espírito criam o ambiente dentro das células das mamas, que ou se mantêm saudáveis ou se tornam malignas..De acordo com a especialista, a mais recente investigação diz que se as mulheres adotarem, antes de atingirem a menopausa, um estilo de vida que dê prioridade ao exercício, se não fumarem, não beberem álcool e tiverem uma alimentação menos virada para a carne e os laticínios e mais à base de alimentos de origem vegetal e produtos integrais, as suas probabilidades de ter cancro da mama são reduzidas para metade..Na verdade, anuncia a autora, as mudanças que sugere no seu livro não servem apenas para a saúde das mamas. "Também geram menos colesterol, melhores triglicéridos, uma pressão arterial perfeita, menos ataques cardíacos, um corpo mais magro, menos diabetes, articulações sem dores, mais energia, melhor sono, melhor humor, melhor vida sexual, uma mente mais perspicaz, menos demência, uma pele melhor, um funcionamento intestinal regular, pulmões mais limpos, menos cancro em todos os órgãos do corpo, um planeta mais saudável e uma vida mais longa.".A anatomia da mama e a importância de fazer a autopalpação uma vez por mês, religiosamente - uma semana depois do período, se for menstruada, uma vez que é quando a mama tem menos altos e está menos flácida, ou no primeiro dia do mês se já não tem menstruação, para estabelecer uma rotina - abrem o "manual", com explicações muito claras e detalhadas [aqui encontra uma demonstração simples de como fazer o autoexame da mama]..A alimentação, que é talvez o maior cavalo de batalha de Kristi Funk, ao contrário do que muitas vezes é veiculado, tem, segundo a especialista, um peso determinante na saúde da mama.."Aquilo que coloca no seu corpo influencia os níveis de estrogénio, a inflamação, a formação de vasos sanguíneos, o funcionamento celular e os destrutivos radicais livres, para falar apenas de alguns processos relacionados com o cancro", afirma a médica, que passa depois à desmontagem de crenças falaciosas: não, os sutiãs não provocam nem estimulam o cancro da mama, não, os antitranspirantes e desodorizantes não são uma das causas da doença, não, os piercings de mamilo não são inimigos da saúde da mama e as tatuagens, embora não seja clara a relação, é aconselhada precaução..Para além da alimentação, há que fazer exercício físico, não adiar demasiado a maternidade, no caso de querer ter filhos, e lidar sabiamente com a menopausa [a autora explica detalhadamente no livro como fazê-lo]..O estilo de vida americano é, segundo Funk, um dos maiores responsáveis pelo aumento do cancro da mama não só no país como no resto do mundo. "Dos nossos hábitos à nossa comida, o nosso peso, a nossa inatividade, a nossa maternidade adiada, as nossas hormonas e todo o nosso estilo de vida. É triste, mas o nosso estilo de vida contagioso infetou o mundo inteiro.".Ironicamente, conclui, o antídoto é voltar aos comportamentos alimentares e estilo de vida que o mundo tinha antes de ter seguido o exemplo dos Estados Unidos.