Aprender e antecipar

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Desta vez, não levou 24 horas a desfazer-se o "erro". Perante a inesperada decisão de fechar fronteiras a quem não exibisse teste negativo ou certificado de vacinação - agora declarada precipitação voluntarista da Direção-Geral de Saúde espanhola -, o governo português ameaçou retaliar com mão pesada. Arrependidos da resignação que mostraram face aos desígnios britânicos, os nossos governantes foram agora inflexíveis: "Se Madrid insistir, faremos o mesmo aos deles", ameaçaram.

Resultou. A velha tática do "olho por olho" encostou os espanhóis à parede e obrigou Sánchez a recuar e a pedir desculpa aos portugueses. Sobretudo, imagina-se, aos amigos que deste lado outrora tão bem o aconselharam sobre como governar em geringonça. E que não têm culpa da ambição que levou o líder do governo espanhol a dar um passo além no conceito, acabando por meter-se nos apuros que conhecemos - e ao Podemos com ele. Como agora se precipitou sobre a fronteira tomando-a por filtro de veraneantes e esquecendo que há toda uma economia raiana a considerar - e que vota.

Voltando a este lado da fronteira, também as forças de segurança mudaram de estratégia. Conscientes do descontrolo das últimas celebrações populares e escaldadas com as acusações que sobre elas recaíram, desta vez decidiram antecipar o problema. Em vez de esperar que se diga que "correu tudo bem" mas se alguma coisa falhou - como mesas e cadeiras e caixotes do lixo arremessados - será sua responsabilidade, avisam já que não vão tolerar ajuntamentos durante as festas populares. E ameaçam até vedar o acesso aos bairros históricos de Lisboa. A tal antecipação não prescrita no futebol, nacional ou estrangeiro. Veremos em breve se prevenir chegou para não ter de remediar - o que não é nada desejável em ano de autárquicas.

E já que falamos em prevenção, não se pode deixar de elogiar quem é tão frequentemente acusado de planear pouco e sem a antecedência que se exige a temas sérios. Apesar de todas as decisões estratégicas, difíceis e pouco consensuais que tem de tomar semanalmente, o Conselho de Ministros conseguiu encontrar tempo, entre problemas estruturais, pandemia e a grave crise financeira e social que o país atravessa, para aprovar já a criação de uma estrutura de missão para as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. Não estão em causa a competência e adequação dos escolhidos para a estrutura. O que é notável é que em tempos tão complicados tenha havido capacidade para pensar em algo que só acontece daqui a três anos. Desta vez, houve antecipação à séria.

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