Calor. Quando o centro comercial se transforma em refúgio
O calor em Portugal já bate recordes. Hoje estão 11 distritos em alerta vermelho e esperam-se temperaturas máximas entre os 40º e os 45º. Na praça principal do maior centro comercial do país, o Colombo, em Lisboa, há quem aproveite o ar condicionado para fugir à vaga de calor. Nos cadeirões espalhados pelo átrio lê-se o jornal, fazem-se as palavras cruzadas e convive-se.
"Mãe, sais de casa de manhã e vais para o Colombo. Há lá muitos sítios para comeres, para estares e depois vais ao cinema". Este foi o recado que Maria Rosa, de 83 anos, recebeu da filha antes de esta seguir em trabalho para Portalegre. Maria vive no último andar de um prédio em Alvalade e em casa só consegue "estar dentro da banheira com a água fria a correr". "Isto é tudo consequência daquilo que fazemos ao ambiente", lamenta.
Aceitou o conselho da filha. Comprou um livro de passatempos e está confortavelmente sentada em frente à exposição temporária do pintor americano de pop art Roy Lichtenstein. Vai ficar por aqui mais um tempo até lhe apetecer ir ver um filme, que ainda não escolheu.
Uns metros mais à frente está Francisco Rosalino, de 74 anos. Alentejano de gema, apesar de viver em Lisboa há muitos anos, está habituado ao calor. Mesmo assim não se consegue recordar de temperaturas tão elevadas quanto as desta sexta-feira. Aproveita para ler o jornal enquanto espera pela filha mais velha que veio às compras. A filha vive em Vale do Pereiro, Beja, mas na quinta-feira à noite fez as malas e dirigiu-se para a capital para fugir aos 46 graus previstos pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Francisco não tenciona ficar o dia todo no centro comercial, ao contrário de Maria Rosa, mas vai continuar a procurar lugares mais frescos, como este, e munir-se de garrafas de água. Tal como João Marques, que se levanta de um banco, para ir em busca de mais água.
Esta não é a primeira vez que João Marques, de 85 anos, vem até ao centro comercial para fugir das temperaturas. É aliás seu costume sair da "prisão domiciliária", como chama à sua casa, apanhar o autocarro 767 na Damaia e ir ao Colombo para "estar na cavaqueira e ver meninas bonitas passar". No Inverno vai em busca de calor; no verão de fresco.
Maria Rosa, Francisco Rosalino e João Marques tiveram a mesma ideia que muitas outras pessoas que aproveitaram o dia para passear e fazer compras no Colombo por estar mais fresco.
"As pessoas vêm para o centro comercial em dias de muito calor por causa do ar condicionado. Hoje tenho atendido muitos estrangeiros que passam por aqui para se refrescar", conta Teresa Monteiro que trabalha numa loja de relógios e jóias.
A onda de calor vai prolongar-se até segunda-feira, pelo menos. De acordo com as previsões do IPMA, amanhã será o dia mais crítico, com as temperaturas mínimas e as máximas muito elevadas. Beja pode chegar aos 47 graus, Évora e Santarém aos 46 graus.