É o primeiro papel de protagonista no cinema português da atriz Benedita Pereira. O filme chama-se Quero-te Tanto e é realizado por Vicente Alves do Ó, nesta semana com estreia bem mediática em todo o país. Uma história de um casal apaixonado posto na prisão pela justiça portuguesa depois de assaltar a caixa-forte das raspadinhas. Após uma experiência nos EUA e do brilharete na série Versailles, Benny, como é conhecida no meio, mostra os seus dotes no humor nonsense..Estamos numa altura em que todas as semanas chegam às salas filmes portugueses, mas poucos - talvez com a exceção de Snu - têm feito números de espectadores razoáveis. Acredita que esta comédia pode funcionar? As pessoas vão ter de se habituar. Este ano é uma exceção, antes não havia tanto cinema português. A grande questão é que cada filme tem de ser muito bem promovido..E isso passa por os atores aparecerem, darem entrevistas... Há pouco, antes de ligar aqui o gravador, foi reconhecida e desejaram-lhe boa sorte para a estreia de Quero-te Tanto... Isso é raro! Agora, como estive fora, as pessoas dizem-me que tinham achado que tinha desaparecido, mesmo tendo feito séries e outros trabalhos - como não é novela acham que já não sou atriz..Mas comédias como Ladrões de Tuta e Meia e Portugal não Está à Venda tinham atores conhecidos e foram ignorados pelo público pagante... Pois, os outros não vi. Este filme fez-me rir à gargalhada! Além disso, tem uma bela estética e uma história romântica que pode apelar um pouco ao sentimento. Acho que pode agradar a gregos e a troianos. Acima de tudo, é um filme para rir, cheio de nonsense e muita coisa parva e disparatada, embora o disparate faça parte... Comigo funciona, mas o humor é uma coisa muito específica..Acredita que os portugueses têm um bom sentido de humor? Têm. Cada país tem o seu sentido de humor. Por exemplo, sou fã das comédias francesas..Mas será o lado do reconhecimento das vossas caras das novelas que poderá funcionar para o público? Acho que sim. Só temos é de aproveitar se as pessoas têm curiosidade em nos ver. Mas este filme é uma mistura de pessoas. Tem muita gente da TVI mas também tem atores que não fazem televisão e isso é muito giro. O cast está muito bem feito e não foram escolhidos só porque são conhecidos da televisão. Todos se encaixam bem nas personagens. O que é bom é que se as pessoas gostarem de Quero-te Tanto talvez depois sintam vontade de ir ver a próxima estreia portuguesa. Temos de acabar com o tabu com o cinema português..A dada altura, a Benedita saiu de Portugal e foi estudar interpretação em Nova Iorque, mas ao mesmo tempo foi fazendo cinema lá fora. Cinema e séries... Acima de tudo, fui procurar e quis ter um percurso que não fosse sempre a mesma coisa e aí tive sorte. Não é nada fácil: às vezes temos de rejeitar certas coisas... Quero mesmo fazer coisas diferentes, trabalhar com outras pessoas..Entretanto, voltou e já está também a gravar uma telenovela para a TVI... Tenho o filme e a novela. Tudo de uma vez! E esta é a primeira vez em que sou protagonista de um filme, só tinha antes feito participações em filmes nos EUA. Para mim, é como cumprir um sonho..Mas não fica com aquela sensação de que já deveria ter sido convidada antes? Não, nada! Nunca estive ressabiada, apenas com muita vontade de fazer. Antes, não havia assim tanto cinema português nem tantos papéis de mulheres protagonistas. Nunca vi assim nenhum filme em que pensasse que aquele é que era o papel para mim. Fiquei muito contente que esta minha estreia seja num filme do Vincent Alves do Ó, gosto do trabalho dele..Foi uma boa lufada para o seu ego ter sido escolhida para a série televisiva Versailles?Foi incrível porque era fã da série. De repente, era como se estivesse a entrar para dentro da televisão. Tratou-se de uma grande experiência! Versailles é a série mais cara de sempre feita em França e trabalhar com toda aquela gente vinda dos sete cantos do mundo também acabou por ser uma felicidade..Logo a seguir, experimentou o thriller americano com Ascension, inédito em Portugal. Aconteceu. Ganhei o casting e pronto. É tipo thriller indie e aí o orçamento era diferente, muito mais pequenino. Pequenino mas cheio de condições. Gosto mesmo de trabalhar com pessoas diferentes..Depois, há ainda quem se lembre de si em Morangos com Açúcar... Acredito que deva sentir que isso foi numa outra vida. Consegue colocar-se de fora e ver a sua própria evolução? Foi há 16 anos. Eu era uma miúda mesmo atirada para os leões! Graças ao YouTube deparo-me com essas imagens e digo "ainda bem que evolu´i". É bom olharmos para o passado, caso contrário não evoluímos. Sinto que agora trabalho de um modo diferente, mas não é consciente.....Em Portugal, o seu percurso tem sido sobretudo ligado à ficção televisiva. Sente que há um rótulo de "ator TVI"? Sim, talvez. Curiosamente, quando este Quero-te Tanto apareceu não estava ligada à TVI. Agora voltei a ser e até dá jeito, o filme aparece como uma apresentação da TVI. Seja como for, isso dos rótulos não é nada fixe para os atores. Ainda assim, verdade seja dita, escolho os trabalhos pelas personagens..Estudou em Nova Iorque na lendária Escola Lee Strasberg. A sua experiência correspondeu ao lado mitológico que essa escola de atores convoca? Eu gostei muito e tive a sorte de me juntar a um grupo incrível. Mas a escola é sobretudo muito internacional, os americanos não vão muito para lá. É uma escola com muita fama internacional e continua a ter muito o peso do passado. Adorei estar lá mas com o tempo percebi que o Method Acting quadrado não é para mim. Preferi depois ir estudar com uma professora russa..Da sua passagem pelos EUA, aperfeiçoou vários tipos de sotaque inglês. Podemos então um dia vê-la como protagonista de um filme de Hollywood? Espero que sim. Esta coisa de nos castings podermos enviar as nossas self-tapes [gravações para casting] resulta mesmo. Foi assim que consegui o Versailles. É muito fixe toda esta possibilidade de poder estar em vários mercados diferentes. Além disso, isso dos sotaques fascina-me. Quando encontro o sotaque certo, metade da personagem já está conquistada..E a Benedita acaba por passar das condições de trabalho duras na ficção portuguesa televisiva para o ritmo dos EUA... Tenho a teoria de que esse é o segredo de os nossos atores lá fora fazerem um brilharete! Temos uma estaleca descomunal tal é o ritmo de cenas que aqui rodamos por dia. Nos EUA pedem muitas vezes audições de oito páginas para o dia seguinte. Ora nós com este nosso ritmo já estamos um pouco mais à frente.