Foi um popular apresentador de televisão, pré-candidato à presidência francesa e ministro da Transição Ecológica e Solidária sob a presidência de Emmanuel Macron. Na véspera da emissão de uma reportagem televisiva na qual é acusado de violação e agressões sexuais por cinco mulheres, Nicolas Hulot dirigiu-se a um canal de televisão e anunciou que deixará a "vida pública em definitivo". Uma afirmação que não dependerá apenas da sua vontade, mas da evolução das queixas na justiça..Nicolas Hulot, de 66 anos, vai deixar a presidência honorária da sua fundação e a vida pública, denunciando um "sistema que está a perder a razão", com "a justiça a passar para os estúdios de televisão", tendo feito o anúncio numa entrevista num canal de TV. "Não vou falar mais, é um preço demasiado pesado a pagar", acrescentou o antigo apresentador que negou ter cometido qualquer crime..Twittertwitter1463450803503517701.O seu avô inspirou o cineasta Jacques Tati a criar a famosa personagem Senhor Hulot; o pai foi um aventureiro que andou pela Venezuela à procura de ouro; Nicolas Hulot foi também popular no ecrã onde foi protagonista de programas de aventuras na natureza, depois de ter começado a trabalhar como fotojornalista..Em Ushuaïa, Hulot marcou uma geração de franceses com alguns feitos como esquiar descalço a reboque de um helicóptero ou praticar mergulho perto de lava. O programa ganhou um cunho cada vez mais ecologista e o apresentador e produtor criou uma fundação com o nome do programa de TV, mais tarde rebatizado Fundação Nicolas Hulot para a Natureza e o Homem. Os seus detratores dirão que o "Homem" é o próprio Hulot, que lançou uma lucrativa linha de produtos pouco ecológicos e até tóxicos, como a Greenpeace alertou em 2006..O ministro demissionário de Macron anda há anos a dizer que o mundo sofre da síndrome do Titanic.Nesse mesmo ano, Hulot - que já teria sido convidado anos antes por Jacques Chirac para integrar o governo - condiciona o discurso político ao exigir aos candidatos que subscrevam um pacto ecológico. No ano seguinte, como em 2016, volta a dizer não ao presidente em exercício, Nicolas Sarkozy e François Hollande, respetivamente..Pelo meio, em 2012, concorreu às primárias dos ecologistas, mas apesar de ser considerado o favorito, perdeu para Eva Joly. Disse então que pesou mais o preconceito de que era o "candidato das multinacionais" e não escondeu que votou no candidato da extrema-esquerda Jean-Luc Mélenchon. Nesse mesmo ano e até 2016 foi o enviado especial de Hollande para a proteção do planeta..Em 2017, por fim, quando as sondagens o davam como a pessoa mais popular em França, Hulot aceita ocupar um cargo ministerial, a convite de Emmanuel Macron. Sai 15 meses depois, revelando a sua demissão durante uma entrevista à rádio France Inter, surpreendendo o Eliseu..Hulot queixou-se de que o ambiente "não é uma prioridade do governo" e de que não se sentia apoiado. Uma das medidas que deixou foi a taxa de carbono, a qual desencadeou o aumento dos preços dos combustíveis e a onda de protestos sociais dos coletes amarelos. Mais tarde, o ambientalista defendeu a taxa, mas que esta teria de ser acompanhada por medidas de equidade fiscal..Durante a passagem pelo governo, Hulot foi confrontado com notícias de que dez anos antes teria sido alvo de uma queixa de violação, mas esta, que remontava a 1997, foi arquivada. Mais tarde soube-se que a queixosa era Pascale Mitterrand, neta do antigo presidente François Mitterrand. À data dos acontecimentos era uma fotojornalista de 19 anos que foi fotografar a nova casa de Hulot na Córsega..Em 2018 - como agora - o ecologista antecipou-se à publicação das notícias ao conceder uma entrevista à BFMTV e negar as acusações. Com a diferença de que há três anos recebeu a solidariedade do governo, através de um artigo de opinião da então secretária de Estado da Igualdade, Marlène Schiappa..cesar.avo@dn.pt