António Costa. "Isto não anda em piloto automático"
António Costa avisou hoje que a estratégia do Governo "não anda em piloto automático, é preciso alguém que saiba conduzir" e apelou ao partido que não entre na "agenda da bolha político-mediática" que se "entusiasma imenso com casos e casinhos".
Os socialistas reúnem-se este sábado a Comissão Nacional, uma semana depois do congresso que entronizou Luís Montenegro na presidência do PSD, e se António Costa dedicou parte significativa de um longo discurso de cerca de 40 minutos à questão da descentralização e da regionalização, também não faltaram os avisos para dentro do partido. Com a reunião a decorrer em Aveiro, e o ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos (que é natural do distrito), sentado na primeira fila, António Costa defendeu que o PS deve concentrar-se nos problemas dos portugueses, definir a estratégia a seguir e ignorar a bolha mediática.
"Durante a execução da estratégia surgem surpresas e há incertezas? Com certeza que sim", disse o secretário-geral socialista e primeiro-ministro, antes de acrescentar que é por isso que "isto não anda em piloto automático, é preciso alguém que saiba conduzir". Palavras que surgem pouco mais de uma semana depois da polémica no Governo em torno do novo aeroporto de Lisboa, com o líder do Executivo a mandar revogar o despacho do ministério das Infraestruturas que definia a nova solução aeroportuária para a capital.
Para António Costa, o "PS não pode deixar de fazer aquilo que tem sabido fazer tão bem que é ignorar a bolha político-mediática e concentrar-se naquilo que interessa aos portugueses". "Deixemos a oposição andar numa luta para saber quem é que é mais à direita, mais contra o Costa, mais contra o PS. Estejam entretidíssimos nesse campeonato, moções de censura, interpelações. Estejam entretidíssimos com coisas fantasiosas", afirmou o secretário-geral socialista.
Numa altura em que o Governo completa cem dias, num contexto internacional marcado pela guerra na Ucrânia, e internamente a braços com a crise no Serviço Nacional de Saúde, António Costa centrou atenções na descentralização e regionalização.. Recorde-se que, no congresso do passado fim de semana, o novo líder social-democrata, Luís Montenegro, recusou um referendo à regionalização em 2024 (como pretende o PS) e, dias depois, alargou essa oposição a toda a legislatura, até 2026.
O líder socialista admite rever a data da consulta popular. "Ninguém sabe verdadeiramente qual será a situação internacional em 2024, todos vamos avaliar se será ou não oportuno. Mas que não seja por uma questão de oportunidade temporal que não se deixa de fazer o que tem de ser feito. O que não podemos é ter medo de ouvir os portugueses", afirmou o primeiro-ministro, que puxou da ironia para dizer que "compreende" a posição do PSD - "Nos últimos anos, cada vez que os portugueses foram ouvidos só disseram coisas que o PSD não gostou que os portugueses tivessem dito".
No discurso de abertura da Comissão Nacional, António Costa disse ainda que o Governo está "a centímetros" de fechar um acordo com os municípios sobre a descentralização.