A presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, acusou ontem o líder do Partido Popular (PP), Pablo Casado, de ter traçado um plano "cruel" para a destruir "politica e pessoalmente", com uma acusação de alegada corrupção. A direção nacional responde abrindo um processo interno contra ela, falando numa campanha de "mentiras e calúnias". Após meses de uma guerra de bastidores pelo controlo do partido em Madrid e de um curto cessar-fogo por causa das eleições regionais em Castela e Leão, está aberto o confronto direto entre os dois antigos amigos.."Apesar de a vida política estar cheia de dissabores, nunca imaginei que a direção nacional do meu partido iria atuar de um modo tão cruel e tão injusto contra mim", disse Ayuso aos jornalistas. Em causa está uma investigação que a direção nacional do PP teria feito a possíveis irregularidades num contrato de 1,5 milhões de euros que Madrid assinou para o fornecimento de máscaras contra a covid-19. O irmão da presidente, Tomás Díaz Ayuso, terá servido como intermediário, recebendo 280 mil euros..Segundo a imprensa espanhola, terá mesmo havido tentativa de o espiar - com um detetive que teria sido contratado por uma empresa da Câmara de Madrid, liderada por José Luis Martínez-Almeida. O PP desmente qualquer espionagem..O objetivo da investigação da direção nacional seria prejudicar Ayuso, que está numa luta com a direção nacional pelo controlo do partido em Madrid. Depois da contundente vitória nas eleições antecipadas de maio de 2021 (que lhe permitem governar sozinha e não com o Ciudadanos, como acontecia desde 2019), Ayuso quer ser presidente do PP de Madrid o mais rapidamente possível para ter maior controlo sobre o aparelho. Entre outras coisas, essa posição permite-lhe escolher os candidatos às eleições ou nomear vários cargos e traçar o rumo do partido..A presidente da Comunidade de Madrid rejeitou ter feito alguma coisa ilegal, confirmando que o contrato foi adjudicado a uma empresa ligada ao irmão. "Não há nada ilegal", indicou, dizendo que o texto está disponível no portal de transparência. "Fez-se em tempo de pandemia, quando faltava material sanitário em todo o mundo", acrescentou. "Estou há dez anos a militar no PP e estive sempre onde precisaram de mim", assegurou, criticando o facto de os dirigentes do seu partido serem aqueles que a querem destruir, não apoiá-la..A resposta veio do secretário-geral do PP, Teodoro García Egea - Casado manteve ontem o silêncio. "A honra do PP é o nosso ativo mais valioso. Pode ter-se um bom resultado eleitoral mas isso não exime da retidão e da lealdade. Foi isso que pedimos a Díaz Ayuso", afirmou, anunciando um processo interno contra ela. "Fez acusações gravíssimas, quase criminosas, contra o presidente e toda a formação. É algo que nunca vimos no nosso partido", acrescentou. "Esta direção não pode permitir que alguém utilize o partido para se blindar. A minha obrigação é proteger a reputação do PP", referiu..A presidente da Comunidade de Madrid queria já ter realizado o Congresso em 2021 e estabeleceu como data-limite março deste ano. Mas ainda não há data para o evento, com os media espanhóis a alegar que Casado não tem interesse em dar a Ayuso mais palco num congresso regional que marque a agenda política. Os dois antigos amigos tornaram-se inimigos com os bons resultados eleitorais dela e as suspeitas de que poderá estar à espera de um novo desaire eleitoral dele (já perdeu duas vezes para o socialista Pedro Sánchez) para tentar chegar à liderança do PP..Os dois conheceram-se na juventude do PP (Novas Gerações), que ele liderou em Madrid, tendo sido também deputado regional antes de saltar para a Assembleia Nacional, em 2011, e continuar a sua ascensão meteórica no partido. Já ela fez o percurso na capital e como responsável das redes sociais do PP (é especialista em comunicação política) até ser eleita deputada regional e finalmente ser escolhida, por um recém-eleito Casado, para encabeçar a candidatura à Comunidade de Madrid - era então praticamente desconhecida..A oposição não fica de fora desta guerra civil no PP, com o PSOE a desmentir ter passado informações sobre Ayuso aos rivais (algo que ela alegou Casado lhe disse que aconteceu). Já a Unidas Podemos questiona porque é que, se o PP suspeitava de algum crime, não denunciou às autoridades..susana.f.salvador@dn.pt