Um odor intenso invadiu, no mês passado, os corredores do Parlamento francês. O deputado Richard Ramos distribuiu pedaços de camembert pelas caixas de correio dos colegas. O motivo? Defender aquele que é considerado o queijo favorito dos franceses e cuja autenticidade, acredita o político, pode estar em risco.."Atualmente, quem come um camembert da Normandia com a denominação DOP [de origem protegida] tem a certeza de que está a comer um produto feito com o leite cru das vacas da região. Mas, no futuro, as grandes empresas vão poder usar a mesma etiqueta, só que utilizando leite pasteurizado", explicou o político, crítico gastronómico na televisão, citado pela France Bleu, acrescentando que é o leite cru que faz que o camembert se distinga dos outros queijos..Em causa está um acordo assinado pelo governo que permite que o símbolo DOP seja partilhado, a partir de 2021, tanto pelos pequenos como pelos grandes produtores de camembert, apesar de os métodos de produção serem diferentes. O acordo veio tentar pôr fim a uma disputa de mais de uma década..Durante anos, os pequenos produtores queixaram-se de que o selo "Camembert da Normandia", que a indústria queijeira podia utilizar nas suas embalagens desde que o seu leite fosse de vacas da região, era enganador para os consumidores, uma vez que facilmente se confundia com a etiqueta "Camembert da Normandia DOP", que garantia não só a região, mas também a autenticidade dos métodos de produção do tradicional queijo francês..Para agradar a gregos e a troianos, o acordo alcançado em 2018, que entra em vigor daqui a dois anos, alarga o DOP à indústria queijeira, desde que as empresas se comprometam a ter, pelo menos, 30% de leite cru nos seus queijos. Já os pequenos produtores, que utilizam leite cru na totalidade, serão os que têm direito a colocar na etiqueta o símbolo "autêntico"..Mesmo assim, os mais puristas continuam insatisfeitos com a solução. Algum tempo depois de o acordo ter sido alcançado, uma carta aberta assinada por 40 produtores de queijo, chefs e gastrónomos franceses foi enviada ao Palácio do Eliseu, a pedir a intervenção do presidente Emmanuel Macron, para impedir que o camembert se torne uma "vulgar pasta sem sabor", cedendo a interesses económicos. Desde então, várias ações de protesto e sensibilização, como a do deputado Richard Ramos, têm acontecido em França e os pequenos produtores prometem não desistir, até que o acordo seja revertido..Roquefort é o próximo alvo da indústria queijeira.Só que os puristas do camembert não são os únicos a fazer frente às grandes empresas do queijo. Desde o início de abril que a Lactalis, dona do mundialmente famoso camembert pasteurizado Président, está agora também na mira dos produtores de roquefort. É que a empresa lançou um novo produto, com a marca Société e a indicação "queijo de ovelha azul", que está a revoltar os fabricantes do "Roquefort Société DOP", de origem protegida..A associação do setor veio já denunciar o que considera ser uma fraude, cujo único intuito é confundir os consumidores. Também o eurodeputado francês José Bové utilizou o Twitter para mostrar a sua revolta contra o que considera ser um ataque da indústria queijeira ao "rei dos queijos", sublinhando que este novo produto era um atentado à legislação do DOP..Em resposta, a Lactalis veio dizer que o queijo agora comercializado surge na sequência da queda das vendas do roquefort, e que a empresa entende como um sinal de que os consumidores estão à procura de um queijo mais suave e menos salgado.
Um odor intenso invadiu, no mês passado, os corredores do Parlamento francês. O deputado Richard Ramos distribuiu pedaços de camembert pelas caixas de correio dos colegas. O motivo? Defender aquele que é considerado o queijo favorito dos franceses e cuja autenticidade, acredita o político, pode estar em risco.."Atualmente, quem come um camembert da Normandia com a denominação DOP [de origem protegida] tem a certeza de que está a comer um produto feito com o leite cru das vacas da região. Mas, no futuro, as grandes empresas vão poder usar a mesma etiqueta, só que utilizando leite pasteurizado", explicou o político, crítico gastronómico na televisão, citado pela France Bleu, acrescentando que é o leite cru que faz que o camembert se distinga dos outros queijos..Em causa está um acordo assinado pelo governo que permite que o símbolo DOP seja partilhado, a partir de 2021, tanto pelos pequenos como pelos grandes produtores de camembert, apesar de os métodos de produção serem diferentes. O acordo veio tentar pôr fim a uma disputa de mais de uma década..Durante anos, os pequenos produtores queixaram-se de que o selo "Camembert da Normandia", que a indústria queijeira podia utilizar nas suas embalagens desde que o seu leite fosse de vacas da região, era enganador para os consumidores, uma vez que facilmente se confundia com a etiqueta "Camembert da Normandia DOP", que garantia não só a região, mas também a autenticidade dos métodos de produção do tradicional queijo francês..Para agradar a gregos e a troianos, o acordo alcançado em 2018, que entra em vigor daqui a dois anos, alarga o DOP à indústria queijeira, desde que as empresas se comprometam a ter, pelo menos, 30% de leite cru nos seus queijos. Já os pequenos produtores, que utilizam leite cru na totalidade, serão os que têm direito a colocar na etiqueta o símbolo "autêntico"..Mesmo assim, os mais puristas continuam insatisfeitos com a solução. Algum tempo depois de o acordo ter sido alcançado, uma carta aberta assinada por 40 produtores de queijo, chefs e gastrónomos franceses foi enviada ao Palácio do Eliseu, a pedir a intervenção do presidente Emmanuel Macron, para impedir que o camembert se torne uma "vulgar pasta sem sabor", cedendo a interesses económicos. Desde então, várias ações de protesto e sensibilização, como a do deputado Richard Ramos, têm acontecido em França e os pequenos produtores prometem não desistir, até que o acordo seja revertido..Roquefort é o próximo alvo da indústria queijeira.Só que os puristas do camembert não são os únicos a fazer frente às grandes empresas do queijo. Desde o início de abril que a Lactalis, dona do mundialmente famoso camembert pasteurizado Président, está agora também na mira dos produtores de roquefort. É que a empresa lançou um novo produto, com a marca Société e a indicação "queijo de ovelha azul", que está a revoltar os fabricantes do "Roquefort Société DOP", de origem protegida..A associação do setor veio já denunciar o que considera ser uma fraude, cujo único intuito é confundir os consumidores. Também o eurodeputado francês José Bové utilizou o Twitter para mostrar a sua revolta contra o que considera ser um ataque da indústria queijeira ao "rei dos queijos", sublinhando que este novo produto era um atentado à legislação do DOP..Em resposta, a Lactalis veio dizer que o queijo agora comercializado surge na sequência da queda das vendas do roquefort, e que a empresa entende como um sinal de que os consumidores estão à procura de um queijo mais suave e menos salgado.