Falam todas em "entendimentos" ou "convergências", as formações políticas à direita do PS. As que já existem (o PSD e o CDS); as que já existem mas nunca foram a votos (o Aliança e a Iniciativa Liberal); e também as que não existem nem nunca foram a votos mas estão a tratar disso (o Democracia 21 e o Volt Portugal). Contudo, dar o passo até à formação de uma grande coligação pré-eleitoral para as próximas eleições legislativas (que o PR já marcou para 6 de outubro) é o passo que (quase) todos recusam. A exceção já se verá qual é..Neste fim de semana, Pedro Santana Lopes, líder do Aliança, sintetizou, numa entrevista DN/TSF, a posição que afinal é a de (quase) todos. Por um lado disse: "Entendo que, ainda mais existindo a frente de esquerda, para se construir uma alternativa é necessário criar um caminho de convergência [à direita do PS]." "Não falo em coligação pré-eleitoral, que nem é do interesse do Aliança, o Aliança quer ir a eleições medir a sua força.".No PSD é essa a posição há muito assumida por Rui Rio, nomeadamente face ao CDS. Em março de 2018, logo a seguir a um almoço com Assunção Cristas na sede do CDS, o então recém-eleito líder do PSD dizia que "cada um faz o seu caminho". Dias depois acrescentava que o PSD e o CDS são partidos "adversários". Porém, por terem um passado "em conjunto", não se podiam excluir entendimentos pós-eleitorais."Se depois for necessário uma coligação, cá estaremos", garantia Rio..A posição do líder do PSD não mudou desde então. Rio, aliás, é suspeito internamente - e no CDS - de ter colocado o PSD numa posição exatamente equidistante entre o PS e o CDS, afastando-o da viragem à direita levada a cabo por Passos Coelho (em que o partido só se entendeu com o CDS e nunca com o PS). Mas, como já se viu, à cautela nunca pôs os centristas fora da possibilidade de um entendimento permanente. Apenas sublinhou que isso, a acontecer, só será depois de eleições..No CDS, a posição é a mesma. Assunção Cristas não se tem cansado de a reafirmar, e até fez um congresso inteiro para isso, em março de 2018, a dizer que a sua meta eleitoral é ser primeira-ministra. "Devemos disputar as eleições europeias e as legislativas em listas próprias, com a profunda convicção de que assim estaremos a dar o nosso melhor contributo para Portugal ter uma alternativa às esquerdas unidas", escreveu na moção na base da qual foi reeleita líder do CDS..Ontem, reagindo à entrevista de Santana Lopes, Cristas reafirmaria que "a estratégia do CDS não se move um milímetro na procura de ter cada vez mais contribuições do lado do CDS para este número de 116 deputados [número que faz a maioria absoluta na AR] e também poder disputar uma primeira escolha". E "depois das eleições é preciso é que os partidos que se reveem numa alternativa de centro-direita possam fazer esse somatório"..Entretanto, há outras formações que vão fazendo o seu caminho, além do PSD, do CDS e do Aliança. Uma delas é a Iniciativa Liberal (IL), já formalmente constituída no Tribunal Constitucional..Falando ao DN, o seu porta-voz, Rodrigo Saraiva, esclareceu que o seu partido avançará com listas próprias para as legislativas, europeias e até para as eleições regionais da Madeira. Mas vai mais longe..Mesmo depois das eleições, a IL não perspetiva alinhar num entendimento permanente com ninguém, antes preferindo - caso consiga, evidentemente, eleger deputados - alinhamentos pontuais, conforme discorde ou concorde com os temas em cima da mesa. Será - diz Rodrigo Saraiva - "uma política de responsabilidade" e de respeito da IL pela sua própria identidade e programa eleitoral. E esses entendimentos até poderão ser à esquerda: a IL, por exemplo, estaria do lado do BE e do PAN a favor da legalização do comércio da canábis e contra as posições do PSD e do CDS (apesar de, nas políticas económicas, se sentir mais no centro-direita)..Quem também fala nesta política de entendimentos pontuais - por oposição a um entendimento permanente, como aquele que atualmente liga entre si os partidos da geringonça - é o Volt Portugal, uma formação de origem transeuropeia que ainda procura as (no mínimo 7500) assinaturas para se legalizar no Tribunal Constitucional..Democracia 21, a exceção.O seu presidente, Tiago Guilherme, jornalista, equiparou a política de alianças do Volt Portugal - um partido de "centro, centro, centro" - à "tática do PAN", que "ficou de fora da geringonça". Ou seja: nenhum entendimento pré-eleitoral com ninguém e nenhum entendimento permanente pós-eleitoral. Decisões caso a caso - além do mais, para haver uma decisão sobre uma aliança permanente, isso teria de ser previamente autorizado pela direção europeia do partido (o Volt é não só federalista na sua visão da UE como na sua própria organização)..Assim, à direita do PS, a única formação que verdadeiramente pensa diferente é a Democracia 21, uma associação que "em breve" se transformará em partido político - mas só tendo em vista as legislativas e não as europeias ou as regionais da Madeira - com um programa assumidamente liberal, "tanto na economia como nos costumes"..Sofia Afonso Ferreira, a principal dinamizadora da organização, diz que a Democracia 21 "não é de fechar portas" quanto a entendimentos com outros partidos. E não o é nem pré-eleitoralmente nem pós-eleitoralmente, embora o que preferisse mesmo era que essas alianças se fizessem antes das eleições, por achar que isso poderia ter um efeito "potenciador" da soma dos votos das várias formações..A visão de Sofia e do seu futuro partido revela-se, no entanto, francamente minoritária. À direita do PS não há quem abra a porta a alianças pré-eleitorais - como a que juntou o PSD e o CDS em 2015 - e mesmo em termos pós-eleitorais há quem os recuse se forem permanentes (a Iniciativa Liberal e o Volt Portugal).