As estrelas-do-mar estão a morrer e a culpa será do aquecimento dos oceanos
Os sinais começaram há seis anos. Desde 2013, as estrelas-do-mar começaram a morrer aos milhões ao longo da costa do Oceano Pacífico, do México ao Alasca. A mortandade incluiu diferentes espécies, das cerca de 1800 que este animal marinho tem, como a estrela do sol da manhã, a estrela ocre muito colorida e a estrela de girassol, cujos membros podem atingir quatro metros.
A causa da morte é uma doença debilitante, que começa com lesões brancas nos membros, a posterior dissolução da carne em redor, até à perda de membros e à morte.
Logo após o início da epidemia, Drew Harvell, professora de ecologia e biologia evolutiva na Universidade de Cornell, que tinha já alertado para o problema, recebeu uma curiosa carta. "Recebi um cheque de 400 dólares de um grupo de estudantes de Arkansas", contou Harvell ao The New York Times. "Essas crianças ficaram tão perturbadas com a ideia de que a estrela-do-mar desaparecesse dos oceanos que fizeram uma recolha de fundos e arrecadaram 400 dólares para ajudar na nossa investigação."
Harvell juntou este dinheiro com investimento próprio e a verba de um doador para avançar com a pesquisa. "Foi o que financiou algumas das nossas primeiras pesquisas. Nenhuma das crianças tinha ido ao Oceano Pacífico, mas só queriam saber que aquelas estrelas continuavam lá", disse a professora.
Os resultados da investigação que lança alguma luz sobre o declínio das estrelas-do-mar foram publicados quarta-feira na revista Science Advances. O principal suspeito não surpreende - o aquecimento dos oceanos tem influência.
Zonas do Oceano Pacífico tornaram-se excecionalmente quentes como parte de uma onda de calor marinha mais ampla, apelidada de Blob, e que, muito provavelmente, foi impulsionada pelo aquecimento global causado pelo homem. Mas o aquecimento não aconteceu uniformemente, tornando difícil dizer se a onda de calor contribuiu diretamente para as mortes de estrelas-do-mar; porém, existe uma relação.
No estudo, Harvell e colegas usaram relatórios de cientistas e amostras do fundo do oceano recolhidas por organismos públicos americanos para comparar as mudanças na população de estrelas de girassol com as mudanças na temperatura dos oceanos durante o surto. Enquanto a doença afetou 20 espécies de estrelas-do-mar, os investigadores concentraram-se na estrela do girassol porque foi especialmente atingida e havia bons dados históricos sobre a sua população antes da epidemia. Descobriram que a morte da estrela do girassol combinava com o padrão de calor que se espalhava pelo oceano.
Em todos os lugares onde se registou aquecimento, as estrelas de girassol adoeceram e morreram. O estudo mostrou uma correlação entre as temperaturas mais altas e a propagação da doença, mas não uma causa direta. Mas corrobora uma hipótese que foi inicialmente lançada, já que o vírus também aparece em estrelas marinhas saudáveis. A temperatura terá sido assim um rastilho para a doença.