"Estou envergonhado." Boris Johnson assume responsabilidade por "festas" mas recusa demissão

Insistiu que "participou brevemente" nas festas "para agradecer" a funcionários pelo serviço e que não sabia que elas se tinham alongado "mais do que o necessário" e que "entraram em conflito com as regras" dos confinamentos. Boris Johnson admitiu que ficou "chocado com alguns dos comportamentos".
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O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou esta quarta-feira estar "envergonhado" e ter aprendido "a lição", mas recusou demitir-se na sequência de um inquérito a "festas" que violaram as restrições da pandemia covid-19 na residência oficial, em Downing Street.

"Assumo total responsabilidade por tudo o que aconteceu", afirmou, numa declaração no Parlamento, renovando o pedido de desculpas.

Porém, insistiu que "participou brevemente" nas festas "para agradecer" a funcionários pelo serviço e que não sabia que elas se tinham alongado "mais do que o necessário" e que "entraram em conflito com as regras" dos confinamentos.

"Isto não é para mitigar [as circunstâncias]. Eu não tinha conhecimento desses procedimentos subsequentes porque simplesmente não estava lá. E fiquei tão surpreso e desapontado à medida que as revelações surgiram. E, francamente, fiquei chocado com alguns dos comportamentos", garantiu.

"Estou envergonhado e aprendi a lição", vincou, mas argumentou que o país deve "seguir em frente".

As conclusões de um inquérito interno publicadas hoje a 12 eventos concluem que "muitos desses encontros e a maneira como eles se desenrolaram não estavam alinhados com as regras da covid na altura".

"Os eventos que investiguei foram presenciados por líderes do Governo. Muitos desses eventos não deveriam ter acontecido", lê-se no relatório final, produzido pela funcionária pública Sue Gray.

O documento de 37 páginas e ilustrado com fotografias inclui relatos de consumo frequente de bebidas alcoólicas nos escritórios, que resultou em certas ocasiões em pessoas ébrias e mal dispostas e, pelo menos num caso, numa briga.

Gray condenou também "vários exemplos" de comportamento "inaceitável" em relação a trabalhadores de segurança e de limpeza, vítimas de "falta de respeito e mau tratamento".

"Muitos [britânicos] ficarão consternados que um comportamento deste tipo tenha ocorrido nesta escala no seio do Governo. A população tem o direito de esperar os mais altos padrões de comportamento em tais lugares e claramente o que aconteceu ficou muito aquém disso", lê-se no relatório.

Sobre uma possível ação disciplinar, Gray pede que seja levado em consideração que funcionários públicos com menos responsabilidade "participaram de reuniões nas quais os superiores estavam presentes, ou por eles próprios organizados".

"A equipa de liderança superior no centro [dos eventos], tanto política quanto oficial, deve assumir a responsabilidade", enfatiza.

O chamado 'partygate' ensombra o primeiro-ministro britânico há meses, devido às alegações de que Boris Johnson e assessores participaram em "festas" ilegais enquanto milhões de pessoas no país cumpriam as restrições rígidas para tentar evitar a propagação da covid-19 em 2020 e 2021.

A publicação do documento completo, quase seis meses após ter sido pedido, foi atrasada devido à investigação policial ao escândalo pela polícia britânica, que resultou em 126 multas a 83 pessoas.

O primeiro-ministro, a esposa, Carrie, e o ministro das Finanças, Rishi Sunak, foram punidos por terem participado numa festa de aniversário surpresa a Boris Johnson em junho de 2020, fazendo do líder conservador o primeiro chefe de Governo britânico culpado por desrespeitar a lei em funções.

O inquérito interno do Executivo foi entregue à funcionária pública superior Sue Gray, com responsabilidades relacionadas com a ética, por ter reputação de ser "íntegra e honrada" e de ter conduzido "investigações anteriores com rigor e vigor".

O relatório abrangeu 16 "ajuntamentos" de assessores e membros do Executivo em 2020 e 2021 em edifícios governamentais, a maioria em Downing Street, local da residência oficial e gabinete do primeiro-ministro.

O chamado 'partygate' causou uma onda de indignação junto de muitas pessoas que, devido às restrições em vigor, foram impossibilitadas de acompanhar familiares e próximos que morreram ou que estavam doentes ou sozinhos.

Para forçar uma demissão é preciso que 54 deputados apresentem "cartas de desconfiança" no primeiro-ministro para desencadear uma moção de censura, sendo depois necessários 181 votos a favor para desencadear eleições internas no Partido.

Pela frente, Johnson tem ainda um inquérito parlamentar para determinar se mentiu aos deputados quando negou qualquer irregularidade, ofensa que o código de conduta dos ministros determina que resulte em demissão.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, acusou hoje o primeiro-ministro conservador, Boris Johnson, de "falta de liderança" por recusar demitir-se na sequência do escândalo das festas em edifícios governamentais durante a pandemia de covid-19.

"Essa falta de liderança deixou este Governo paralisado no meio de uma crise do aumento de custo de vida. O Governo concentrou-se em salvar a própria pele. É profundamente vergonhoso", afirmou Keir Starmer, no parlamento, após a publicação dos resultados de um inquérito que descreve vários eventos que violaram as restrições da pandemia de covid-19 na residência oficial de Johnson, em Downing Street.

O relatório final de Sue Gray, a alta funcionária do Estado responsável pelo inquérito interno, conclui que "muitos desses encontros e a maneira como eles se desenrolaram não estavam alinhados com as regras da covid-19 na altura" e que "não deveriam ter acontecido".

O documento de 37 páginas e ilustrado com fotografias inclui relatos de consumo frequente de bebidas alcoólicas nos escritórios governamentais, que resultou em certas ocasiões em pessoas ébrias e maldispostas e, em pelo menos num caso, numa briga.

O relatório assinado por Gray condenou também "vários exemplos" de comportamento "inaceitável" em relação a trabalhadores de segurança e de limpeza, vítimas de "falta de respeito e mau tratamento".

"Está na hora de fazer as malas", disse Starmer, após uma declaração de Johnson, na qual este assumiu "plena responsabilidade", mas sem demitir-se, defendendo que o país "deve seguir em frente".

Starmer repetiu a promessa de demitir-se se for multado pela polícia por ter desrespeitado as regras sanitárias impostas em 2021, ao ter jantado com militantes envolvidos numa campanha eleitoral.

"As pessoas precisam de saber que nem todos os políticos são iguais, que se colocam acima do país, que a honestidade, integridade e responsabilidade interessam", afirmou o líder trabalhista e líder da oposição no Reino Unido, exortando os deputados conservadores a forçar a demissão de Johnson e a "restaurar a dignidade" do Governo.

Também o líder parlamentar do Partido Nacional Escocês (SNP), Ian Blackford, acusou Johnson de "envergonhar" o cargo de primeiro-ministro e mostrar "desprezo" por aqueles que cumpriram as regras.

"Credibilidade, verdade, moralidade, tudo importa, e o primeiro-ministro não tem nenhuma", lamentou, reiterando o pedido de demissão.

O líder do Partido Liberal Democrata, Ed Davey, disse, por sua vez, que Johnson "só pediu desculpas porque foi apanhado" e questionou: "Existe alguém com quem ele se preocupe mais do que ele próprio?".

Apesar dos apelos da oposição aos deputados do Partido Conservador para derrubar o líder, apenas Tobias Elwood se levantou para criticar a "falta de liderança e disciplina" em Downing Street e reconhecer que Johnson deve demitir-se.

"Estão dispostos a defender diariamente este comportamento publicamente? Podemos continuar a governar sem distrações tendo em conta a erosão da confiança junto dos britânicos e podemos ganhar as eleições legislativas se continuarmos nesta trajetória?", questionou os colegas.

Para forçar a demissão de Boris Johnson é preciso que 54 dos 359 deputados conservadores apresentem "cartas de desconfiança", para posteriormente desencadear uma moção de censura, sendo depois necessários 181 votos a favor para iniciar eleições internas no partido.

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