Boris quase tão forte como Thatcher, mas problema agora é mais a Escócia do que a UE
Boris Johnson deve ter dado pulos de alegria quando viu as primeiras previsões dos resultados eleitorais: 368 deputados para os conservadores, muito melhor do que conseguiu Theresa May em 2017, melhor mesmo do que conseguiu David Cameron em 2015. Na realidade, a confirmarem-se estes números ou próximos, é a maior vitória dos tories desde 1987, quando Margaret Thatcher conseguiu o seu terceiro mandato.
Não é só o grande resultado dos conservadores que merece realce, uma espécie de prémio a Johnson, que, ao contrário de Cameron e de May, sempre se disse defensor do Brexit e fez destas legislativas uma espécie de segundo referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia. Afinal, tem sido ele o grande campeão da rutura definitiva com os 27, aplicando o decidido por voto popular em junho de 2016. Também é de destacar o péssimo resultado dos trabalhistas - deverão perder uns 60 assentos na Câmara dos Comuns -, e é impossível não apontar responsabilidades a Jeremy Corbyn, um líder que sempre pareceu indeciso na questão do Brexit, mesmo sabendo que a tradição do partido é europeísta.
Que dizer também dos liberais? Serem o único dos grandes partidos a defender sem equívocos o abandono do Brexit mostrou-se um desastre. O eleitorado não terá apreciado que nem um segundo referendo a sua líder, Jo Swinson, achasse necessário.
Johnson até com o insucesso do Partido do Brexit se pode regozijar, ele que sempre ignorou as tentativas de aliança por parte de Nigel Farage.
Agora, na hora de negociar com Bruxelas, o primeiro-ministro britânico terá finalmente uma dose inequívoca de legitimidade. Veremos se isso ajuda a facilitar o divórcio ou se, pelo contrário, o complica.
Mas os pulos de alegria de Johnson podem ser exagerados: há um pormenor dos resultados que o deve preocupar e muito. Os nacionalistas escoceses de Nicola Sturgeon reforçaram a sua representação em Westminster e as pressões para que o governo de Londres autorize novo referendo sobre a independência adivinham-se fortíssimas, dado a grande oposição ao Brexit a norte da Muralha de Adriano. Muito vai ter de fazer o primeiro-ministro britânico para que um divórcio não traga outro, muito mais dramático.