Repatriados de Wuhan ficam 14 dias em isolamento e sem visitas

O avião que repatriou um grupo de portugueses vindos de Wuhan, China, aterrou ao fim do dia na Base Aérea de Figo Maduro. Os 20 passageiros que transportava foram observados, sujeitos a testes e ficam 14 dias m isolamento, sem direito a visitas.
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Chegaram este domingo à noite a Portugal os portugueses repatriados de Wuhan, o epicentro do surto do coronavírus, que quiseram regressar ao país. Vão ficar 14 dias em quarentena, em isolamento profilático e sem direito a visitas, por acordo dos próprios.

Apesar das análises efetuadas na China terem dado negativo à presença do coronavírus, esta é uma medida de prevenção que segue os procedimentos internacionais para esta nova epidemia, explicaram as autoridades portuguesas, em conferência de imprensa neste domingo à noite.

Segundo as autoridades portuguesas, o grupo é composto por 20 elementos - 18 civis (16 portugueses e dois brasileiros) e duas pessoas do corpo diplomático. Viajaram acompanhados por oito tripulantes e oito profissionais de saúde, estes da Força Aérea, do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e da equipa de Sanidade Internacional, coordenada pela Direção-Geral de Saúde (DGS).

À chegada do C-130 ao aeroporto militar de Figo Maduro, em Lisboa, cerca das 20:30, os passageiros foram deslocados para a sala de embarque para avaliar a sua história clínica e outros elementos.

Após aquela primeira observação e, caso não existam suspeitas de contaminação, os repatriados tinham testes laboratoriais previstos num edifício próprio do Hospital Pulido Valente, para serem recolhidas amostras.

Os resultados dos testes realizados pelo Instituto Nacional Ricardo Jorge (INSA), que se deslocou ao hospital, serão conhecidos esta segunda-feira de manhã, espera a ministra da saúde, Marta Temido. Estes testes permitirão saber se há, neste grupo, pessoas infetadas atualmente com o vírus.

Isolamento profilático

"Por razões de segurança, para os próprios e para a comunidade, durante os próximos 14 dias, todo o grupo ficará em isolamento profilático. Esta opção fundamenta-se na fase epidérmica em que nos encontramos a nível internacional, fase de contenção, está em linha com o que está a ser realizado por outros países e contou com a aprovação dos nossos concidadãos", salientou Marta Temido, em conferência de imprensa no Ministério da Saúde após a chegada do avião.

Realizadas as zaragatoas, o grupo será dividido e permanecerá 14 dias em isolamento, tendo as autoridades optado por concentrar as 20 pessoas em Lisboa. Estes cidadãos serão distribuídos pelos hospitais Pulido Valente (13 quartos) e pelo Parque da Saúde de Lisboa (10 quartos no Curry Cabral), onde ficarão 14 dias de quarentena.

A concentração em hospitais de Lisboa é justificada pela "proximidade da equipa de Sanidade Internacional e rapidez da realização do trabalho do INSA", disse a ministra da Saúde.

Refira-se que 20 pessoas repatriadas por França, e que chegaram no mesmo avião do grupo português a Marselha, apresentam sintomas de um possível contágio. Foram recolhidas amostras para a realização de testes à presença do coronavírus, tendo ficado a aguardar os resultados na base aérea de Istres. "Vão ficar sob vigilância de médicos militares", anunciou a ministra da Saúde francesa, Agnes Buzyn.

Em Portugal, as autoridades salientaram não haver razões para alarme e que se estão a seguir todos os protocolos internacionais.

Na conferência de imprensa, Marta Temido esteve acompanhada pelos secretários de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, dos Negócios Estrangeiros, Teresa Ribeiro, Adjunto e da Defesa, Jorge Seguro Sanches, da Administração Interna, Patrícia Gaspar, e da Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas. No fundo, os responsáveis pela operação de repatriamento que envolveu quatro ministérios e esteve em articulação com o mecanismo europeu.

Vigilância ativa e passiva

Ao longo dos 14 dias, o grupo é acompanhado pela equipa de Sanidade Internacional, coordenada pela DGS, com vigilância ativa (duas visitas diárias dos médicos) e vigilância passiva (via centro de contacto do Serviço Nacional de Saúde e Linha de Atendimento ao Médico). Nesta fase, não estão previstas visitas, mesmo controladas. Os profissionais e fornecedores de serviços à unidade tiveram treino específico e o material usado é descartável.

A DGS emitirá um boletim clínico diário sobre a situação das 20 pessoas em isolamento. E, sempre que o justifique, o Ministério da Saúde fará uma conferência de imprensa, estando a primeira prevista para esta segunda-feira de manhã.

Marta Temida pediu às pessoas que não se dirigissem aos hospitais onde vão ser internados os repatriados, uma vez que toda a informação será previamente transmitida.

A secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros, Teresa Ribeiro, mostrou disponibilidade de Portugal para repatriar outros portugueses a residir na China que queiram regressar. "Temos uma equipa extensa no terreno para acolher a situações futuras que venham a verificar-se. Se houver outros concidadãos que queiram regressar, as autoridades desencadearão os mecanismos necessários para que isso aconteça", disse.

O grupo tinha partido de Wuhan às 07:00 locais de sábado (23:00 em Lisboa). Aterrou às 14.31 (13.31 em Lisboa) na base militar de Istres, sul da cidade francesa de Marselha. A aeronave foi fretada pelo governo francês e partiu na quinta-feira do aeroporto de Beja rumo a Paris. Da cidade francesa seguiu para Wuhan, com uma paragem em Hanói (Vietname).

O Airbus A-380 transportou 250 cidadãos europeus, a maioria franceses. Em Marselha, o grupo português era esperado um C-130, da Força Aérea.

Coronavírus já mata mais do que o SARS na China

Entretanto, o número de mortes confirmadas pelo surto de coronavírus na China aumentou para 360, excedendo o número de mortes no país provocadas pelo surto de SARS de 2002-03, que se situou nos 349.

As autoridades da província de Hubei relataram 56 novas mortes provocadas pelo coronavírus, na atualização feita na noite deste domingo (já segunda-feira de manhã na China).

Os números divulgados comissão de saúde da província de Hubei, a mais afetada pelo vírus, também mostraram um salto nas infeções confirmadas, com 2.103 novos casos, o que coloca o total acima de 16.480, com base em números anteriormente emitidos pelo governo central chinês.

A quarentena foi, entretanto, alargada a mais quinze cidades chinesas, próximas de Wuhan, afetando, no conjunto, mais de 50 milhões de pessoas.

Além do território continental da China e das regiões semiautónomas chinesas de Macau e Hong Kong, há mais de 50 casos de infeção confirmados em 20 outros países - Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Reino Unido, Austrália, Finlândia, Emirados Árabes Unidos, Camboja, Filipinas e Índia.

As Filipinas anunciaram a primeira morte pelo coronavírus fora da China: um chinês de 44 anos, de Wuhan, que terá sido infetado antes de chegar ao país.

Esta segunda-feira era suposto os estudantes regressaram às aulas, após as férias do ano novo chinês, celebrado dia 25 de janeiro com a entrada do Ano do Rato. Mas o o governo chinês decidiu manter o adiamento do regresso às aulas, não havendo a previsão de uma data para as escolas e universidades abrirem.

No entanto, milhões de trabalhadores vão regressar ao trabalho, mas a reintegração ocorrerá gradualmente para evitar grandes aglomerações.

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