O Governo reúne-se esta quarta-feira à tarde para discutir o plano de contingência para o Brexit. Numa reunião marcada na terça-feira à noite, já depois do chumbo no Parlamento britânico da proposta de acordo entre o governo de Londres e a União Europeia. (António Costa ia reunir com os presidentes dos Conselhos de Administração dos 11 hospitais constantes do projeto-piloto de "Autonomia dos Hospitais EPE", mas este encontro foi adiado.).Na nota de agenda enviada às redações, ao final da noite de terça, o gabinete do primeiro-ministro informa que na reunião, que terá lugar na residência oficial de São Bento, para além de António Costa, estarão presentes os ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, das Finanças, Mário Centeno, da Administração Interna, Eduardo Cabrita, e da Economia, Pedro Siza Vieira..No campo dos partidos, Paulo Rangel e Nuno Melo, ambos eurodeputados e, respetivamente, cabeças-de-lista do PSD e do CDS ao Parlamento Europeu, falam quase a uma só voz quando comentam ao DN os cenários possíveis para o futuro próximo do Brexit..Ambos são vigorosos defensores da necessidade de um referendo para os britânicos votarem outra vez se querem ou não o Reino Unido fora da UE - proposta de que os Trabalhistas de Jeremy Corbyn são os principais porta-vozes. O PSD tem atualmente seis eleitos e o CDS um - e em 2014 avançaram para o PE numa lista única.."Criou-se uma grande confusão no Reino Unido, uma grande confusão. É algo que necessita de uma clarificação pelo voto popular. Isso iria introduzir clareza no processo", diz Rangel ao DN, manifestando também convicção de que, no caso desta segunda consulta popular, a vitória acabaria por ser do "sim" à manutenção na UE..Nuno Melo, eurodeputado único do CDS, é mais vigoroso na defesa desta segunda consulta popular. No seu entender, será "trágica" a saída do Reino Unido "para a Europa e para Portugal..Para a Europa porque, sem Reino Unido, "se densificará na UE uma perspetiva continental", ou seja, tenderá a reforçar-se a importância do eixo Paris-Berlim, além de se perder o melhor exército da UE; e para Portugal porque o nosso país "perderá um aliado importante" na UE, e alguém com quem partilha "uma perspetiva estratégica Atlântica" - por oposição à tal visão continental -, para além de "um mercado imenso", de 70 milhões de habitantes..A estes argumentos, o eurodeputado centrista, soma outro, à imagem do que fez Paulo Rangel: "Com um novo referendo a decisão poderia ser outra [oposta à decisão de sair]." E "a União Europeia faz muito mais sentido com o Reino Unido do que sem"..No PS, Margarida Marques, quarta na lista do PS ao Parlamento Europeu - onde os socialistas portugueses têm atualmente oito eurodeputados -, diz que "tudo é possível" menos "fazer previsões", advogando que o melhor mesmo seria os britânicos - com eventuais extensões dos prazos do Brexit - terem uma saída negociada com a UE..Contudo, admitindo que isso não será possível - e todas estas declarações foram feitas ao DN antes das votações de ontem na Casa dos Comuns -, a dirigente socialista admite que um segundo referendo poderia ser o caminho por, potencialmente, apontar para uma reversão da decisão de saída da UE. "Isso seria positivo", afirmou ao DN..À esquerda do PS, o PCP (três eurodeputados eleitos) e o BE (um) recusam categoricamente a ideia de novo referendo. Pela voz de João Ferreira, cabeça-de-lista da CDU, e de José Gusmão (n.º dois da lista do Bloco, encabeçada por Marisa Matias) argumentam com a necessidade de "respeitar" a vontade "livre e soberana" manifestada pelos britânicos quando, em junho de 2016, decidiram que era tempo de o Reino Unido deixar a UE..No caso do BE, Gusmão até recorda que Marisa Matias fez campanha pelo remain ao lado dos Trabalhistas..Para João Ferreira, o que importa agora é que se negoceia uma saída "mutuamente vantajosa" tanto para os britânicos como para a UE - sendo que, no seu entender, "Portugal não deve ficar à espera da UE para fazer essa negociação", ou seja, "deve-a fazer num quadro bilateral" com os britânicos - "o que ainda não fez" - nomeadamente para "acautelar os interesses dos portugueses residentes" naquele país..Segundo o eurodeputado comunista, todas as dificuldades que levam agora a estar-se perante um cenário de saída desordenada devem-se precisamente a "pressões" tanto no Reino Unido como na UE para "reverter" a decisão de saída da UE..Já José Gusmão defende também a necessidade de uma "separação amigável e amigos como dantes" - colocando todo o processo que levou ao referendo do Brexit por conta de uma decisão "lamentável" dos Conservadores britânicos de "combaterem a extrema-direita [do UKIP] com argumentos de extrema-direita".