Ator, pugilista tatuado e pai de família. O novo líder do Canadá

Filho de um ex-primeiro-ministro, Justin deu aulas no liceu e foi instrutor de snowboard antes de entrar na política.
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Quando em março de 2012 Justin Trudeau subiu ao ringue para um combate de boxe solidário contra o senador conservador Patrick Brazeau, poucos apostavam na vitória do deputado liberal. Afinal o adversário, mesmo mais baixo, era cinturão negro de karaté. Mas Justin, que treinara soco a soco durante meses, venceu-o por KO. Nesse dia, os canadianos descobriram não só a sua determinação como a tatuagem no seu braço esquerdo: um globo em cima de um corvo indígena.

Na dia 19, quando o mesmo Justin Trudeau conseguiu uma vitória estrondosa (tem maioria absoluta) e inesperada para os liberais nas legislativas, as imagens do seu combate de boxe encheram as redes sociais, deixando o mundo curioso para saber quem é o homem que deu novo glamour à política canadiana.

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Ao derrotar o atual primeiro-ministro conservador, Stephen Harper, e Tom Mulcair, do Novo Partido Democrata (NDP), Trudeau segue as pisadas do pai, Pierre, primeiro-ministro entre 1968 e 1984 (com uma curta interrupção). E regressa à casa onde nasceu, no dia de Natal, em 1971, quando o pai estava no poder.

Para isso muito contribuiu a sua campanha positiva. Aos ataques pessoais dos conservadores, cujos anúncios criticavam a sua falta de experiência, antes de acrescentarem: "Mas tem um cabelo bonito", o homem que lidera o Partido Liberal desde 2013 respondeu com ataques às políticas dos adversários. Uma filosofia que aprendeu com o pai. No funeral de Pierre, Justin contou como um dia, quando tinha 8 anos e fez uma piada sobre um adversário do pai, este lhe disse: "Justin, nunca ataques o indivíduo. Podemos discordar de uma pessoa sem ter de a denegrir."

Mal foi eleito, Trudeau filho anunciou a retirada das tropas canadianas da coligação que luta contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria. Promete investir em infraestruturas, mesmo que isso mantenha o país em défice nos próximos três anos, quer legalizar a marijuana, reformar o sistema judicial e defende os direitos da mulher, sobretudo o direito ao aborto.

Mas mais do que as suas políticas, o que está a fascinar o mundo é o homem. Talvez porque o percurso de Trudeau é pouco convencional. Nascido e criado sob os olhares do público, Justin habituou-se desde cedo a cumprimentar líderes mundiais, como a britânica Margaret Thatcher. Bilingue - um trunfo num país onde a divisão entre anglófonos e francófonos ainda se sente -, após sair da universidade viajou pelo mundo antes de dar aulas no liceu. Pelo meio foi instrutor de snowboard e em 2007 entrou em The Great War, um telefilme sobre a I Guerra Mundial no qual interpreta um herói quebequense.

Na política

Só em 2000 Trudeau chamou a atenção dos canadianos, no funeral do pai, um momento transmitido por todas as televisões do país. "Sabíamos que éramos as crianças mais sortudas do mundo. E não tínhamos feito nada para o merecer. Era algo que teríamos de passar o resto da vida a trabalhar para lhe fazer jus", disse no elogio fúnebre.

Cinco anos depois, o playboy reformava-se, ao casar-se com a apresentadora de televisão Sophie Grégoire, amiga de infância do seu irmão Michel (que morreu numa avalancha em 1998). Os dois tinham voltado a contactar dois anos antes, num evento de caridade. No dia seguinte, Sophie enviou um e-mail a Justin a sugerir um encontro. Ele não respondeu. "Sabia que o dia em que fosse tomar um café com ela seria o meu último dia de solteiro", confessou mais tarde.

Mas o destino quis que meses depois tropeçasse em Sophie na rua. Hoje, são pais de dois rapazes - Xavier e Hadrien - e de uma rapariga - Ella-Grace.

Na vida pessoal

Margaret Trudeau, que conheceu o pai de Justin quando tinha 18 anos, já ele era primeiro-ministro, garante que a família do filho "vai lidar muito melhor" com a fama do que ela. Nascida Margaret Sinclair, conheceu Pierre Trudeau, 30 anos mais velho e já ministro, no Tahiti. Margaret não o reconheceu, mas ele deixou-se seduzir pela jovem hippie. Apesar dos três filhos, o casamento dos Trudeau depressa se degradou, com Margaret a passar muito tempo em Nova Iorque, no Studio 54. Na sua autobiografia, a atriz, fotógrafa e apresentadora TV admite ter tido casos com o senador americano Ted Kennedy e com o ator Jack Nicholson. O divórcio tornou-se inevitável quando a primeira-dama preferiu ir a uma festa com os Rolling Stones (terá flirtado com Mick Jagger) a celebrar o aniversário de casamento.

Mas não se pense que Justin era um santo. O homem que quando chegou ao poder "andava pelo país e as mulheres iam suspirando atrás dele" - como contou à Reuters Cecil Foster, professor de Estudos Canadianos na Universidade de Buffalo - também terá tido casos com Barbra Streisand e Kim Cattrall.

Jovem, atlético, sorridente e sempre disponível para uma selfie ou uma dança, Justin parece ter beneficiado da trudeaumania que o pai gerou. Quanto ao desempenho como primeiro-ministro, teremos de esperar, mas já conseguiu tornar a política canadiana sexy.

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