Begoña Urroz tinha 20 meses quando morreu na explosão de uma mala armadilhada na estação de comboios de Amara, em San Sebastian, no País Basco, a 27 de junho de 1960. Apesar de na altura o atentado ter sido reivindicado pelo Diretório Revolucionário Ibérico de Libertação (DRIL), durante anos a sua morte acabaria por ser atribuída aos bascos da ETA..Begoña ficou conhecida como "a primeira vítima da ETA", tendo a data da sua morte sido aprovada em 2010, pelo Congresso espanhol, como o Dia de Homenagem às Vítimas de Terrorismo..Mas, na realidade, os responsáveis pela sua morte foram membros do grupo armado luso-espanhol, composto por militantes anti-salazaristas e anti-franquistas, mais conhecidos em Portugal pelo assalto ao paquete Santa Maria em janeiro e fevereiro de 1961..O El País escreve esta quarta-feira sobre um "documento policial inédito que ratifica que o grupo terrorista português foi o autor do assassinato". Além da morte de Begoña, o atentado resultou em cinco feridos..O documento em causa, escrito uma semana após o atentado, detalha como desde o primeiro momento as suspeitas recaíram no DRIL, até porque a ETA só começaria as suas ações em 1961..Segundo o documento, a responsável pela bagagem da estação, Soledad Arruti, tia de Begoña, reconheceu Guillermo Santoro (militante do DRIL) numa fotografia que lhe foi mostrada como a pessoa que tinha entregado a mala que viria a explodir. Santoro, galego e residente em França, também foi reconhecido pelo dono e pelas funcionárias da loja em que a mala foi comprada..O seu nome já tinha sido apontado como autor do atentado há um ano, numa investigação do Centro em Memória dàs Vítimas do Terrorismo..O DRIL foi uma organização revolucionária apoiada pelo líder cubano Fidel Castro que atuou entre 1959 e 1964 com o objetivo de derrubar as ditaduras de António Salazar, em Portugal e de Francisco Franco, em Espanha. Era fruto da fusão, no início dos anos 1960, da União dos Combates Espanhóis e do português Movimento Nacional Independente..Os líderes desta organização foram os portugueses Humberto Delgado -- militar que deu corpo à principal tentativa de derrube de Salazar, através de eleições, que perdeu em 1958 -- e Henrique Galvão -- famoso por ter desviado o paquete português Santa Maria, cheio de passageiros, em 1961..Segundo o El País, Galvão reivindicou o atentado que resultou na morte de Begoña logo em julho de 1960, no El Nacional de Caracas, assim como outras explosões noutras estações de comboios a 26 e 29 de junho. Em agosto, vários membros do DRIL foram detidos numa reunião na Bélgica, entre os quais Santoro, mas os belgas recusaram a extradição e os autores acabaria por beneficiar de uma amnistia em 1977.