O currículo fala por si, habitual colaborador de gente como Minnemann Blues Band, GNR, Xutos e Pontapés, Rui Veloso, entre outros, António Mão de Ferro é um dos mais reconhecidos e solicitados guitarristas nacionais, também já com uma profícua carreira a solo, iniciada em 2007 com o álbum Karma Train, mas cujo mais recente capítulo, Lunatic, marca uma viragem na sonoridade deste músico nascido no blues mas desde sempre apaixonado pelo rock. "O blues é a minha raiz, mas apaixonei-me também desde muito cedo pelo rock e pela pop e hoje, se calhar, até sou mais um músico desses estilos", começa por confessar nesta conversa com o DN, a respeito do concerto de apresentação do disco na Casa da Música, no Porto, marcado para o dia 17 de junho, quase dois anos depois da sua edição.."O disco saiu em 2019, mas devido ao confinamento, o concerto de apresentação foi adiado duas vezes. Se soubesse tinha atrasado também a edição do disco", diz com humor. O que não impediu os fãs de responder afirmativamente, esgotando com alguns dias de antecedência o espetáculo, cujo bilhete inclui um exemplar do disco. "É muito bom sinal este interesse do público, estamos muito entusiasmados com isso", admite o músico, que estará acompanhado em palco pelo baixista Bernardo Fesch, o guitarrista Diogo Mão de Ferro, o teclista Diogo Santos e os bateristas Jorge Oliveira e Leandro Leonet, além do convidado Kiko Pereira, o músico e cantor luso-americano que António considera "um companheiro de sempre". O concerto será gravado em vídeo, pelo músico e realizador André Tentúgal, para eventual edição futura..Apesar de já contar com outros três álbuns de originais, parece ter sido só ao quarto que o guitarrista encontrou finalmente o seu caminho, conseguindo criar uma sonoridade própria, bastante intimista e cinematográfica, onde se cruzam o rock, a folk e, claro, o blues, o género com o qual continua a ser mais conotado. "É a minha grande escola", volta a sublinhar o músico, que mesmo assim não acredita na existência de um estilo de blues à portuguesa, apesar de no seu álbum de estreia até ter um tema cantado em português, pela fadista Kátia Guerreiro. "A nossa raiz é o fado e até há quem diga que é parecido com o blues, embora eu não concorde. O blues é um estilo americano e é assim que deve ser tocado e cantado", defende o músico, realçando que, nos últimos anos, este estilo musical até "tem crescido bastante em Portugal", com o surgimento de novos músicos e a existência de vários festivais um pouco por todo o país..Neste álbum, porém, foi beber a outra fonte: "Sou um grande fã do Jeff Beck e do David Gilmour, daquele imaginário do rock psicadélico da década de 70, que de certa forma fui buscar para estas músicas, mas de uma forma quase inconsciente. Acredito que a música funciona à base de texturas e de ambientes e foi isso que tentei trazer para este disco", reconhece. O resultado de tudo isto foi um álbum intimista e cinematográfico, que funcionaria na perfeição num qualquer road-movie norte-americano, o que talvez até nem tenha sido totalmente ao acaso, pois um dos temas do álbum, o instrumental Electrified foi já escolhido para fazer parte da banda sonora de um filme de produção belga e americana, realizado pelo português Tiago Mesquita. "É de facto uma área que me atrai muito, esta das bandas sonoras para cinema e na qual tenho interesse em apostar mais no futuro até porque, enquanto músico, cativa-me bastante fugir ao mainstream", sustenta..Talvez por isso sinta este disco "quase como se fosse o primeiro, por ter sido um trabalho muito fácil de compor e de gravar, em que saiu quase tudo à primeira", recorda o músico, que mesmo assim só conseguiu avançar com o disco graças ao apoio de um fã e amigo. "Tenho muito a agradecer ao Paulo Cunha, foi ele o patrocinador que se chegou à frente com o dinheiro que me permitiu gravar o disco", conta. Entretanto, aproveitou o confinamento para "reunir algumas ideias" e começar já a pensar num próximo disco. "A ideia é continuar neste caminho, até porque encontrei um género com o qual me identifico totalmente"..Casa da Música, Porto. 17 de junho, quinta-feira, 20h30. €10.dnot@dn.pt