Os tempos vão sombrios para os direitos humanos no mundo. A conclusão é do relatório da Amnistia Internacional (AI) sobre 2017, hoje apresentado em Washington..A escolha dos Estados Unidos - é a primeira vez que o relatório anual da AI é apresentado neste país - pretende frisar a ideia de que "os defensores dos direitos humanos podem contar com a solidariedade do povo americano, mesmo quando o seu governo não está à altura. À medida que o presidente Trump desenvolve ações em flagrante violação dos direitos humanos interna e externamente, ativistas por todo o país recordam-nos que o combate em defesa dos direitos humanos universais foi sempre travado e ganho pelas pessoas nas suas comunidades", afirmou a diretora executiva da AI-Estados Unidos, Margaret Huang..[HTML:html|DtosHum.html|640|746].A AI considera que a atuação do presidente americano na área dos direitos humanos está a estabelecer um precedente perigoso que pode e está já a ser seguido por outros governos. Esta é, aliás, a conclusão central do relatório, intitulado The State of the World"s Human Rights (O Estado dos Direitos Humanos no Mundo), que analisa a situação em 159 países. O documento constata o aumento da violência protagonizada pelas entidades estatais, quer em situações de conflito armado quer sob a forma de repressão a personalidades e movimentos oposicionistas.."A decisão odiosa do governo americano de proibir em janeiro [de 2017] a entrada de pessoas de várias países de maioria muçulmana, deu o mote para um ano em que vários líderes políticos levaram as políticas de ódio às suas mais perigosas conclusões", referiu Salil Shetty, secretária-geral da AI. "Muito poucos governos têm-se colocado ao lado dos direitos humanos nestes tempos preocupantes. Pelo contrário, dirigentes como Al-Sissi, Duterte, Maduro, Putin, Trump e Xi estão, insensivelmente, a pôr em causa os direitos de milhões", salientou a secretária-geral da AI..A Amnistia destaca como algumas das situações mais graves a perseguição étnica contra a população rohingya na Birmânia, o combate ao tráfico de droga nas Filipinas, na origem de um grande número de execuções extrajudiciais, as guerras civis na Síria, Líbia e no Iémen, e o longo conflito no Afeganistão. No plano da repressão política, a AI chama a atenção para as situações que se vivem na Turquia, Rússia e China, onde morreu o ativista e laureado com o Nobel da Paz Liu Xiaobo, que só foi libertado quando se tornou evidente que não sobreviveria a doença terminal..Na própria Europa, nota o diretor de comunicação e campanhas da AI-Portugal, Paulo Fontes, ouvido pelo DN, vive-se a deterioração dos direitos humanos, "restringindo-se o espaço da sociedade civil e discriminação contra os refugiados na Hungria" ou a "resposta da Guardia Civil e da Polícia Nacional espanhola em que se assistiu a um uso excessivo da força" na Catalunha..Ainda na Europa, as tentativas do governo polaco de controlar o poder judicial, restringir a ação das ONG e dos meios de informação ou as leis antiterroristas em França são também citadas como fator de preocupação no relatório da AI..A situação na Venezuela merece também uma nota de preocupação da AI, notando-se que "o país está confrontado com uma das piores crises dos direitos humanos na sua história", lê-se no relatório, multiplicando-se as "detenções arbitrárias daqueles que contestam o governo e há registo de tortura e violência sexual contra manifestantes"..A chegada de Donald Trump à Casa Branca é alvo de particular atenção da AI, que a descreve como "uma onda de choque" sentida "globalmente". Para a AI, as políticas e decisões da Administração Trump têm efeitos negativos "nos direitos das mulheres", considerando, por outro lado, chocante a "defesa pública da prática da tortura" pelo presidente e, ainda, criticando "a tentativa de de revogar o acesso a cuidados de saúde a milhões de pessoas". As posições "equívocas" de Trump sobre os supremacistas brancos, os ataques aos media e "a discriminação de transexuais" são também alvo de crítica.