A Comissão Europeia rejeitou o orçamento de Itália e vai pedir a Roma que reformule o documento orçamental de forma a cumprir com as metas europeias, algo sem precedentes na história do bloco económico. A notícia foi avançada pela Bloomberg. Mas a Comissão Europeia já divulgou o documento que sustenta essa decisão, assinado pelo vice-presidente, Valdis Dombrovskis.."A Comissão solicita a Itália que submeta um plano orçamental revisto o mais cedo possível", indica Valdis Dombrovskis. É dado um prazo máximo de três semanas para que o governo italiano refaça o plano orçamental de forma a incluir medidas que garantam o cumprimento das metas acordadas por Bruxelas..Dombrovskis refere que a Comissão Europeia notou "sérios incumprimentos com a recomendação endereçada a Itália a 13 de julho de 2018". Acrescenta que a proposta de orçamento italiano "não está em linha com os compromissos apresentados por Itália no Programa de Estabilidade em abril de 2018". .A decisão da Comissão Europeia surge um dia depois do ministro da Economia e das Finanças de Itália, Giovanni Tria, ter reafirmado as metas constantes no plano orçamental, que incluem uma subida da despesa estrutural e um défice de 2,4%. No entanto, o governante comprometeu-se a tomar medidas caso o défice ou a dívida se desviassem face ao estimado e prometeu continuar o "diálogo construtivo" com as instituições europeias..O presidente do Eurogrupo também mostrou ontem confiança de que tudo se resolvesse a bem. Mário Centeno referiu, numa entrevista à Reuters, que ficaria surpreendido se um orçamento de um Estado da zona euro fosse uma razão para dramas no bloco económico. "Depois de termos tornado a área do euro uma área económica e monetária resiliente ficaria muito surpreendido que um Orçamento de um Estado pudesse causar um drama dentro da área do euro e que as instituições não conseguissem gerir este evento"..No entanto, o governo italiano tem reiterado que não volta atrás nos planos orçamentais. O executivo liderado por Giuseppe Conte é sustentado por dois partidos eurocéticos, o Movimento 5 Estrelas e a Liga. Os responsáveis desses partidos, Luigi di Maio e Matteo Salvini, têm feito duras críticas à Comissão Europeia. O primeiro tem defendido que a abordagem de Bruxelas levará um "terramoto" anti-austeridade nas eleições europeias do próximo ano.."Isto não muda nada (...) Não vamos voltar atrás. Eles não estão a atacar um governo, mas um povo. É uma coisa que deixa os italianos ainda mais irritados", reagiu Matteo Salvini, de visita à Roménia. .No início do mês, Salvini considerara que "as políticas de austeridade dos últimos anos aumentaram a dívida italiana e empobreceram o país" e que os verdadeiros inimigos da Europa são Jean-Claude Juncker e Pierre Moscovici, o comissário europeu dos assuntos económicos..No Twitter, Moscovici disse que a decisão desta terça-feira, "não deve ser uma surpresa para ninguém, já que o plano orçamental do governo italiano representa um desvio claro e intencional dos compromissos assumidos por Itália em julho último". Ainda assim, o comissário garante que "a porta não está fechada: desejamos continuar o nosso diálogo construtivo com as autoridades italianas"..No mercado secundário, que serve como um barómetro de quanto Itália teria de pagar para se financiar, a taxa a dez anos sobe quase 10 pontos base (o,10 pontos percentuais) para 3,573%. Já a bolsa de Milão desce quase 1%..Ana Laranjeiro e Rui Barroso são jornalistas do Dinheiro Vivo