Banderas, Cruz e um favorito emotivo

Em San Sebastián, Antonio Banderas e Penelope Cruz brilharam com bicadas às manias dos atores em<em> Competencia Oficial,</em> mas em <em>Maixabel</em>, o tema da ETA e a capacidade de perdão trouxe o primeiro filme espanhol na competição.
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Quanto mais cruel, melhor o humor de sátira resulta. É uma regra simples e rigorosa que os argentinos Mariano Cohn e Gastón Dupart aplicam no filme sucessor do êxito de O Ilustre Cidadão. Em Competencia Oficial (termo que em português pode ser traduzido como competição oficial, situação que acontece quando os filmes competem na seleção oficial dos festivais de cinema com palmarés), gozam com unhas afiadas com o ego dos realizadores e dos atores. A história anda à volta de um filme encomendado por um idoso milionário que tem o capricho de investir em cinema. Contrata uma realizadora de arte e ensaio, uma Penelope Cruz a brincar com a pinta de Isabel Coixet, e exige os melhores atores, neste caso um espanhol com sucesso em Hollywood: Antonio Banderas a achincalhar Antonio Banderas e um argentino aclamado em Espanha, Oscar Martinez a piscar o olho ao carisma de Ricardo Darín.

O resultado é inspirado, é impossível não sorrir perante este escárnio às perceções sobre os egos dos atores, as feiras de vaidades dos cineastas e os caminhos do chamado cinema de autor. Um filme para incomodar muita gente e com um Banderas em estado de excelência pura. Exemplo de uma proposta de grande apelo popular que envolve o espetador na sua inteligência. Está adquirido para Portugal.

Para colocar água na fervura, na competição chegou um dos favoritos à Concha de Ouro, Maixabel, de Iciar Bollaín, drama a partir da reconstituição do encontro entre uma viúva e os assassinos da ETA responsáveis pela morte do marido. Cinema para cicatrizar os traumas de uma história de terror que marcou a História recente de Espanha. A cineasta espanhola assina o seu melhor filme em anos e é bem capaz de iniciar um debate em Espanha sobre a capacidade de gerir um caso de ódio endémico. Mesmo com alguns defeitos de melodrama de "caso verídico", Maixabel é um filme que traz lágrimas reais sem ser piegas ou manipulador.

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