Brégançon, o Eliseu estival onde Macron recebe May
Com o brexit na agenda, o presidente francês reúne-se com a primeira-ministra britânica. Depois, Macron oferece um jantar a Theresa e ao marido, Philip May, que encurtaram as férias em Itália para este encontro.
A receção na sexta-feira à primeira-ministra britânica Theresa May marca o início de duas semanas de uma presidência em modo mais distendido. Ou pelo menos é esse o objetivo.
Emmanuel Macron troca o Eliseu por 15 dias de férias no forte de Brégançon. Depois de um ano "realmente intenso", o presidente "vai descansar enquanto continua a trabalhar num ambiente calmo", explica uma fonte da sua equipa à AFP.
Em maio, depois de o casal presidencial passar uns dias no forte, soube-se dos planos de construção de uma piscina. A controvérsia rapidamente fez o seu caminho, mas Macron alegou que o investimento de 34 mil euros poupa no futuro em medidas adicionais de segurança com as deslocações à praia.
"Para Emmanuel Macron, um presidente em trabalho está no Eliseu e um presidente de férias está em Brégançon", comenta o jornalista Guillaume Daret, que acaba de publicar um livro sobre o forte e a sua utilização pelos presidentes de França.
A construção militar, de longa história, passou para o Estado com a revolução de 1789, mas foi alugado no século XX e só em 1963 é que os arrendatários desocuparam o forte.
No ano seguinte, Charles de Gaulle, em deslocação para as comemorações do desembarque da Segunda Guerra Mundial, torna-se o primeiro presidente a dormir no forte. A noite ficou também para a história porque a cama era pequena para a altura do general e os mosquitos não lhe deram descanso.
Escusado será dizer que não voltou ao forte com vista privilegiada para outras três ilhas no Mediterrâneo, e situado em Bormes-les-Mimosas, a meio caminho entre Marselha e Nice.
Georges Pompidou, Valéry Giscard D'Estaing e Jacques Chirac foram os presidentes que mais gostaram do espaço.
Pompidou recebeu ali o líder da União Soviética Leonid Brejnev. A mulher, Claude, redecorou o espaço, e o casal ali passava fins de semana, quer de verão quer de inverno.
Giscard D'Estaing passa as férias em Brégançon, onde pratica ténis e vela. É responsável por várias obras de beneficiação. Em 1976 convida o então primeiro-ministro Jacques Chirac e da reunião no forte terá saído o divórcio entre ambos.
Jacques Chirac foi outro adepto do rochedo. O presidente não só era utilizador frequente do forte mas também se deslocava a Bormes-les-Mimosas. A ida à missa fazia parte da sua agenda e o pároco local foi visita no forte.
Outras visitas que ficaram para a história na era Chirac foram as do presidente argelino Abdelaziz Bouteflika ou do governo de Dominique de Villepin, para um fim de semana de trabalho.
De Chirac fica ainda a curiosa história de ter sido fotografado só de binóculos, isto é, sem qualquer peça de roupa, por quatro paparazzi. Estes, no entanto, concordaram em não vender as imagens.
Do seu antecessor, François Mitterrand, diz-se que detestava o local. Não só porque não tinha espaço para os seus passeios a pé, mas também porque preferia o sudoeste de França. Não passou férias no local, mas recebeu o chanceler Helmut Kohl e o primeiro-ministro irlandês Garret FitzGerald.
Ainda assim, Brégançon fica intimamente ligado à sua história. A última conferência de imprensa enquanto chefe de Estado foi ali realizada, em abril de 1995, a um mês do fim das sua funções, com o objetivo de desmentir os rumores sobre o estado de saúde. Acabou por morrer em janeiro do ano seguinte.
Também Nicolas Sarkozy e François Hollande, por outras razões, não gostaram do local. Em 2007, Sarkozy ainda gozava do estado de graça e recebeu um pequeno banho de multidão quando foi correr. Em 2011, já sem Cécilia, mas com uma Carla Bruni grávida, o presidente passa uns dias no forte. No entanto, dão prioridade à casa da família de Bruni, a poucos quilómetros de distância e onde gozavam de mais privacidade.
No que respeita a trabalho presidencial, Sarkozy recebeu a secretária de Estado norte-americana Condoleeza Rice, em 2008, e presidiu a um Conselho de Ministros em 2010.
Por fim, o "presidente normal", como se autodenominou Hollande, passou uns dias de férias em 2012 com Valérie Trierweiler.
No entanto, desabafou que se sentiu "prisioneiro da República", segundo conta o jornalista Guillaume Daret. De tal forma que entregou as chaves do forte ao Centro de Museus Nacionais, para que o público possa visitá-lo.
Ainda assim voltou ao forte, em 2014, para uma reunião de trabalho com o primeiro-ministro Manuel Valls.
Além de helicóptero, a ilhota é acessível apenas por uma estreita passagem artificial e por território luxemburguês. É que em 1949 o pequeno Estado do centro da Europa torna-se dono da propriedade vizinha. A grã-duquesa Carlota, filha da portuguesa Maria Ana de Bragança, é a primeira a usufruir da residência de verão ducal.
Hoje em dia, durante as férias do grão-duque Henri, o acesso à praia é limitado por razões de segurança. Uma medida que não agrada a todos.