Numa carta divulgada esta segunda-feira, que segundo o jornal Público é assinada por 35 associações e 271 personalidades, os signatários recordam a ida a dois programas da TVI (Você na TV e SOS 24), na passada sexta-feira, de Mário Machado, líder do movimento de extrema-direita Nova Ordem Social e condenado por crimes como discriminação racial, coação agravada, posse ilegal de arma e pelo envolvimento na morte de Alcino Monteiro..Mário Machado foi convidado no âmbito de uma rubrica do programa da TVI "Você na TV", que lançou nas redes sociais uma sondagem com a pergunta "Precisamos de um novo Salazar?".A missiva recorda que "numa mobilização oportunista, ou talvez ingénua, do principio da liberdade de expressão, alguns meios de comunicação social portugueses, como a TVI, têm vindo a dar voz a ideias -- legitimando-as e normalizando-as -, de figuras e organizações racistas e fascistas".."Mário Machado liderou durante muito tempo os 'Hammerskins Portugal' e foi condenado em 1997 pelo envolvimento nas agressões que resultaram na morte de Alcino Monteiro, jovem português negro. Voltou depois disso, a ser condenado por vários crimes, incluindo o de discriminação racial", recordam os signatários, sublinhando: "o contexto político internacional (...) mostra-nos como as democracias estão em perigo"..Lembram ainda que Machado lidera o movimento Nova Ordem Social, "que defende aberta e impunemente 'os portugueses primeiro', 'a reconquista da pátria e a expulsão dos invasores', o retorno do fascismo e o combate que chamam de 'islamização de Portugal'".."Um fascista convicto, um racista assumido e um apologista da violência teve tempo de antena numa estação de grande audiência para defender os supostos 'benefícios' do retorno do fascismo e convocar os telespetadores para a manifestação 'Salazar faz muita falta!', marcada para dia 01 de fevereiro", escrevem..Frisam que a TVI tem vindo a acolher opiniões de comentadores que "repetidamente divulgam abertamente ideias racistas e xenófobas" e que, "apesar das inúmeras queixas apresentadas ao longo dos anos às entidades competentes, o racismo e o fascismo têm passado, mais uma e outra vez, imunes aos nossos meios de comunicação social".."É inaceitável a amorfia e inação das autoridades responsáveis pela salvaguarda da democracia e não discriminação nos meios de comunicação social", dizem os signatários da carta, dirigida, entre outros, ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República, ao primeiro-ministro, à procuradora-geral da República e à provadora de Justiça..Além de exigiram uma tomada de posição dos órgãos de soberania, os autores da carta pedem também uma sanção das entidades competentes da TVI e de todos os órgãos de comunicação social, empresas e pessoas que têm contribuído para a propagação de atitudes e discursos racistas, fascistas, homofóbicos e sexistas..Exigem, igualmente, "uma estratégia política específica e proativa de combate a esta deriva racista e fascista nos média portugueses", fechando a carta com a frase "O racismo e fascismo não passarão!"..A ida de Mário Machado à TVI provocou várias queixas à Entidade para a Comunicação Social (ERC) e levou o Sindicato de Jornalistas a apresentar queixa não só ao regulador, mas também à Assembleia da República..Na sequência da polémica, o PCP pediu a audição urgente, no parlamento, do conselho regulador da ERC, recordando que, "enquanto órgão de soberania representativo da democracia portuguesa, não deve permanecer indiferente perante atentados aos valores democráticos e humanistas"..A TVI, através de um comunicado das direções de informação e de programas, justificou-se, afirmando estar comprometida com a emissão de "uma programação diversificada" e que "o debate entre diferentes correntes de opinião faz parte de uma sociedade democrática, plural e tolerante". Contudo, no fim de semana, o apresentador do "Você na TV" anunciou que a rubrica que originou a ida de Mário Machado ao programa tinha sido suspensa.