Campanha Portugal à Frente em Setúbal. O velho, os rapazes e os bovinos

O presidente do PSD pôs ontem o "pezinho" fora de "casa" e saiu à rua, no Barreiro, numa tentativa de mostrar que não receia as "senhoras de cor-de-rosa". E ouviu queixas
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Logo de manhã, com vista para a brilhante água do Tejo, o candidato a primeiro-ministro pela coligação Portugal à Frente garantiu que não tinha "receio" de sair à rua e encontrar de novo uma "senhora de cor-de-rosa".

Respondia assim a uma pergunta dos jornalistas, sobre se era por isso que evitava na campanha as típicas arruadas. "Tenho conversado com todas as pessoas", retorquiu, "mas não posso parar a campanha de cada vez que alguém quer falar comigo". Além disso, acrescentou, "apesar de saber que ainda há pessoas, até que votaram em nós, aborrecidas com esta ou aquela medida que tivemos de tomar, acho que agora é preciso é falar mais sobre o futuro".

Passos Coelho nem precisou de sair à rua para ouvir queixas. Numa visita à Santa Casa da Misericórdia do Barreiro, foi um reformado que aproveitou para se lamentar da sua pensão. Enquanto o senhor, emocionado, se desfazia em lamúrias ("quando preciso de uma camisa é o meu filho que ma compra..."), Passos fugia ao seu olhar, e concentrou-se no recibo da pensão que este lhe tinha entregado e fazia contas em voz alta. "O senhor tem aqui bem descrito o rendimento. Só desconta o valor mais baixo, que é 14%. Não tem qualquer outra dedução. Não tem a sobretaxa de IRS." Quando o reformado não controlou mais a sua emoção - "um homem não merecia isto depois de tantos anos de trabalho" -, o presidente do PSD concordou que as pensões eram "muito baixas". Prometeu que estavam a trabalhar "para que as pessoas no futuro não tenham os mesmos problemas".

Menos dramática foi a curta "arruada" do dia, com Passos a competir com a ministra das Finanças. Ainda assim foi alvo do assédio de muitas senhoras que se aproximaram a pedir o beijinho da praxe. Quase no fim, dois rapazes, o Diogo, de 9 anos, e o Miguel, de 6, fizeram-no parar. Passos baixou-se um pouco e quis saber se aquela "animação" os "assustava". "Sim, um pouco", respondeu, timidamente, Miguel. "Sabes", começou a dizer meigamente o líder da coligação, "na praia também está muita gente e não te assustas, pois não? E olha que aqui é só gente que quer o nosso bem".

Ontem esteve também na agenda a visita a uma unidade agropecuária exportadora de carne bovina, a qual aproveitou a "diplomacia económica" promovida por Paulo Portas no governo para se expandir. "Já embarcaram os bovinos todos para Israel?", perguntou, logo à chegada, o presidente centrista. "Já, sim, a operação foi um sucesso", respondeu o administrador. Falavam da exportação de 4000 cabeças de gado, vivo, para Israel, um contrato de cerca de quatro milhões de euros.

"É muito importante novos destinos como este por causa do embargo à Rússia", explicou Portas.

Durante a visita, que o DN acompanhou em exclusivo, a comitiva bem trajada de batas e de toucas brancas ouviu Passos a falar da importância da China, como mercado de exportação - objetivo também daquela indústria - e de "todo o trabalho" que o seu governo tem "desenvolvido para abrir" aquele potente mercado. "O próximo primeiro-ministro vai coroar tudo o que foi feito", frisou, confessando que teve pena de não ter conseguido visitar aquele país. "Mas as visitas não resolvem os problemas, quando elas se realizam já tudo tem de estar antes tratado. Com a China não pode ser de outra maneira", afiançou.

Portas despediu-se ali e não esteve com Passos na arruada. "Tenho de ir cortar o cabelo e fazer a mala. Há pouco é que me apercebi de que vou estar fora nove dias seguidos", confessou ao DN.

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