Associação de companhias aéreas pede fim de restrições na UE

Para Thomas Reynaert, diretor-geral da A4E, as restrições adotadas pelos Estados-membros nos últimos meses têm resultado numa "manta de retalhos de medidas nacionais".
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A Airlines for Europe (A4E), a maior associação de companhias aéreas na União Europeia (UE), defende o fim das restrições às viagens impostas pela covid-19 "o mais rapidamente possível" na Europa, criticando a "manta de retalhos" de medidas.

"Idealmente, livrarmo-nos das restrições às viagens assim que pudermos [já que] vemos que há mais imunidade, há um número crescente de pessoas vacinadas e, portanto, antes de mais nada, gostaríamos de nos livrar das restrições de viagem assim que pudermos", diz o diretor-geral da A4E, Thomas Reynaert, em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas.

Segundo o responsável desta que é a maior associação representativa das transportadoras na UE, representando 70% do tráfego aéreo europeu, as restrições adotadas pelos Estados-membros nos últimos meses, como a obrigação de utilização de máscaras ou de preenchimento de documentos de identificação do passageiro, a imposição de testagem ou quarentena e a apresentação de certificados de vacinação, entre outras, têm resultado numa "manta de retalhos de medidas nacionais".

"Enquanto em Bruxelas os Estados-membros tendem a concordar com as recomendações [das agências europeias e da Comissão], assim que chegam a casa adotam medidas nacionais diferentes e, por isso, pedimos também que, à medida que aliviam as restrições de viagem, o façam de uma forma harmonizada para que o passageiro compreenda onde viaja, que quando aterra num país a regra não é diferente", critica Thomas Reynaert.

"Portanto, penso que o nosso apelo à harmonização continua a ser uma prioridade", acrescenta.

Para o responsável, "é preciso garantir que as medidas são claras e consistentes", para assim, conseguir "recuperar a confiança" dos passageiros.

Dois anos após o início da pandemia de covid-19, "as pessoas querem realmente viajar", adianta Thomas Reynaert.

A posição do responsável surge numa altura em que muitos Estados-membros da UE - aos quais cabe decisões sobre as regras de saúde e as restrições de viagem relacionadas com a covid-19 - aliviam as regras, deixando por exemplo de impor máscaras até em espaços fechados ou de solicitar documentos como certificado de vacinação, enquanto outros países ainda mantêm algumas normas em vigor.

Até ao momento, 72,3% da população total na UE tem o esquema de vacinação anticovid-19 completo e 52,3% receberam uma dose adicional de reforço.

O setor da aviação foi precisamente um dos mais afetados pela pandemia, tendo as companhias aéreas membros pela A4E perdido cerca de 500 milhões de passageiros entre 2020-2021 em comparação com 2019 e despedido 150 mil funcionários.

As mais recentes previsões internacionais indicam que as companhias aéreas europeias não deverão apresentar lucros até 2023 ou 2024, na melhor das hipóteses.

Criada em 2016, a A4E tem como membros 16 companhias aéreas que operam na UE, como o grupo Air France-KLM, easyJet, grupo Lufthansa, Ryanair, TAP Air Portugal, TUI, entre outras, que no total transportam habitualmente mais de 720 milhões de passageiros por ano, operando mais de 3.000 aeronaves e gerando mais de 130 mil milhões de euros de volume de negócios anual.

A Airlines for Europe (A4E) diz que o setor está otimista relativamente ao próximo verão, mas admite incertezas pela "situação volátil" da Ucrânia e aumento da inflação, que afetam a procura.

"No início deste ano, o estado de espírito [do setor europeu] era relativamente otimista e, mesmo com a variante Ómicron [do SARS-CoV-2, que causa a covid-19], estávamos otimistas porque continuámos a ver que as pessoas queriam realmente viajar de novo e o mais depressa possível na Europa e, por isso, as reservas pareciam bastante boas para o verão, mas depois o senhor Putin decidiu invadir a Ucrânia", declara o diretor-geral da A4E, Thomas Reynaert, em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas.

Com o início da guerra, "tivemos uma ligeira descida nas marcações para o verão", mas entretanto "temos de admitir que temos sorte, porque as reservas para o verão estabilizaram e estamos de novo otimistas", acrescenta.

O responsável desta associação destaca que, de momento, as reservas para o verão "não parecem muito mal e, em todo o caso, serão sempre melhores do que em 2020", quando se registaram grandes quebras no número de passageiros devido à covid-19.

Antes do conflito, as previsões internacionais davam conta que o tráfego aéreo da UE conseguiria, este ano, chegar a dois terços do que era antes da pandemia, mas segundo Thomas Reynaert o panorama é "volátil neste momento, incluindo relativamente à confiança dos consumidores, ao aumento da inflação e ao custo de vida para as pessoas".

"Penso que há tantas incertezas em torno disto que as previsões para o verão são muito difíceis neste momento, [mas] a única coisa que podemos dizer é que, mesmo com a guerra em curso na Ucrânia, as pessoas na Europa ainda estão realmente ansiosas por viajar", sublinha o responsável.

Ainda assim, Thomas Reynaert admite que, "devido à inflação e aos preços elevados, as pessoas talvez viajem menos".

A inflação é, por estes dias, mais acentuada no que toca aos preços energéticos, tendo os preços dos combustíveis disparado nas últimas semanas e alcançado os níveis mais altos da última década devido aos receios de redução na oferta provocada pela invasão russa da Ucrânia.

Este aumento dos combustíveis pressiona também o setor da aviação, que ainda está a tentar recuperar das consequências da pandemia de covid-19, o que poderá resultar em bilhetes de avião mais caros.

O combustível representa até 35% dos custos operacionais das companhias aéreas.

As mais recentes previsões internacionais indicam que as transportadoras aéreas europeias não deverão apresentar lucros até 2023 ou 2024, na melhor das hipóteses.

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