Barcelona saiu à rua sem medo e levou mensagem independentista

Felipe VI, o primeiro monarca espanhol a participar numa manifestação, e Mariano Rajoy foram brindados com muitos assobios e bandeiras estreladas. Várias cidades do país juntaram-se ao movimento No tinc por
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Meio milhão de pessoas estiveram ontem em Barcelona numa histórica manifestação contra o terrorismo, na sequência dos atentados de há dez dias na Catalunha, nos quais perderam a vida 15 pessoas, duas das quais portuguesas. Sob o lema No tinc por ("Não tenho medo", em catalão), o grande objetivo era mostrar, como tem vindo a pedir o primeiro-ministro Mariano Rajoy, uma Espanha unida. Mas os assobios com que o rei Felipe VI e o próprio Rajoy foram recebidos, a contrastar com os aplausos dedicados ao presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, a par das bandeiras estreladas independentistas que pululavam entre a multidão, mostraram que estavam todos contra o terrorismo, mas não unidos.

Para a história fica o facto de esta ter sido a primeira vez que um rei em Espanha participou numa manifestação. Felipe VI esteve na primeira linha da segunda cabeceira da marcha, acompanhado de Rajoy e Puigdemont, apesar dos protestos que já tinham sido expressos antecipadamente por vários movimentos independentistas. Histórica também foi a adesão do mundo político espanhol - presidentes do Congresso, Senado, quase todo o governo, ex-primeiros-ministros, líderes dos principais partidos, dos governos regionais e de organizações sindicais, entre outros - quiseram marcar presença. Rajoy até disponibilizou um A310 do governo para os levar até Barcelona.

Para o líder do Podemos, um defensor da autodeterminação da Catalunha, os assobios ao rei e ao primeiro-ministro fazem parte da "liberdade de expressão". Pablo Iglesias referiu ainda que o ambiente independentista vivido ontem em Barcelona se deve às "barbaridades" que, na sua opinião, se têm dito "em editoriais e na direita mediática" após os atentados. "Os catalães também têm liberdade de expressão e a liberdade de expressão também faz parte da democracia", sublinhou.

Políticas à parte, a verdadeira cabeceira da manifestação era uma homenagem aos que responderam aos atentados de há dez dias, sendo composta por um total de 75 representantes de forças de segurança, serviços de emergência, pessoal médico e de todos os envolvidos, desde taxistas a funcionários de lojas que acolheram pessoas em fuga.

"Deixámos muito claro que a cabeceira era só uma, mas impuseram-se motivos de segurança", explicou no final Ada Colau, a presidente da Câmara de Barcelona. "Para mim só havia uma cabeceira, que era a que levava a faixa No tinc por", acrescentou Puigdemont.

Mais de uma hora depois das cerimónias da Praça da Catalunha - onde, num palco, houve música e leitura de poesia - registou-se o único incidente desta marcha: nesse mesmo local, contam várias testemunhas, uma pessoa repreendeu outra por levar uma bandeira independentista da Catalunha, o que originou uma pequena revolta de quem estava em redor. A agitação levou a que várias pessoas que estavam na praça se assustassem e começassem a correr.

Em Madrid, vários grupos e deputados madrilenos juntaram-se ontem na Porta do Sol como forma de apoio à manifestação de Barcelona contra o terrorismo, na qual também participou Manuela Carmena, a autarca da capital espanhola. "Não tenho medo, todos somos Catalunha", em castelhano e catalão, foi o lema que se ouviu ontem, tanto em Madrid como em cidades como Valência, Alicante, Castellón ou Vigo, que também quiseram demonstrar o seu apoio a Barcelona contra o terrorismo.

Em Ripoll, cidade onde viviam os alegados terroristas, Hafida, irmã de dois deles (um abatido em Cambrils e o outro detido), participou na manifestação. "Não ao terrorismo, não à violência, sim à paz", pediu, entre aplausos e No tinc por.

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