O Rali Dakar entra numa nova era. Em 2020 a prova salta da América do Sul para a Arábia Saudita, com 75% do percurso em areia. A 42.ª edição do rali que se fez mítico em África e depois se mudou para a América do Sul, conhece agora, 11 anos depois, nova e polémica paragem. A prova arranca a 5 de janeiro em Jeddah, com uma tirada de 752 quilómetros, 319 deles ao cronómetro. A cerimónia de chegada e pódio será em Al Qiddia, uma cidade a 40 quilómetros de Riade, no dia 17..Ao todo serão 7856 quilómetros, mais de cinco mil deles ao cronómetro. Inscritos estão 13 portugueses, entre motos (seis), carros (quatro), SSV (um), camião (um) e um mecânico. Todos terão pela frente novos desafios culturais devido às restrições em vigor naquele país. A proibição do consumo de álcool ou drogas durante a prova, bem como o aconselhamento aos concorrentes para terem cuidado com determinados comportamentos, como circular com o tronco à mostra ou com calções acima do joelho, são algumas das novidades com que os 572 concorrentes inscritos vão ter de enfrentar..No Guia Prático da Arábia Saudita, emitido pela organização, é explicado que as chamadas whatsapp estão bloqueadas, bem como alguns sites (com conteúdo explícito). O documento de dez páginas desaconselha ainda o usos do transporte público - "não é muito confiável"- para efeitos logísticos e alerta que "as mulheres devem ter os ombros e joelhos cobertos em público". As manifestações de afeto em público são proibidas e é "as roupas das mulheres não devem ser demasiado justas". E apesar de já não ser obrigatório para as mulheres estrangeiras utilizar o vestuário local, é recomendado o uso de um véu em público "para evitar ofender". Restrições que levaram à pouca participação feminina na prova. Apenas 12 mulheres estarão à partida em Jeddah..Para o português Paulo Gonçalves, que enfrenta o Dakar pela 13.ª vez, agora aos comandos de uma mota da equipa indiana Hero, essas restrições não serão problema. "Acabam por ser situações normais. Não se pode beber álcool nem consumir drogas, mas, habitualmente, os pilotos também não o fazem. Além disso, a temperatura média ao longo da prova deve rondar os 25 graus, pelo que não está nenhum exagero e não haverá problemas com o vestuário", acredita o piloto de Esposende..Se em 2009 foram as ameaças terroristas que obrigaram a mais mediática prova de todo-o-terreno a mudar-se de armas e bagagens para o outro lado do Atlântico, as convulsões políticas e sociais que se vivem em países como Chile, Bolívia ou Argentina, levaram a Amaury Sport Organization (ASO) a procurar novas paragens. O Dakar mudou-se para a Arábia Saudita a troco de 13 milhões de euros por cada um dos cinco anos de contrato assinado..O mítico ralo mudou de local, mas não se livrou as polémicas. Uma quinzena de organizações não-governamentais (ONG) criticaram a realização da prova na Arábia Saudita, por corresponder a uma operação de lavagem de imagem (sports-washing, em inglês), através do desporto. Para ONG's como os Repórteres sem Fronteiras (RSF) e o Comité de Proteção de Jornalistas, a Human Rights Watch, a Liga dos Direitos Humanos e a Federação Internacional dos Direitos Humanos, que tem entre os seus membros a Liga Portuguesa dos Direitos Humanos -- Civitas este tipo de eventos pretende escamotear as gravíssimas violações de direitos humanos cometidas pelos dirigentes sauditas..Paulo Fiuza a ajudar o Sr. Dakar.O rumor de fim de ano acabou mesmo por se confirmar. Paulo Fiuza vai participar no Dakar 2020 ao lado do piloto francês Stéphane Peterhansel, com o objetivo de "lutar pela vitória". O navegador português foi o escolhido pelo supercampeão francês depois de o habitual copiloto, a mulher Andrea Mayer, ter chumbado nos exames médicos.."É o sonho de qualquer navegador poder alinhar ao lado do Sr. Dakar, recordista de vitórias na prova [13, entre motos (seis) e automóveis (sete)]. É um grande prazer e um orgulho", disse o copiloto à agência Lusa, admitindo que o objetivo de ambos será "a luta pela vitória". O copiloto de Mafra confessou ao Autosport, que quando foi contactado por Sven Quandt, responsável da X-Raid, não sabia que era para navegar Peterhansel e quando soube perguntou "se era mesmo verdade"..Será a 13.ª participação do navegador português na mais mediática das provas de todo-o-terreno, depois de dez participações na América do Sul e duas em África: "Será um Dakar diferente para todos, num país e numa cultura completamente diferentes.".A navegação portuguesa entra assim no restrito lote de candidatos à vitória final nos carros ao lado de Peterhansel. Aos 54 anos o francês já chegou ao fim em primeiro lugar por 13 vezes, sete nos carros e ainda outros seis nas motos. Já não vence desde 2017 e vai tentar fazê-lo neste ano com o seu Mini. Para as contas do título há ainda que contar com o Mini de Carlos Sainz, que venceu em 2018 e os dois Toyotas (Al-Attiyah e De Villiers). E sem esquecer Nani Roma, Jakub Przygonski, Martin Prokop, Orlando Terranova, Romain Dumas ou o anfitrião Yazeed Al-Rajhi..Fiuza não é o único navegador português em prova. Filipe Palmeiro, que, inicialmente, escalado para acompanhar o piloto chileno Boris Garafulic (Mini), vai afinal correr o Dakar com o lituano Benediktas Vanagas (Toyota). Já Manuel Porém navegará o irmão Ricardo na estreia nesta categoria com um Borgward oficial (dorsal 332), fazendo equipa com o espanhol Nani Roma..Já Pedro Bianchi Prata alinha como navegador do piloto de ralis do Zimbabwe Conrad Rautenbach (PH Sport) na categoria SSV (número 404), enquanto José Martins alinha com um DAF nos camiões (548). Já Bruno Sousa foi incorporado na equipa do alemão Mathias Behringer, como mecânico num MAN da South Racing..Portugueses vão lutar pela vitória nas motos.Paulo Gonçalves (Hero) volta a ser o cabeça-de-cartaz da armada portuguesa nas motos. O piloto de Esposende, segundo classificado em 2015, deixou a Honda depois do Dakar e agora, com o dorsal 8, faz equipa com o cunhado Joaquim Rodrigues Jr., que terá o dorsal 27..Mário Patrão mantém-se na equipa da KTM, com o número 31, enquanto o luso-germânico Sebastian Bühler (KTM) é o 32. Os dois portugueses fazem parte da equipa vencedora nas últimas 18(!) edições, que neste ano vai tentar abraçar a 19.ª vitória e conta com os ex-vencedores Toby Price (2019, 2016), Matthias Walkner (2018) e Sam Sunderland (2017)..Fausto Mota, há vários anos radicado em Espanha, corre com o 38, com uma Husqvarna, enquanto António Maio leva o 53 na sua Yamaha..Destaque ainda para a participação de Ruben Faria. O antigo motard é agora diretor-geral na equipa Monster Energy Honda (HRC), que pretende dar luta à KTM, e vai comandar alguns dos principais candidatos à vitórias nas motos, casos de Joan Barreda Bort, Kevin Benavides, Ricky Brabec e ainda José Ignacio Cornejo e Aaron Mare..Alonso. Da Fórmula 1 para o Rali Dakar.Nos carros os olhos estarão quase todos postos na estreia de Fernando Alonso, o piloto que fez uma pausa na Fórmula 1 para preparar a participação na mítica prova de todo-o-terreno. O bicampeão de F1 e atual campeão do Campeonato Mundial de Resistência da FIA com a Toyota, e vencedor das 24 Horas de Daytona, vai fazer a sua estreia no Dakar. A Toyota aposta forte na participação do espanhol, que terá como navegador a lenda Marc Coma, que venceu por cinco vezes o Dakar na categoria de motos..A dupla espanhola começou a preparar-se em agosto, com treinos em condições e terrenos mais difíceis na Europa, África e Médio Oriente. O objetivo é lutar pelos lugares da frente, mas sem pretensões de vencer. "O Dakar é a prova mais dura que conheço e está muito longe da Fórmula. A técnica de pilotagem é totalmente diferente. Quero aproveitar a experiência ao máximo, mas não estou preparado para vencer o Dakar", sublinhou Alonso, "ciente da falta de experiência" e com a ambição de "alcançar uma boa posição"..Desde que se soube que ia correr o mítico rali, o piloto espanhol foi sendo confrontado com as possibilidades de vencer a prova, mas revelou sempre ter os pés assentes na terra. "Até Sébastien Loeb, o melhor piloto de ralis da história, não conseguiu ganhar. Imagina eu, que venho do asfalto", atirou em entrevista à TVE, deixando antever que será uma experiência sem exemplo. "Vai ser um rali único, uma experiência única. Não tenho em mente voltar ao Dakar a cada ano. O objetivo é encarar o rali como uma experiência enriquecedora para nós. Encaramos com um bom espírito e tomara que, pelo menos em alguma etapa, possamos ser competitivos. Esse seria o segundo objetivo", destacou..Alonso é o 20.º piloto de Fórmula 1 a tentar a sua sorte no rali e pode inspirar-se em Jacky Ickx, um dos que trocou as pistas da prova rainha do automobilismo pelo Dakar e venceu a prova em 1983, tendo ainda ficado em segundo lugar em 1986 e 1989. Também Patrick Tambay participou no mítico rali depois das pistas do Circor, ficando em terceiro lugar em 1988 e 1989. O espanhol será um dos quatro pilotos da Toyota que têm aspirações à vitória final, além de Nasser Al-Attiyah, que venceu a prova em 2019, Giniel de Villiers (venceu em 2009) e Bernhard Ten Brinke. Al Attiyah vai tentar defender o título conquistado na última edição da prova para aumentar o seu impressionante palmarés, que inclui várias Taças do Mundo da FIA de Cross Country e vitórias no Dakar..Uso do telemóvel proibido e pilotos vigiados por câmaras.A organização anunciou uma prova menos exigente fisicamente, mas mais difícil em termos de navegação. É que neste ano o uso do telemóvel para ajudar na geolocalização vai estar mais controlado. A utilização dos telefones móveis está proibida. "Vamos estar muito mais atentos ao uso do telemóvel que passa a estar numa caixa especial, atrás dos pilotos e que vamos fiscalizar no início e final de cada especial", explicou David Castera, novo diretor da prova, ao jornal espanhol Marca..O uso do telemóvel não estava proibido, mas, segundo o regulamento, o aparelho não podia estar ao alcance dos pilotos nem estar dotado de dispositivos de geolocalização. E, para garantir que eles não são usados, a organização decidiu instalar câmaras de 360.º para controlar o interior dos veículos: "Vamos instalar estas novas câmaras nos primeiros 25 da classificação de cada dia para ver o que acontece no interior das viaturas." O objetivo é impedir o uso de qualquer tipo de dispositivo GPS que permita aos pilotos obter vantagens na navegação para ter "uma corrida limpa", segundo Castera..Outra das novas regras do Dakar é a entrega dos road books um pouco antes da partida para a especial. Esta é um das medidas que a organização encontrou para reduzir distâncias entre os pilotos profissionais e os amadores. Desta forma pretende-se evitar que as equipas com mais recursos transformem os road books num mapa de satélite e dessa forma analisem os pontos de maior dificuldade e informem os pilotos e navegadores dos locais de maior complexidade de navegação.