O PSD anda numa grande agitação, normal neste período, mas intensificada pelo facto de ser a primeira vez que Rui Rio pode mexer no tabuleiro de figuras de uma bancada feita à imagem e semelhança de Pedro Passos Coelho e pôr as peças que lhe são fiéis, apesar de algumas estruturas locais do partido resistirem. Para cabeça-de-lista a Lisboa fala-se de David Justino, vice-presidente do PSD e presidente do conselho de estratégia nacional do partido que está a elaborar o programa eleitoral, mas o (ainda) comissário europeu Carlos Moedas é outra das hipóteses..Rio, que encabeçará a lista pelo Porto, não costuma abrir muito cedo o jogo ou os convites a quem quer dar protagonismo. Fontes do PSD admitem que ainda não tenha feito grande parte dos convites para impedir fugas de informação. E que só muito em cima da entrega das listas no Tribunal Constitucional é que avance nesse processo..Neste momento terá de gerir as propostas das concelhias e distritais e algumas delas irão avançar com nomes que não são do seu agrado, e em algumas delas entre dirigentes locais. Fontes que lhe são próximas garantem, por exemplo, que vetará o nome de Miguel Pinto Luz, caso a estrutura de Cascais avance mesmo com a indicação do nome do vice-presidente da câmara liderada por Carlos Carreiras. Isto porque quer o atual deputado Ricardo Batista Leite, também de Cascais e membro do conselho de estratégia nacional e porta-voz para a área da Saúde, na lista por Lisboa.."Não há lugar para dois deputados por Cascais e será que o partido quererá sacrificar um deputado que tem feito um trabalho fantástico pela ambição de uma outra pessoa?" - questiona uma fonte próxima da direção do PSD. E a resposta é que mesmo que a concelhia "sacrifique", Rio não irá deixar..Há quem no partido faça a leitura de que Pinto Luz quer ser eleito para ser a eventual "chave" de transição da atual liderança, em caso de um mau resultado nas legislativas e consequente saída de Rui Rio, e a próxima. O vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, com um importante papel executivo na autarquia, poderia ter aspirações a vir a ser o futuro líder parlamentar social-democrata com uma nova liderança..O líder da distrital de Lisboa do PSD, Pedro Pinto, terá discutido com a direção do partido a indicação de nomes de todos os atuais deputados pelo distrito, depois de tentar chegar a acordo com as respetivas concelhias. Pedro Pinto parece assim ter feito uma aproximação a Rio, depois de ter apoiado a moção de censura que o tentou derrubar no início do ano. No dia a seguir ao chumbo da moção, em conselho nacional, Pedro Pinto apelou à união em torno do líder social-democrata. "O PSD está neste momento mais forte e preparado para os grandes desafios que tem pela frente. Tudo demonstra que o Dr. Rui Rio percebeu os sinais que foram enviados pelo conselho nacional", disse na altura..Apesar do secretismo que rodeia a escolha dos lugares de topo das listas, fontes sociais-democratas garantem ao DN que o líder social-democrata apostará em dois ex-eurodeputados para liderar as listas de candidatos em Viseu, no caso Fernando Ruas, antigo presidente da câmara municipal; e Santarém, Carlos Coelho, o sétimo da lista do partido ao Parlamento Europeu que acabou por não ser eleito a 26 de maio. Coelho é militante em Abrantes e já foi presidente da distrital de Santarém..Em Viseu, Rio ultrapassa assim, com o nome "forte" de Ruas, o problema de lidar com o deputado e líder distrital Pedro Filipe Alves, que foi seu apoiante de primeira linha mas que acabou por estar ao lado de Luís Montenegro quando, no início do ano, desafiou o líder do PSD a convocar eleições diretas e se assumiu como candidato à presidência do partido. Fontes próximas da direção admitem, no entanto, que Pedro Filipe Alves integre a lista pelo distrito para evitar guerras com uma das grandes distritais do partido..Em Santarém, poderão ser colocados em lugares de menos destaque, ou até não elegíveis, o ex-líder da JSD Duarte Marques e Nuno Serra, presidente da distrital. Ambos foram apoiantes de Pedro Santana Lopes na corrida à liderança do partido, contra Rui Rio. Mas há ainda muitas incógnitas neste distrito..As mesmas fontes admitem também que o atual líder parlamentar, Fernando Negrão, que foi falado para encabeçar a lista por Setúbal, acabe a liderar a de Braga, como aconteceu em 2015. E a de Setúbal poderá ser entregue a Lina Lopes, presidente das Mulheres Sociais-Democratas, que tem sido uma forte apoiante de Rui Rio. Nesta distrital, Rio depara-se também com a voz critica de Bruno Vitorino, que é líder da distrital, que esteve ao lado dos que defenderam diretas antecipadas em janeiro. Resta saber se integrará a lista pelo distrito..Em Braga há a incógnita se o ex-líder parlamentar Hugo Soares, que apoiou sempre Luís Montenegro na contenda contra Rio, terá lugar na lista. Mas o mais provável é que o presidente do partido seja implacável no afastamento dos que mais críticos foram da sua liderança. Hugo Soares tem aproveitado cada reunião dos órgãos nacionais do partido para criticar as opções da atual direção.."Lealdade" como critério.Pouco tempo depois de ter assumido a liderança do partido, Rui Rio foi muito claro, em entrevista à TSF, a dar nota de que os "desleais" não tinham lugar no partido. E fez "lei" disso ao estabelecer os critérios para a escolha dos candidatos à Assembleia da República, aprovados no final de maio pela direção nacional, entre os quais os da"disponibilidade para cooperar de forma politicamente leal e solidária" com a direção..A escolha de candidatos fica também subjugada à "qualidade e à competência política bem como a preparação técnica adequada", o "prestígio nacional ou local potenciador de alargamento de apoio eleitoral do PSD" e a "aceitação das normas estatutárias e legais inerentes ao exercício da função de deputado"..A bancada rebelde?.A bancada do PSD foi o primeiro bico-de-obra para o líder do PSD. Desenhada à medida de Pedro Passos Coelho, teve várias fricções com o líder, que mostrou vontade de afastar Hugo Soares, então líder parlamentar, por entender que era um dos rostos muito ligados ao passismo. Fernando Negrão, que tinha apoiado Santana Lopes nas diretas contra Rio, acabou por ser a escolha para tentar apaziguar os ânimos..Os passistas garantem que nunca houve uma estratégia concertada para atacar a direção do partido. "Havia coincidência de pontos de vista, mas não acertávamos posições", garante um desses deputados, que atira a frieza das relações do grupo parlamentar e a direção para o colo de Rio. "Neste ano e meio não contaram connosco para nada, mesmo de deputados muito ativos no passado. Rio rejeitou o legado de Passos Coelho, para apagar todo o seu protagonismo", acusa ainda.."E tem conseguido ser bem-sucedido nessa estratégia, porque muitos foram saindo, reduzidos que estavam à inutilidade no grupo parlamentar", afirma o mesmo deputado e dá o exemplo de José Pedro Aguiar-Branco. "Como é possível que um ex-ministro da Defesa não tenha tido nenhuma tarefa atribuída na bancada? Isto com a conivência ou passividade do líder parlamentar." E os que ficaram, diz, "é porque entendem que têm mesmo de levar o mandato até ao fim"..Na hora da saída, Aguiar-Branco defendeu Luís Montenegro numa lógica de que o "país precisa de um PSD que seja uma alternativa clara e inequívoca ao PS e ao governo". Uma alternativa que, na perspetiva do ex-ministro, o atual presidente do partido não tinha sido capaz de protagonizar..Mas quem é indesejado?.Alguns dos deputados da era Passos autoexcluíram-se e outros já anunciaram que querem sair, antes de serem rejeitados pela direção nacional. Entre os que saíram pelo seu próprio pé está Luís Campos Ferreira, ex-secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, que também apostou tudo em Luís Montenegro. E numa entrevista ao Expresso, no final do ano, poucos dias após renunciar ao mandato, dizia: "É evidente que o partido não está unido; até pode ter feito um esforço para mobilizar a sociedade através do conselho estratégico nacional, mas ninguém sabe quais são as ideias essenciais do PSD, porque não passaram; e basta olhar para as sondagens para ver que não se afirmou como oposição nem como alternativa.".Alguns deputados que se sentiram marginalizados pela direção de Rio, estão paulatinamente a anunciar que não querem continuar como deputados. A voz mais recente foi a de Teresa Morais. Depois de ter comunicado a decisão na Assembleia Municipal do PSD/Leiria, por onde foi eleita, a ex-vice-presidente de Passos Coelho e ex-ministra da Cultura tornou público que não se revê nesta versão do PSD, que disse estar a "definhar o partido". Acusou ainda Rui Rio, que admitiu também não contar com ela, de estar a criar um "partido mediano e ideologicamente puro, em que só cabem amigos e acólitos subservientes"..Outra figura muito próxima de Passos também não deverá caber nas listas de Rio. Miguel Morgado, antigo assessor político do ex-primeiro-ministro social-democrata e que lançou o Movimento 5 de Julho, pretende "refundar" a direita..O deputado social-democrata está mesmo a coordenar, com o historiador Rui Ramos, um grande livro sobre as grandes questões da direita, para o qual convidaram 60 personalidades. Miguel Morgado tem sido uma das vozes críticas da estratégia de Rui Rio de aproximação ao PS e, muito provavelmente, não voltará a ser convidado a integrar a lista de candidatos, como aconteceu em 2015. Morgado admitiu disputar a liderança interna em caso de marcação de diretas em janeiro..A antiga ministra da Justiça Paula Teixeira da Cruz também já se autoexcluiu das listas, mas Rio também não deveria contar com ela para esta nova fase do PSD. Apesar de defender uma reforma da justiça nunca chamou a ex-ministra de Passos Coelho para se pronunciar sobre a matéria..Numa recente carta aberta ao "presidente do partido" anunciou que não tencionava recandidatar-se. Em janeiro, foi uma das apoiantes da candidatura de Montenegro à liderança do partido e criticou abertamente o facto de Rio se recusar a marcar eleições diretas como pedia o opositor. "Nunca vi um discurso tão hipócrita de um líder do partido como aquele a que assisti porque o Dr. Rui Rio fala em banho de ética quando se rodeia de tudo quanto não é ética", disparou na altura..Outra figura próxima de Passos Coelho, Carlos Abreu Amorim, eleito por Viana do Castelo, também já disse que não quer continuar. Sendo que é um dos que Rio já tinha mesmo riscado. O deputado social-democrata foi sempre uma das vozes mais críticas para a direção, que afrontou em várias reuniões do grupo parlamentar..Em setembro do ano passado, quando Rio convidou os críticos a sair do partido, Carlos Abreu Amorim reagiu com dureza: "Convidar a sair quem discorda do líder é típico de um chefe de fação e não é digno de um presidente de um grande partido democrático."