Ataque de Rio a adversários internos vai agitar Conselho Nacional?
O convite que Rui Rio fez, na semana passada, aos adversários internos para que saiam do partido poderá agitar o Conselho Nacional (CN) do PSD, que se reúne esta segunda-feira à noite, nas Caldas da Rainha. O DN apurou que entre os conselheiros que se preparam para se insurgir contra o presidente do partido está Virgínia Estorninho.
A militante histórica, que o DN tentou contactar sem sucesso, fez saber junto de outros companheiros de partido que tencionava ir à reunião para censurar o modo como Rio tem lidado com os opositores internos. Resta saber se haverá mais algum conselheiro nacional a abordar o tema, já que figuras mais próximas de Luís Montenegro ou os passistas consideram que este não é ainda o momento para abrir uma frente contra o presidente do partido no CN.
Mas durante a tarde, na TSF, Montenegro, que se perfilou como futuro candidato à liderança do PSD no último congresso, acusou Rio de "atitude provocatória" para ver "se alguém morde o isco". "Não tenho nenhum prazer, tenho mesmo desgosto, quando tenho de fazer uma critica ao meu partido e ao seu líder. Isto não pode significar silenciar erros que toda a gente vislumbra".
"Nunca nenhum líder do PSD foi capaz de dizer uma coisa destas", condenou. "Liderar não é isto. É ir à procura de apoio, é somar, é agregar, é motivar, é mobilizar e fazê-lo sobretudo quando as pessoas não estão em acordo à partida."
Rui Rio atacou publicamente os adversários internos duas vezes. Primeiro na festa do Pontal, em Querença, e depois com maior intensidade na passada sexta-feira, também na TSF. Na rádio, Rio atirou-se aos críticos e indicou-lhes a porta de saída. "O que é que não é bonito? Ficar dentro do PSD a destruir o próprio partido", frisou o líder. E lembrou o exemplo de Pedro Santana Lopes, para afirmar que "todos aqueles que discordam do ponto de vista estrutural" deviam "coerentemente sair".
O Conselho Nacional reúne, no entanto, para debater as alterações aos Estatutos do PSD, que não deverão ser votadas para permitir que as distritais discutam com mais profundidade as mudanças propostas. Se o CN assim o deliberar, a votação ficará adiada para novembro data da realização da próxima reunião do órgão máximo entre congressos.
Entre as propostas de mudança de Estatutos está a realização de uma convenção nacional entre congressos, a criação da figura do provedor do militante, exclusão dos militantes condenados por corrupção ou ainda o pagamento de quotas preferencialmente por débito direto para evitar o pagamento massificado de quotas. Para serem aprovadas, as propostas de alteração estatutária têm de ter uma aprovação de três quintos dos conselheiros nacionais.
Da ordem de trabalhos da reunião fazem também parte a aprovação do novo Regulamento Eleitoral do PSD e a apresentação e debate do documento estratégico para a política da Saúde, que ainda não foi tornado público.
Mas as propostas deste documento não são totalmente pacificas dentro partido, sobretudo por existir o receio de que sejam lidas como um ataque ao Serviço Nacional de Saúde. No jantar com os deputados do PSD, no final da sessão legislativa a 17 de julho, Rui Rio levantou a ponta do véu sobre o modelo que defende para a saúde. Nessa ocasião, o líder social-democrata defendeu que "o SNS tem de ser visto como uma conquista indiscutível da sociedade portuguesa", mas defendeu é preciso olhar para o sistema "sem complexos de ordem ideológica. "Temos o setor público, temos o setor privado e o setor social. O debate não é se é público ou privado, o debate é se podemos servir melhor as pessoas, como podemos cumprir a Constituição".
E acrescentou: "Não é importante para a sra. o sr. que está há seis ou sete meses à espera de ser operado se o serviço é público, privado ou social. O que ele quer é ter o seu problema resolvido. É como for mais eficiente e mais barato. Temos de mudar de paradigma em termos de gestão do SNS."
O líder do PS e primeiro-ministro aproveitou esta posição para acusar, na rentrée do PS, em Caminha, o PSD de querer privatizar o SNS. Ao que Rio respondeu na Festa do Pontal, entre críticas contundentes aos problemas no setor da saúde: "Sou social-democrata desde antes do 25 de Abril - não sou liberal nem socialista - e o que é que isto quer dizer? Que defendo a iniciativa privada, mas nunca rejeitarei a intervenção do Estado sempre que ela é necessária. E na saúde, o Estado tem de ser o primeiro protagonista, não só por imperativos constitucionais mas porque é o que acreditamos para a defesa do SNS".
É provável que esta noite o documento, que será distribuído aos conselheiros e que não será votado, gere alguma discussão. Ainda que a direção do PSD insista que se tratam de contributos para um debate mais amplo sobre o setor da saúde nacional.