O bispo do Porto alerta o Governo para o "desinvestimento excessivo" nalguns setores-chave da sociedade e admite que os enfermeiros "estão a ir longe demais" na greve, apesar de lhes reconhecer justeza, numa entrevista ao jornal Público..Na entrevista conjunta ao Público e à Rádio Renascença (RR), D. Manuel Linda reconhece que os enfermeiros "estão a ser vítimas de alguma injustiça", mas sublinha, a propósito da greve destes profissionais: "Que se chegue a adiar cirurgias urgentíssimas em função do bem individual de cada um, aí já não concordo".."Estou do lado dos enfermeiros no sentido de reconhecer que é preciso pôr cobro a algumas injustiças, mas há formas de greve que vão longe de mais. E aqui, num caso ou noutro, não sei se [se] está a ir longe de mais", afirma o bispo do Porto..D. Manuel Linda diz também que "é meritória a vontade do Governo em sanear as finanças públicas", mas sublinha que há setores que não podem ser prejudicados, dando como exemplo o dos guardas prisionais.."É um custo que a sociedade tem de suportar", afirma o bispo do Porto, que diz que por causa da greve dos guardas prisionais não irá este Natal visitar qualquer prisão, por razões de segurança, a pedido da direção-geral dos serviços prisionais..Na entrevista, D. Manuel Linda afirma que se corre o risco de transformar a governação num ato "fundamentalmente voltado para a economia", com os temas económico-financeiros a terem predominância sobre outros como "a família, a solidariedade e a partilha".."O Estado tem, por intermédio do seu Governo, de ver até onde pode ir nesta capacitação de reduzir as despesas. Mas há despesas que logicamente têm de ser feitas", acrescenta..Questionado sobre o risco de um movimento populista ligado à manifestação ao estilo dos "coletes amarelos" que vai decorrer na sexta-feira em todo o país, o bispo do Porto diz que não vê esta iniciativa como "um risco volumoso", mas como "apenas um sintoma, uma pequena peça de todo um ladrilho que vai sendo construído" e que não se sabe até onde irá..Diz ainda que a "democracia formal baseada na alternância democrática, em propostas mais ou menos conhecidas, porque eram à base de determinados pressupostos ideológicos" parece estar a "chegar ao seu fim".."E não sabemos o que é que aí vem", acrescenta.