Atirador de Chicago está acusado de sete crimes de assassinato em primeiro grau
O homem de 21 anos que abriu fogo no desfile do 4 de julho em Chicago, disfarçado com roupas femininas, está a contas com sete acusações de assassinato em primeiro grau, de acordo os procuradores americanos.
Robert Crimo foi preso na segunda-feira, horas após o ataque a uma multidão no Dia da Independência.
"Haverá mais acusações", afirma o procurador do estado de Lake County, Eric Rinehart. "Prevemos dezenas de acusações centradas em cada uma das vítimas", continua.
O porta-voz da polícia, Christopher Covelli, afirma que o número de mortos subiu para sete na terça-feira, depois de uma das vítimas ter falecido no hospital. Mais de 35 pessoas ficaram feridas.
Entre os mortos estavam Kevin McCarthy de 37 anos e a sua esposa, Irina de 35 anos, bem como os pais de um menino de dois anos que foi encontrado sozinho após o tiroteio, segundo a CBS News.
Covelli diz que nenhum motivo foi estabelecido para o ataque que obrigou os participantes do desfile a fugir em pânico para conseguirem salvar as suas vidas.
"Acreditamos que Crimo planeou este ataque durante várias semanas" e que agiu sozinho, afirma o procurador. "Não temos informações para sugerir neste momento, que foi motivado por questões raciais ou religiosas", acrescenta.
O procurador afirma que Crimo tem um histórico de problemas de saúde mental e comportamento ameaçador.
A policia foi chamada a casa do suspeito duas vezes em 2019: uma para investigar uma tentativa de suicídio e a outra porque um parente alegava que ele tinha ameaçado "matar todos" os membros da família.
A polícia apreendeu 16 facas, uma adaga e uma espada em casa de Robert Crimo que, segundo Crimo, usou uma escada de incêndio para aceder ao telhado de um prédio com vista para a rota do desfile e disparou mais de 70 tiros de uma arma semelhante a uma AR-15 - uma das várias armas que comprou legalmente.
"Crimo estava vestido com roupas femininas e os investigadores acreditam que só o fez para esconder as tatuagens faciais, a sua identidade e para o ajudar durante a fuga com outras pessoas que estavam a fugir do caos", afirma o procurador.
O procurador Christopher Covelli afirma que Crimo foi para a casa da mãe depois do tiroteio e levou o carro dela emprestado. Foi capturado cerca de oito horas depois, após uma breve perseguição. As autoridades estão agora a investigar publicações e vídeos online perturbadores feitos por Robert.
O tiroteio deixou a cidade em choque. "Nós ainda estamos a recuperar", disse a presidente da câmara Nancy Rotering ao programa Today da NBC. "Todos conhecemos alguém que tenha ficado afetado", acrescentou.
A autarca afirma que conhecia o suspeito, desde quando ele estava nos escuteiros. "Como é que alguém ficou tão mau, tão odioso, para ferir pessoas inocentes que literalmente estavam a ter um dia em família?"
Robert, cujo pai se candidatou a presidente da autarquia sem sucesso e é dono de uma loja em Highland Park chamada Bob's Pantry and Deli, era um músico amador que se autodenominava Awake the Rapper.
As partilhas online do jovem Robert Crimo, incluem conteúdo violento que aludia a armas e tiroteios. Um vídeo do YouTube publicado há oito meses mostrava desenhos de um atirador e pessoas a ser baleadas. "Eu tenho de fazer isto", diz uma voz em off num desses vídeos.
Robert, que tem a palavra "Awake" tatuada na sobrancelha, é visto com um chapéu do FBI em várias fotos e com uma bandeira de Trump.
Este é o mais recente tiroteio de uma onda de violência armada que assola os Estados Unidos, onde cerca de 40 000 mortes por ano são causadas por armas de fogo, de acordo com o Gun Violence Archive.
O debate que dividiu a população sobre o controlo de armas foi reaberto após dois massacres em maio que viram 10 negros mortos a tiro num supermercado de Nova Iorque, além de 19 crianças e dois professores mortos numa escola primária no Texas.
A vice-presidente Kamala Harris, que esteve em Chicago esta terça-feira para uma conferência do sindicato de professores do país, diz que o tiroteio no Texas foi um lembrete "dos riscos que as crianças e os educadores enfrentam todos os dias", e renovou um apelo ao Congresso para proibir armas.
Kamala Harris falou depois no local do tiroteio de Highland Park, afirmando que "a nação inteira deve entender que isto pode acontecer, em qualquer comunidade amante da paz".
Num outro tiroteio também nas comemoraçõe do 4 de julho, dois polícias ficaram feridos quando foram atacados durante um espetáculo de fogo de artifício em Filadélfia, disseram as autoridades.
Em Highland Park, Emily Prazak, que desfilou no desfile, descreveu o caos: "Nós ouvimos tiros mas pensámos que fosse o fogo de artifício", afirma.
Cassie Goldstein, outra sobrevivente do ataque, disse à imprensa local que viu a sua mãe morrer enquanto fugiam do tiroteio. "Comecei a correr com ela, estávamos uma ao lado da outra, e ele atirou no peito da minha mãe, percebi que estava morta", disse a jovem de 22 anos à NBC News. "Só lhe disse que a amava, mas não consegui parar porque ele ainda estava a disparar para todos os que estavam ao meu lado", explica.
Francisco Toledo, de 78 anos, cujo pai foi morto no tiroteio, disse à AFP que achava que o atirador foi "enganado por um espírito maligno". "Já me fizeram perguntas: o que faria se tivesse o atirador à sua frente? Apenas diria para se arrepender", afirma.
O presidente Joe Biden prometeu continuar a lutar contra "a epidemia de violência armada". Na semana passada, Biden assinou o primeiro projeto de lei federal significativo sobre segurança de armas em décadas, isto poucos dias depois do Supremo Tribunal decidir que os americanos têm o direito fundamental de andar com uma arma em público.