A notícia da descoberta nas margens do Guadiana de cinco rochas com gravuras rupestres que os arqueólogos acreditam ser do Calcolítico tem poucos dias, mas à caixa de correio eletrónico do historiador Luís Lobato Faria - revelou o achado dos painéis, que devem ter 5 mil anos, ao mundo - têm chegado vários pedidos de turistas interessados em visitar o sítio..O também proprietário de uma empresa de animação turística no Alandroal, revelou que há um grande interesse pelos achados que estão nas margens do Guadiana, junto à Ponte da Ajuda, em Elvas. "O impacto foi imediato com várias pessoas a pedirem para as trazermos cá. É um setor que tem muito mercado por toda a parte", garantiu ao DN o historiador que também promove passeios culturais pela raia alentejana, mostrando-se otimista com o efeito que as gravuras com cerca de 5 mil anos - segundo o arqueólogo António Marinho Batista, um dos maiores especialistas na área - poderão representar nesta zona do Guadiana..Uma área que não foi protegida depois de se terem encontrado as gravuras que ilustram uma serpentiforme e onde atualmente pasta gado como consequência da seca severa alentejana. Aliás, foi devido ao recuo do rio que foi possível encontrar-se esta mostra de arte rupestre pois a ponte da Ajuda coincide com o limite da barragem de Alqueva, muito próximo da cota máxima da albufeira (152 metros)..Enquanto a Direção Regional de Cultura do Alentejo já fez saber que vai avançar com "um estudo e documentação gráfica e fotográfica" dos achados, admitindo que poderá estar em causa uma arte rupestre "inédita", o arqueólogo Manuel Calado, destaca que a "beleza" das gravuras explica o elevado interesse dos candidatos a visitantes..O investigador descobriu as primeiras gravuras rupestres identificadas no Guadiana na margem portuguesa, tendo integrado o levantamento realizado antes do enchimento de Alqueva no concelho do Alandroal. Assume que as figuras agora encontradas a cerca de 500 metros da Ermida de Nossa Senhora da Ajuda "são de primeira grandeza ao nível a pré-história nacional", destacando que além da arte que exibem são a "memória dos antepassados da escrita"..A gravura que chama todas as atenções ilustra uma serpentiforme, com Manuel Calado a alertar que pode não traduzir só uma serpente, até porque não tem cabeça. Recorda que este animal teve alguma importância entre os povos primitivos, mas a gravura de que se fala deverá representar antes o serpentear do rio, de uma estrada ou a linha do horizonte. "Os símbolos que gravaram não eram aleatórios, tinham um número bastante limitado, mas com significado", diz, admitindo que a serpentiforme dava "bastante trabalho" a desenhar..Na rocha em frente, embora menos visível, surge outro serpenteado, existindo também figuras humanas através de picotados, enquanto mais abaixo um conjunto de pequenas covas escavadas no xisto parecem indicar um tabuleiro do ancestral jogo do alquerque, tendo sido já encontrados no concelho de Alandroal mais de 50 tabuleiros semelhantes, das épocas medieval, romana a da idade do ferro.."Estas gravuras de grande beleza estão relacionadas com os dolmens e menires que existem em Monsaraz", alerta Luís Lobato Faria, destacando que no "menir da Bulhoa", nesta freguesia de Reguengos, também são visíveis serpentiformes semelhantes às agora encontradas na Ajuda. "Cientificamente isto é interessante para se fazer o estudo da nossa identidade cultural e potencia o turismo", refere, sugerindo que perante a quantidade de sítios arqueológicos nas margens do Guadiana e da procura que começa a existir a região deveria começar a apostar na neste "turismo sustentável que dura o ano todo"..A descoberta das gravuras na zona da Ajuda foi feita por Joaquin Larios Cuello, um antigo militar espanhol residente em Badajoz, que se tem dedicado a "olhar as pedras" na raia portuguesa, como diz ao DN, encorajado pelo amigo Lobato Faria. "Tenho procurado arte rupestre associada aos dólmenes da região, como são as gravuras serpentiformes", revela, congratulando-se com a sua sorte a partir do momento em que deixou de procurar tão próximo da margem do rio, aproveitando a seca para fazer uma prospeção mais distante do leito..Segundo Manuel Calado, estas gravuras não foram identificadas aquando do levantamento realizado entre 2001 e 2002, nas margens do Guadiana, antes do enchimento de Alqueva, porque a Ajuda não foi considerada zona prioritária de prospeção. Há muita arte rupestre documentada a sul do rio (entre Alandroal e Reguengos, por exemplo), mas admite-se que os painéis na franja perto de Elvas pudessem estar cobertos.."Nesses anos estávamos numa operação de emergência de salvamento e o que interessava era registar aquelas que iam deixar de estar acessíveis. Sobre as da Ajuda nunca se presumiu isso, porque sabíamos que em anos de seca iriam estar todas disponíveis", sublinha. Aliás, acrescenta, mesmo nos anos em que a albufeira atinja a cota máxima é possível que algumas gravuras não estejam submersas.