As músicas da esfera celeste, segundo Daniel Hope

Um gosto antigo pela contemplação dos céus está na base de 'Spheres', novo disco do violinista Daniel Hope onde interpreta, entre outros, Glass, Pärt, Nyman, Fauré e Bach.
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Título: 'Spheres'

Artista: Daniel Hope

Editora: Deutsche Grammophon

Classificação: 5 / 5

Daniel Hope lembra entre as suas memórias de infância um interesse pelo espaço, confessando no booklet do seu novo disco que olhar os céus, de noite, era a única coisa que o cativava tanto como a música. Mais tarde, através do programa televisivo The Music of Man, de Yehudi Menuhin, descobre a figura de Carl Sagan. "Foi ele quem me abriu os olhos para a magnitude do universo e para a noção de música das esferas", explica o violinista em Spheres, justificando nesse encontro de há cerca de 30 anos a raiz da ideia que conduz o novo disco.

Ali procurou juntar "música e tempo", incluindo no alinhamento peças de compositores de épocas diferentes "que talvez não se encontrassem sempre numa mesma galáxia", mas que "estão unidos por uma questão antiga: há algo mais ali fora?"... É de uma profunda curiosidade pela esfera celeste que Shperes ganha agora forma. No texto em que apresenta o disco, Daniel Hope recorda episódios de semelhante interesse que encontramos em vários compositores. Como Haydn, que consultou o astrónomo William Hershel e espreitou as estrelas através de um telescópio antes de concluír a sua Criação. Ou Josef Strauss, cuja valsa Sphärenklänge "propôs uma visão romântica dos céus". Ou ainda Philip Glass - que homenageou Menhuin em Echorus -, eterno questionador das qualidades do som no limiar de um buraco negro.

Philip Glass (e muito concretamente com Echorus), é precisamente um dos nomes que Daniel Hope aborda no alinhamento de Spheres, onde, na companhia de elementos da Deutsches Kammerorchester Berlin e do Rundfunkchor Berlin, dirigidos por Simon Halsey, interpreta peças de outros compositores contemporâneos consagrados como Arvo Pärt ou Michael Nyman, talentos em franca ascensão no presente como Max Richter, Alex Baranowski ou Gabriel Prokofief (de alguns deles assegurando aqui estreias dessas obras em disco) e ainda figuras de outros tempos, de Gabriel Fauré ou von Westhoff a Johann Sebastian Bach. Entre ecos do século XVII e o presente, Spheres projeta através de 18 percursos, onde o violino é protagonista, uma viagem que tanto procura a harmonia astronómica de que falavam os homens de ciência de outrora como uma lógica atual que sabe que toda esta música surgiu e se faz soar sobre as mesmas estrelas.

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