Bruxelas espera que Bolsonaro "trabalhe para consolidar a democracia"
A Comissão Europeia espera que o presidente eleito no Brasil "trabalhe para consolidar a democracia", afirmou hoje a porta-voz Natasha Bertaud, questionada pelo DN, durante o briefing diário, da instituição com sede em Bruxelas.
"O Brasil é um país democrático, com instituições sólidas e nós esperamos que qualquer futuro presidente do país trabalhe para consolidar a democracia em benefício do povo brasileiro", defendeu a porta-voz, esperando que o "procedimento padrão" de felicitar um presidente eleito "por carta" se mantenha também no caso de Bolsonaro.
"Espero que seja enviada uma carta de felicitações, já que isso é uma prática habitual. Deverá ser enviada pelos dois presidentes, Tusk e Juncker para o presidente eleito. Isso deverá suceder em breve", adiantou.
Questionada sobre se a carta inclui alguma referência ou crítica ao futuro presidente do Brasil, pelo discurso que lhe é conhecido em matéria de direitos humanos, a porta-voz foi evasiva, preferindo "não antecipar juízos de valor sobre o conteúdo de uma carta que ainda não foi assinada".
"Não vou especular sobre o que será o conteúdo [da carta]. Mas, de um modo geral, respeitamos a escolha democrática do povo brasileiro", afirmou, demarcando-se das declarações feitas pelos comissário dos Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici, que esta manhã, numa entrevista ao equivalente francês do Canal Parlamento, a televisão Public Sénat, classificou Bolsonaro como "um populista de extrema-direita".
"Atrás dele, vemos a sombra dos militares que durante muito tempo estiveram no poder no Brasil, constituindo uma ditadura terrível - ele próprio um antigo militar", frisou o comissário francês, identificando uma tendência para as democracias liberais retrocederem.
"É um fenómeno que está talvez ligado a uma forma de cansaço democrático, sobre a qual aqueles que têm a democracia no coração deveriam refletir, de modo a organizar um contra-ataque", disse.
Esta tarde, a porta-voz da Comissão Europeia disse que os comissários "são livres para manifestarem as suas posições", mas demarcado a Comissão de tais afirmações, disse que a posição oficial seria "assinada pelos dois presidentes [Tusk e Juncker]".
Sobre a possibilidade das relações comerciais da União Europeia com o Mercosul poderem arrefecer, dadas as criticas de Bolsonaro àquele espaço comercial da região sul-americana, Natasha Bertaud disse antes esperar que as relações comerciais possam fortalecer-se.
"O Brasil é, obviamente, um parceiro importante nas nossas negociações com o Mercosul e a União Europeia espera continuar a fortalecer a parceria com o novo governo", afirmou a porta-voz. Antes de ser eleito, Bolsonaro tinha prometido rever a parceria do Brasil com o bloco do Mercosul.