Aves, porcos e visons, as outras epidemias animais

A influenza aviária, transmitida por aves migratórias para as aves domésticas, a peste suína, que devastou a Ásia e está presente no Leste Europeu, e a covid-19, que força o abate de milhões de visons na Dinamarca, são as três grandes epidemias de animais que atingem a Europa neste momento. Essa é a situação de cada uma delas, segundo as autoridades sanitárias:
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Desde que o primeiro caso foi detetado numa granja na Holanda a 17 de outubro, a plataforma europeia ESA de epidemiovigilância localizou focos de H5 altamente patogénico no Reino Unido, Alemanha, Holanda, Irlanda e Dinamarca. A Suécia também anunciou na terça-feira que detetou um primeiro surto numa quinta de perus.

No total, 158 casos de aves selvagens doentes foram confirmados.

Em França, o primeiro surto foi registado na ilha da Córsega na segunda-feira. Todo o país corre um risco "elevado". Isso implica o confinamento de aves, a proibição de feiras, a liberação de aves aquáticas de caça, ou "chamarizes" para a fauna silvestre. A Bélgica também confinou as suas aves.

"Vemos que a pressão está a aproximar-se. Há três meses, aves afetadas por um vírus patogénico, migrando do círculo polar, foram encontradas na Rússia e no Cazaquistão, depois aproximaram-se da costa do Mar do Norte para passar o inverno. Algumas descem mais a sul, para Espanha", explica à AFP François Landais, veterinário da Arzac, perto da fronteira franco-espanhola.

"Teremos de ter muito cuidado para proteger a criação de aves, quando os pássaros regressarem para o norte, em março-abril", alerta.

O vírus, que é transmitido pelas vias respiratória ou digestiva, através das fezes, não tem tratamento nem vacina. É combatido aplicando medidas de biossegurança, que incluem confinamento, controlo de entrada e saída de aviários e desinfeção de veículos.

O consumo de carne, de foie gras, ou de ovos de aves, não representa nenhum risco para o ser humano. Mas a sua exportação pode ser bloqueada, se as quintas forem afetadas.

"A peste suína e a gripe aviária são epizootias, e não zoonoses: não são transmissíveis aos humanos", assegura o veterinário-chefe e diretor-geral adjunto de alimentos (DGAL) do Ministério da Agricultura de França, Loïc Evain.

Por essa razão, a Agência Nacional de Segurança Sanitária (Anses) chama a infeção de aves neste outono de "influenza", reservando o termo usual "gripe aviária" para infeções humanas por vírus de origem aviária.

A peste suína africana, uma febre hemorrágica contagiosa transmitida aos porcos por animais selvagens, ou por vetores infetados, chegou ao Leste Europeu por volta de 2018, após dizimar quintas na Ásia.

A Alemanha, o maior produtor europeu de suínos, onde cerca de 30 restos de javalis infetados foram encontrados em setembro, não pode exportar para a China.

Em França e na Espanha, as quintas protegem-se. "A Bélgica, que teve apenas um caso em agosto de 2019 e, desde então, nenhum, poderá em breve recuperar o seu 'status' de indene", espera Evain.

A principal preocupação das autoridades de saúde está nos visons criados pela sua pele: infetados pela covid-19 pelo homem, eles por sua vez infetam outros humanos, o que pode ter "repercussões importantes para a saúde pública", alerta a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês), com sede em Paris.

Na Dinamarca, maior exportador mundial, mais de 15 milhões de visons serão abatidos antes do final de novembro. Foi descoberta nesses mamíferos uma mutação do novo coronavírus transmissível, o que pode comprometer, segundo as autoridades dinamarquesas, a eficácia de uma futura vacina humana. O vírus mutante foi detetado em 12 pessoas.

Holanda, Espanha, Suécia, Itália, Grécia e Estados Unidos também relataram casos de SARS-CoV2 em visons, de acordo com a OMS.

A OIE exige que espécies sensíveis, como o vison e o guaxinim, sejam monitorizadas, bem como os humanos que entram em contacto com eles.

Uma coordenação global está a ser lançada em torno do conceito "One Health" ("uma saúde"), que vincula a proteção da saúde humana, animal e do ecossistema. Duas agências da ONU, a FAO (agricultura e alimentação) e a OMS (saúde), estão a trablhar nisso, assim como a OIE.

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