Arguido disposto a falar mas não no tribunal
Paulo Gomes falou à entrada do tribunal de Lousada antes do início da sessão, reiterando que Afonso Dias, único arguido deste caso, não falará até ao final, apesar dos pedidos dos pais de Rui Pedro, mas está disponível para falar "em outra sede, quando não seja arguido", afirmou. "Já dei nota disso ao doutor Ricardo Sá Fernandes", acrescentou, referindo-se ao advogado de defesa da família de Rui Pedro.
A mãe de Rui Pedro, Filomena Teixeira, voltou a pedir ao arguido que fizesse um depoimento. "Que ele refletisse um pouco e ainda falasse".
Em causa neste julgamento está o alegado envolvimento de Afonso Dias no desaparecimento de Rui Pedro. A acusação, que se baseou numa investigação da Polícia Judiciária (PJ), sustenta que o único arguido do processo seduziu e levou o menor de 11 anos para um encontro com uma prostituta, em Lustosa, após o qual Rui Pedro nunca mais foi visto.
Em vários momentos do julgamento, o advogado dos pais do menor, que se constituíram assistentes, afirmou que o grande objetivo da família era que o arguido, através das suas declarações, pudesse ajudar o tribunal a determinar o que aconteceu ao Rui Pedro. Contudo, Afonso Dias, acusado da prática de um crime de rapto qualificado, sempre se remeteu ao silêncio, seguindo a estratégia de defesa do seu advogado.
Ricardo Sá Fernandes afirmou que o seu "combate não terminará" enquanto não se souber o que aconteceu no dia 4 de março de 1998. "Queremos saber o que aconteceu. Nós não vamos cessar a luta pela descoberta de Rui Pedro com o final deste julgamento", afirmou o causídico.
No final da última sessão destinada à produção de prova, a mãe de Rui Pedro disse estar mais convencida que Afonso Dias esteve envolvido no desaparecimento do menor. Filomena Dias não disfarçou aos jornalistas o seu desapontamento por o arguido não ter falado em audiência.
Por seu turno, o advogado de defesa, Paulo Gomes, projetando as alegações finais, disse aos jornalistas que as "contradições da prova" produzida em julgamento "serão difíceis de sanar".
"Acho que a globalidade da prova enferma em si contradições que serão difíceis de sanar. Essa é a interpretação que eu faço", afirmou.
Nas sessões de julgamento foram ouvidas algumas dezenas de testemunhas, nomeadamente inspetores da PJ das três brigadas que trabalharam na investigação e antigos colegas de Rui Pedro que alegam terem visto o menor entrar no carro do arguido no dia do desaparecimento.
O tribunal também ouviu a prostituta Alcina Dias dizer que foi Afonso Dias que esteve com ela no dia do desaparecimento, acompanhado de Rui Pedro.