Beyonce vs Adele: Choque de titãs na noite dos Grammys

Separadas à nascença? Nem por isso: é mais o que afasta a criadora de Formation da cantora de Hello do que aquilo que as une. Aí contam as vendas e a bênção da maternidade
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Quando Adele Laurie Blue Atkins debutou no terreno dos álbuns, estreando-se em nome próprio com 19 e obrigando o mundo dos melómanos a parar para ouvir a voz poderosa de Chasing Pavements e Cold Shoulder, já Beyoncé Giselle Knowles-Carter se dava ao luxo de criar personagens para "falar" mais à vontade, digamos assim. Coube ao ano de 2008 registar o primeiro "confronto" direto entre a recém-chegada inglesa, nascida em Tottenham, Londres, e a já experiente norte-americana, nativa de Houston, Texas - se Adele era a novidade, a surpresa, Beyoncé chegava ao terceiro disco a solo, I Am... Sasha Fierce, juntando aos dois anteriores um percurso sem faltas no grupo Destiny"s Child. Agora, embora 25, o terceiro andamento da britânica, tenha sido lançado em novembro de 2015, e Lemonade, o sexto da texana, fosse publicado em abril de 2016, a indústria discográfica, que volta a manifestar-se através dos prémios Grammys, arranjou maneira de as colocar frente a frente de uma forma mais explícita do que nunca - vão disputar cara a cara quatro dos principais troféus, a saber Canção (Hello para Adele, Formation para Beyoncé), Álbum (títulos já referidos), Disco (com os mesmos títulos da categoria Canção) e Performance a Solo (outra vez Hello para Adele, Hold Up para Beyoncé). E não há exagero se se disser que uma das grandes expectativas da noite de todos os prémios mora na possibilidade de haver uma tendência clara, que permita falar em vencedora e vencida, ou se, pelo contrário, irá ver-se aplicada uma "justiça salomónica" entre as duas colossais criaturas.

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Ninguém acredita verdadeiramente que uma e outra saiam da cerimónia sem acrescentar algo aos seus impressionantes currículos: Beyoncé, com mais tempo e maior continuidade na "prestação de provas", já alcançou as duas dezenas de Grammys; Adele, com apenas três álbuns (e um hiato considerável entre os discos 21 e 25), tem pouco menos de metade (nove). Esta diferença também resulta da diferença de idades, uma vez que Beyoncé nasceu a 4 de setembro de 1981, face à data festiva de Adele, 5 de maio de 1988, tendo ainda por cima declarado mais cedo o início de atividade - tinha 17 anos quando foi lançado o disco que revelou as Destiny"s Child. Adele, como fica indicado pelo título do disco, estreou-se aos 19. Acresce o facto de a inglesa ter gozado um longo período sabático entre os dois álbuns mais recentes, registando, entre 2011 e 2015, apenas uma nova entrada, com a canção de um dos filmes de James Bond, Skyfall.

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Maternidade e estabilidade

Bem distinta é, de resto, a experiência de ambas na ligação ao cinema. Ainda antes de se lançar como solista, já Beyoncé marcava presença como atriz, começando por um telefilme, Carmen: A Hip Hopera (adaptação livre da ópera Carmen, de Bizet), seguido por participações destacadas no segundo Austin Powers e em O Menino de Coro, ao lado de Cuba Gooding Jr. Seguir-se-iam A Pantera Cor-de-Rosa, Dreamgirls (que lhe valeu a nomeação para um Globo de Ouro, enquanto o Óscar de atriz secundária acabaria por ir parar às mãos da sua parceira Jennifer Hudson), Cadillac Records (em que desempenhou o papel de Etta James) e Obsessão. Já Adele revelou-se mais certeira: o tema de Skyfall acabou por lhe render o Óscar para a melhor canção. Este panorama não se altera substancialmente se pensarmos nos videoclips, muito mais imaginativos e variados do lado da americana, uma vez que o visual de Adele não sofre alterações substanciais. Dirão alguns que essa continuidade decorre do próprio estilo musical, mais constante na britânica, mais alternado (às vezes quase alternativo) em Beyoncé. Não nos esqueçamos, porém, de outra fronteira de abismo: Adele chegou a fazer concertos sentada, garantindo as más-línguas que isso se prendia também com problemas de peso. Certo é que ninguém consegue imaginar Beyoncé sem a ver aos pulos e aos saltos, acompanhando de perto os ritmos das suas canções, sempre coreografadas a preceito.

Há um domínio em que se aproximam uma da outra: conseguiram alcançar aquilo que parece ser uma preciosa estabilidade nas respetivas relações. Adele deixou que se referisse publicamente a sua ligação com Simon Konecki, um homem ligado à filantropia e à solidariedade. Dessa relação nasceu o filho do casal, Angelo James, a 19 de outubro de 2012. Curiosamente, Beyoncé tinha tomado a dianteira nesse capítulo da maternidade cerca de nove meses e meio antes: a sua filha, Blue Ivy, nasceu a 7 de janeiro de 2012. Quatro anos antes, a 4 de abril de 2008, a cantora protagonizara um casamento de sonho para os amantes da música, ao unir-se pelo matrimónio a Jay-Z, considerado um dos maiores compositores e produtores da música negra da atualidade. E, mesmo com alguns sobressaltos pelo meio, alguns deles alegadamente passados a canções, a relação mantém-se. De resto, tem sido notícia recente - já confirmada por fotografias da iniciativa da "visada" - uma nova gravidez de Beyoncé, supostamente de gémeos.

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Outro aspeto que parece unir estas duas figuras - já agora: Adele tem 1,75 metros, contra apenas 1,69 de Beyoncé, embora não pareça - é o do feminismo. A voz de Rolling in the Deep e Turning Tables disse-o aberta e repetidamente, até em sessões de apoio ao Partido Trabalhista britânico. Quanto a Beyoncé, basta acompanhar os textos de canções como If I Were a Boy ou Hold Up para ficar assente que também não é de se calar perante as desigualdades de comportamento entre homens e mulheres. Há mais: ambas são assíduas participantes em campanhas cívicas e de solidariedade. Adele integrou iniciativas a favor de crianças desprotegidas, do fim da discriminação dos homossexuais e lésbicas, dos músicos reformados. Beyoncé esteve ligada ao apoio às vítimas do furacão Katrina, que arrasou a região de New Orleans, e à fundação lançada por George Clooney e Wyclef Jean para socorro aos haitianos, na sequência do terramoto de 2010.

Só falta mesmo dizer que, em mais de uma ocasião, já ambas manifestaram admiração mútua. O que não surpreende, apesar do universo - sobretudo estético - que as separa. Ainda assim, neste choque frontal é impossível dizer quem levará a melhor ou se será averbado um empate. Os cem milhões de discos vendidos por cada uma delas recomendam a prudência - prognósticos, só no fim da noite.

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