Bento XVI quer o seu nome retirado de livro que defende celibato
O Papa Emérito pediu para que o seu nome fosse retirado do livro "escrito a quatro mãos" com o Cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino, e uma obra que aborda o sacerdócio e o celibato, defendendo que os padres continuem solteiros, numa altura em que o Papa Francisco terá de decidir sobre o tema.
Segundo a ACI Prensa, Des profondeurs de nos cœurs ( "Das profundezas dos nossos corações") será publicado a 15 de janeiro pela editora Fayard.
Na obra, Bento XVI considera que "o celibato tem uma grande importância ao abandonar um possível domínio terreno e um círculo de vida familiar (...)", numa posição que choca claramente com a decisão que Francisco terá de tomar sobre a proposta de ordenar homens casados feita no Sínodo na Amazónia.
De acordo com a AFP, o pedido de retirada da sua assinatura da obra foi confirmada pelo monsenhor Georg Gaenswein, prefeito da Casa Pontifícia, à agência Ansa, esta terça-feira.
"Confirmo que nesta manhã, seguindo o conselho do papa Emérito, pedi ao cardeal Robert Sarah que contactasse os editores do livro para pedir que removessem o nome de Bento XVI como coautor do livro e [para que] também removessem a assinatura da introdução e das conclusões ", disse o religioso, secretário particular de Bneto XVI durante os oito anos do seu pontificado.
A polémica no Vaticano surgiu no domingo, quando foi anunciado um novo livro assinado por Bento XVI e Sarah - um dos principais líderes da ala conservadora que critica as posições do papa Francisco -, no qual o celibato é defendido, perante a decisão que terá que tomar o papa argentino sobre a proposta de ordenar homens casados feita no Sínodo na Amazónia.
Trechos do livro foram publicados no domingo no 'site' do jornal francês Le Fígaro.
Esta segunda-feira, fonte próxima do Papa emérito, que não se quis identificar, disse à imprensa que Bento XVI não terá escrito o livro "a quatro mãos" e que se trata de uma operação editorial mediática a que este é totalmente alheio.
A mesma fonte não identificada explicou que o papa emérito "apenas disponibilizou a Sarah um texto sobre o sacerdócio que estava a escrever" e que "não sabia nada sobre a capa de um livro, nem o aprovara".
O volume, publicado em francês, chegará às livrarias esta semana, enquanto o Papa encerra a sua exortação apostólica após o Sínodo da Amazónia, que para muitos é um movimento para pressionar Francisco.
Assim, surgiram novamente acusações de que Ratzinger, 92 anos, que há anos se limita a breves aparições gravadas ou fotografadas por um jornalista ou amigo que o visitou, nas quais quase nunca faz declarações e se percebe que fala com grande dificuldade, pode estar a ser manipulado pela área mais conservadora da Igreja.
Os media oficiais do Vaticano limitaram-se a garantir que no livro "os autores expõem as suas intervenções no debate sobre o celibato e a possibilidade de ordenar homens casados" e que Ratzinger e Sarah se definem como dois bispos que mantêm "obediência ao Papa Francisco", de acordo com um artigo do diretor editorial Andrea Tornielli.
O guineense Robert Sarah recorreu às redes sociais para defender que não mentiu quando conferiu a co-autoria do seu livro a Ratzinger. Através do Twitter, divulgou três cartas enviadas por Bento XVI e em que se lê que o Papa emérito aprovou a publicação do seu contributo.
No tweet, Sarah diz: "Ataques parecem insinuar uma mentira da minha parte. Essas difamações são de excecional gravidade. Esta noite, dou as primeiras provas da minha estreita colaboração com Bento XVI para escrever este texto a favor do celibato. Falarei novamente, se for necessário".
Esta terça-feira. novamente pelo Twitter, divulgou um comunicado, em que se defende. "A controvérsia que há várias horas visa sujar-me ao insinuar que Bento XVI não foi informado da publicação do livro é profundamente abjeta. Sinceramente, perdoo todos aqueles que me caluniam ou que querem opor-me ao Papa Francisco. A minha relação com Bento XVI permanece intacta e a minha obediência filial ao papa Francisco é absoluta", escreveu,