António Costa. "Eunice, muito obrigado por tudo o que fez pelo teatro e pela cultura portuguesa"
O primeiro-ministro considerou esta sexta-feira que a atriz Eunice Muñoz marcou de forma definitiva o teatro português, salientando a sua constante comunhão com o público e a sua permanente renovação e reinvenção que conquistou gerações sucessivas.
Eunice Muñoz morreu hoje, no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, aos 93 anos, disse à agência Lusa o filho da atriz.
Nascida na Amareleja, no distrito de Beja, em 1928, Eunice Muñoz completou em novembro 80 anos de carreira.
"Eunice Muñoz marcou de forma definitiva o teatro português, trabalhando com os mais importantes encenadores e companhias, sem nunca deixar de se renovar, de se reinventar, de conquistar gerações sucessivas", escreveu António Costa, numa mensagem que publicou na sua conta na rede social Twitter.
Na mesma mensagem, o primeiro-ministro assinalou que a comunhão de Eunice Muñoz com o público "foi uma constante ao longo da sua carreira, crente de que o teatro só faz sentido se for feito em função dos outros".
"Eunice, muito obrigado por tudo o que fez pelo teatro e pela cultura portuguesa", acrescentou António Costa.
O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, destacou a relação próxima e íntima dos portugueses com a atriz Eunice Muñoz e o "enorme aplauso" que recebeu em vida e será mantido, lamentando com consternação a sua morte.
"Neste momento devemos-lhe o mesmo aplauso que sempre lhe oferecemos, um aplauso de certa forma eterno", declarou o ministro à Lusa.
"Foi um privilégio para Portugal e para os portugueses ter uma atriz como Eunice Muñoz. Tinha um talento quase natural e um dom único para a representação e, por isso mesmo, para nós todos, a vida da Eunice Muñoz confunde-se com os palcos e com o teatro, é uma espécie de relação íntima que todos fomos desenvolvendo com a mulher doce e afável", disse o governante.
Pedro Adão e Silva destacou o facto de, para os portugueses, Eunice Muñoz ser "uma verdadeira senhora do teatro" e considerou como um facto poder-se reconhecer neste momento que, "felizmente, todo o país, de formas distintas", soube reconhecer a atriz em vida.
O ministro destacou também a carreira longa e de enorme proximidade e de intimidade da atriz: "É como se todos a conhecessem e talvez essa seja também uma marca distintiva. Não é só o dom que tinha de facto e o talento como atriz, é também essa proximidade e essa intimidade".
Essa intimidade, explicou o governante, tem a ver com o facto de a carreira ter sido "muito longa e muito versátil", com grande presença nos palcos e também na televisão, criando uma relação próxima com os portugueses.
"Era como se todos a conhecessem. E é também isso que lhe deu sempre um enorme aplauso em vida e que neste momento cria também esta consternação e a continuação desse aplauso", concluiu o ministro da Cultura.
O presidente do PSD, Rui Rio, enalteceu e considerou a atriz Eunice Muñoz como "um dos principais símbolos do teatro português".
"A minha homenagem a um dos principais símbolos do teatro português e uma mulher que eu muito admirava e cuja memória para sempre guardarei com o mais genuíno respeito", escreveu o social-democrata, na rede social Twitter.
Rui Rio deixou ainda um agradecimento à atriz "pelo exemplo de vida" que a todos deixa.
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, expressou "sentida homenagem" a Eunice Muñoz numa nota de pesar enviada às redações.
"Como presidente da Câmara Municipal de Lisboa, representando o sentimento comum a todos os lisboetas, e a título pessoal, quero prestar sentida homenagem a Eunice Muñoz, uma excecional atriz a quem todos muito devemos", referiu Carlos Moedas.
Para o autarca, "nos 80 anos da sua longa vida dedicados à representação, Eunice Muñoz foi a expressão de como um talento prodigioso pode estar aliado à maior simplicidade como ser humano numa dádiva constante ao teatro e à cultura portuguesa".
A Câmara Municipal de Oeiras informou que decretou três dias de luto municipal pela morte da atriz, "como forma de expressar o reconhecimento ao inquestionável contributo que deu ao concelho e ao país".
Um "ícone do Teatro, Cinema e Televisão em Portugal", Eunice Muñoz "viveu sempre em Oeiras", tendo dado, há 25 anos, o seu nome ao auditório municipal de Oeiras, o Auditório Municipal Eunice Muñoz, refere a autarquia, em comunicado.
"A atriz subiu ao palco deste auditório, em 2021, para celebrar 80 anos de carreira, com a peça "A Margem do Tempo", onde foi condecorada com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant"Iago da Espada, pelo Presidente da República", recorda Cãmara Municipal de Oeiras, presidida por Isaltino Morais.
A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) afirmou que Eunice Muñoz foi uma atriz "extraordinária e inigualável" com uma carreira "absolutamente brilhante", desejando que o seu trabalho seja "lembrado e vivido".
"Queria transmitir os meus sentimentos à família e amigos de Eunice Muñoz que foi uma atriz extraordinária e inigualável com uma carreira absolutamente brilhante e que se foi reinventando ao longo de 80 anos", afirmou Catarina Martins aos jornalistas, à margem da apresentação do programa do Desobedoc 2022 -- Mostra de Cinema Insubmisso, no Porto.
Filha e neta de atores de teatro e de artistas de circo, ao longo da carreira Eunice Muñoz entrou em perto de duas centenas de peças, trabalhou com cerca de uma centena de companhias, segundo a base de dados do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e, no cinema e na televisão, o seu nome está associado a mais de oito dezenas de produções de ficção, entre filmes, telenovelas e programas de comédia.
Em abril do ano passado, Eunice Muñoz foi condecorada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, cerca de três anos depois de ter recebido a Grã-Cruz da Ordem de Mérito.
Ao longo de 2021, contracenou com a neta Lídia Muñoz, na peça "A margem do tempo", em diferentes palcos do país, numa digressão que culminou no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, em 28 de novembro, exatamente 80 anos após a sua estreia.
No final da sessão, a que assistiram o primeiro-ministro, António Costa, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e a ministra da Cultura, Graça Fonseca, foi prestada uma homenagem à atriz.
"Este teatro foi a minha casa durante muito anos, fui feliz no palco, em tudo o que cá fiz", afirmou então Eunice Muñoz, no final da sessão.
"Agradeço sobretudo a vocês, ao público, que me acarinhou, que me aplaudiu desde que comecei, até agora que comemoro os meus 80 anos de carreira", salientou.
"O teatro precisa de nós, de nós no palco e de vocês que recebem o melhor que temos para dar", acrescentou ainda Eunice Muñoz, concluindo que, "apesar dos dias estranhos e difíceis, o belo continua a existir".
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