O bastonário dos Médicos lamenta que nunca tenha sido esclarecida a situação dos mais de 2 600 doentes que morreram em 2016 enquanto esperavam por uma cirurgia e considera que seria matéria para intervenção do Ministério Público..Miguel Guimarães foi o coordenador do grupo técnico criado pelo Governo para avaliar o sistema de gestão das listas de espera, cujo relatório foi divulgado esta quinta-feira, e que avaliou várias questões técnicas na sequência de um relatório do Tribunal de Contas de 2017, que nomeadamente identificou quase 2 700 que morreram enquanto estavam em lista de espera a aguardar cirurgia..O bastonário recorda que esta questão não se enquadrava no âmbito do grupo técnico que coordenou, mas lamenta que não tenha sido até hoje um assunto devidamente avaliado e esclarecido..Em declarações à agência Lusa, Miguel Guimarães entende que era importante avaliar o caso de todos esses doentes, para perceber se morreram por um enfarte ou um acidente, por exemplo, ou se morreram "por evolução da sua própria doença enquanto esperavam por cirurgia"..O coordenador do grupo técnico refere ainda que nesses mais de 2 600 doentes o número de pessoas com cancro era "muito elevado", sendo mais de 200 doentes, segundo o relatório do Tribunal de Contas de outubro de 2017, que se reportava a dados de 2016.."Era uma matéria que devia ser avaliada numa auditoria, vendo doente a doente, o que não aconteceu. Parece que passou em branco. (...) Eu acho que obrigatoriamente era matéria de intervenção do Ministério Público para esclarecer a situação. Não é que haja crime, seria para esclarecer a situação", afirmou à agência Lusa..Caso haja doentes que morreram pela doença que tinham enquanto esperavam cirurgia, Miguel Guimarães entende que é uma "situação muito grave" e que devem ser "assacadas responsabilidades políticas"..Quando, em 2017, o assunto chegou a ser debatido no parlamento, a agora ministra da Saúde, que era presidente da Administração Central do Sistema de Saúde informou que cerca de 60% das 2 605 cirurgias canceladas por óbito do utente em 2016 eram das especialidades oftalmológica e ortopédica..Na altura, a Ordem dos Enfermeiros pediu precisamente para que este assunto fosse investigado pelo Ministério Público.