Antigo juiz do Supremo dos EUA passou última semana de vida em Lisboa

John Paul Stevens participou em conferências, visitou museus, vinhas e castelos em Portugal, na sua "última semana de vida", revelou a juíza Ruth Bather Ginsburg, que o acompanhou nesta viagem.
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"Talvez ele soubesse que, aos 99 anos, as viagens longas eram um risco, mas ele queria experimentar plenamente as alegrias de estar vivo e fez isso até ao fim". As palavras são da juíza Ruth Bather Ginsburg sobre a viagem que fez a Lisboa com o antigo colega do Supremo Tribunal dos EUA, John Paul Stevens, que morreu na terça-feira, aos 99 anos, em Fort Lauderdale, Florida, após sofrer um derrame cerebral.

"Na última semana da sua vida", Stevens e a juíza estiveram em conferências, visitaram museus, vinhas e castelos, revelou Ruth Bather Ginsburg, de 86 anos, no funeral do antigo juiz do Supremo Tribunal dos EUA, escreve a CNN.

Os dois fizeram-se acompanhar pela também juíza Sonia Sotomayor, numa viagem promovida pela Universidade de Nova Iorque, que decorreu entre os dias 8 e 12 de julho. Stevens morreu na noite de 16 de julho.

Ginsburg confidenciou que na última noite em Portugal, depois de terem estado na residência do embaixador norte-americano em Lisboa, manifestou um desejo em conversa com Stevens. "O meu sonho é permanecer no Supremo tanto tempo como você", disse ao juiz aposentado, que não hesitou na resposta: "fique mais tempo".

O embaixador dos Estados Unidos em Portugal, George Glass, manifestou na rede social Facebook "as mais profundas condolências à família" do antigo juiz e recordou a sua passagem por Lisboa. "Tive a imensa honra de receber o ex-juiz Stevens na semana passada para jantar em Lisboa e fiquei impressionado com a sua simpatia e inteligência", escreveu o diplomata a 17 de julho.

Juiz do Supremo Tribunal dos EUA durante 35 anos, John Paul Stevens foi nomeado pelo Partido Republicano, tendo-se destacado por defender a liberdade e a dignidade individual. Recentemente surpreendeu ao manifestar-se contra a confirmação do juiz Brett Kavanaugh, sobre quem pendiam suspeitas de agressões sexuais.

"Memória incrível" e mente "vibrante"

A viagem a Lisboa foi uma das muitas que Ruth Bather Ginsburg fez com John Paul Stevens. Das muitas conversas que teve com o antigo juiz nessas mesmas viagens destaca a sua "memória incrível" e mente "vibrante".

Recordou ainda que na conferência em que ambos participaram em Lisboa, o antigo juiz, tal como acontecia no Supremo Tribunal dos EUA, não falou muito. "Mas sempre que falava, as suas palavras sábias, espirituosas e admiravelmente concisas chamavam a atenção de todos", lembrou Ruth Bather Ginsburg no funeral de Stevens, no qual esteve presente o presidente dos EUA, Donald Trump.

Ao longo dos anos, destacam-se as posições assumidas para limitar a pena de morte, para silenciar as orações instituídas nas escolas, para garantir direitos dos homossexuais, para promover a igualdade racial e preservar a legalidade do aborto.

Stevens, que foi nomeado pelo presidente Gerald Ford em 1975 e que se reformou em 2010, ficou ainda conhecido por proteger os direitos de suspeitos de crimes e imigrantes ilegais que enfrentavam a deportação.

Serviu na Marinha dos Estados Unidos de 1942 a 1945 e foi premiado com a Estrela de Bronze.

O antigo juiz influenciou os seus colegas para se conferir o direito a suspeitos de terrorismo - prisioneiros na base naval de Guantánamo - de solicitarem a sua libertação em tribunais norte-americanos.

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