Apanhei FOLIO
Prazer puro. O leitmotiv para o meu regresso a Óbidos. O maior festival literário do país deixou a vila histórica em condizente ebulição e quero respirar este ar compósito de livros, exposições, tertúlias, concertos, sessões de cinema, encontros imediatos de primeiro grau.
No Welcome Desk são mais amáveis que carmelitas preparando o pequeno-almoço de Sua Divindade Papa Chico e, súbito, já estou em amena cavaqueira com José Manuel Diogo, Rute e um irmão de Vera Cruz, de sua graça Álvaro. Um tempo de pausa, imperiais na mesa duma esplanada e siga gravar uma conversa espontânea. Tema: E humor no FOLIO?
Como indivíduo que desaponta a própria família desde que saiu da Faculdade de Direito com o canudo e jamais regressou (sendo que a única vez que pisei um tribunal foi na condição de arguido), tenho as minhas semi-alarvidades de Peter Pan adiado para confessar: a literatura portuguesa é - alarme de cliché a caminho - riquíssima... mas falta-lhe autoironia. A comédia quando surge é quase sempre involuntária. "E então tu apontaste a tua espingarda de carne, e deste-me um tiro" - escreveu em pleno romance, com a sua personagem feminina em discurso direto - uma das nossas mais prestigiadas autoras. Há solenidade a mais e esquecimento da morte a menos. O humor ajuda: é terapêutico, não tem lactose e é gluten free. Com mais um copo já me imagino para o ano a intermediar fadistas hilariantes e comediantes depressivos (que los hay, que los hay), organizando maratonas de Mark Twain, Woody Allen e das Farpas entre Ramalho e Eça. Volto a casa, veículo intacto, e desabafo ao telefone com um amigo: foi maravilhoso, regresso no fim de semana. Resposta pronta: "Vou contigo. Também quero apanhar FOLIO."
* argumentista e comediante